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LEISHMANIOSE EM GATOS SAI DA CATEGORIA DE MITO E É REALIDADE PREOCUPANTE

Por Equipe Cães&Gatos
leishgato
Por Equipe Cães&Gatos

Luma Bonvino, de Sorocaba (SP)

luma@ciasullieditores.com.br

De um lado, um tema falado com insistência há mais de 50 anos, com a mesma “sentença”. Do outro, um pet esquecido que hoje é protagonista nas discussões de sanidade e nutrição. O que essas duas faces da moeda têm em comum? A negligência compartilhada. A Leishmaniose, apesar de ser assunto recorrente de eventos e publicações, continua como uma zoonose preocupante que, quando não recebida com devida atenção, fere gravemente os princípios de saúde única. E, se antes já era tema de conflito nos consultórios veterinários com enfoque em cães, mais um ponto é adicionado: os gatos. Eles podem ser infectados, transmitir e impactar esse cenário de controle. O que na verdade já vem acontecendo, mas passando despercebido aos olhos do desconhecimento.

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“São várias doenças que passam a ganhar umnovo diagnóstico”, declara Maria Alessandra,conhecida no mercado como Malé (Foto: CG VF)

Conforme explica Maria Alessandra Del Barrio, desde 1953 se é recomendada a eutanásia em paciente com Leishmaniose. Nesse contexto, no entanto, lê-se cães. No universo felino não se foi desenhado protocolo ou vacina. “Anteriormente, o gato era considerado resistente à infecção. Mas, a literatura que embasava esse tipo de informação era pobre. Para se ter ideia, temos trabalhos relevantes em 1912, outro 1994. Isso, mesmo tendo início há algum tempo, foi se perdendo ao longo dos anos”, comenta.

Esse esquecimento, segundo a profissional, envolve a relação de tudo, especialmente a saúde zoonótica, área em que acredita que o médico-veterinário precisa ter entendimento maior, já que é uma fatia de sua atuação. Entretanto, reconhece que o sistema se rege por decretos e leis muito antigos, já que no momento em que a saúde de uma forma geral fica negligenciada, as doenças transmitas por vetores e correlacionadas com animais são mais ainda. “Isso gera um desconhecimento muito grande, ao mesmo tempo em que estudamos trabalhos de outros continentes, de realidades completamente diferentes, por isso que é preciso valorizar Vitor Márcio Ribeiro, Paulo Tabanez, Mary Marcondes, Dantas Torres, pessoas que trabalham com nossa Leishmaniose, com informações reais”, inicia sobre o problema da falta de relacionamento entre o tema e os profissionais atuantes, completando: “O médico-veterinário está começando agora ir atrás dessa informação e as empresas estão impondo isso a ele”. Com relação ao gato, para ela, agora ele torna-se objeto de estudo no Brasil, por ter sido negligenciado como animal de estimação em muito tempo.

E, como o chavão cinematográfico, para os veterinários “o perigo mora ao lado”. Enquanto estavam as sombras, os gatos estavam e ainda carregam um fator de risco que é maior, se comparado aos cães. Conforme elenca Malé, quando juntos, os felinos marcam território, com micção e defecação, o que torna perigoso quando há mais de um animal na residência, com a soma de matéria orgânica. “Acumulo de animais propiciam o imã para o flebótomo. Além disso, quando livres, gatos saem a noite e são caçadores. A presa, ratos, são os preferidos do flebótomo, ou seja, ele vai ao encontro do problema”, orienta a veterinária reforçando que o gato que tem acesso à rua faz dele um amplificador da Leishmaniose.

Mas, agora com devido destaque dos profissionais e clínicas, a tarefa ficou simples. Correto?! Puro engano. Apesar de se poder afirmar que o corpo fala, os felinos ainda têm um sistema imunológico desconhecido e os sintomas apresentados – isso é, quando aparecem, já que grande parte fica assintomático por tempos –, comuns a outras doenças, estão ligados a diagnósticos equivocados, o que agrava o problema da Leishmaniose. “O sistema imunológico do gato será mais difícil de compreender, por isso acredito ser a primeira importância desvendar o comportamento, como tirar ele do risco onde ele mesmo se coloca”, frisa Malé.

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Entendimento completo da zoonose é imprescindívelao veterinário (Foto: CG VF)

De acordo com a veterinária doutoranda em Clínica Médica, um dos únicos sintomas pode se dar na dermatologia: “Lesões cutâneas em casos post-mortem sempre aparecem”, destaca e acrescenta que lesões de pele têm regra e se têm, precisa ser cumprida, ou seja, procedimentos de raspagem, citologia e biópsia devem ser obedecidos. Além das aparições dermatológicas, em 80% dos casos, as oftalmológicas se encontram em segundo lugar, com 30%. “Principalmente lesões de granulomatose, panoftalmite, blefarite, conjuntivite e uveíte”, elenca e enfatiza: “São várias doenças que passam a ganhar um novo diagnóstico”.

Porém, mesmo que identificado o problema, o tratamento é extremamente complicado. Não por proibição, uma vez que na portaria interministerial nº 1426 proibi-se o tratamento da leishmaniose visceral em cães – exclusivamente citado. Mas, a droga mais utilizada internacionalmente, antimoniato de meglumina, não tem liberação no Brasil. Desse modo alopurimol é o recurso do veterinário com algumas associações.

Em todos os casos, devido tamanha dificuldade em lidar com a doença, a prevenção segue como ponto de urgência. “O Veterinário brasileiro deve criar consciência que o jeitinho não existe, é ele quem faz a conscientização de tutor”, pontua Malé. “O proprietário vê que o animal fica ansioso para sair. Mas, quando ele ‘atende’, o coloca em risco de muita coisa do lado de fora: atropelamento, maus-tratos, envenenamento, além de uma série de doenças infecciosas e parasitárias, e a maior parte incurável e com fatalidade em algum momento. É preciso transformar essa cultura que o brasileiro ainda tem de deixar o gato solto, mas para mudar e ter o animal feliz dentro de casa é preciso organizar situações domésticas para não desenvolver o stress. Isso é mais urgente: modular o comportamento e a atitude de interação do gato no meio social e, com isso, prevenir os felinos. Uma soma de educação e saúde”, dispara.

Entretanto, assim como sinaliza a solução, também grifa a problemática: “Não acredito que os médicos-veterinários estão preparados para tamanha incidência. As pessoas ‘ouvem de orelha’ e montam quebra-cabeça próprio da Leishmaniose e corre-se o risco, mascarando doenças graves, não chegando na raiz do problema”, diz.

Assim, não há muitos atalhos, o caminho é um só: busca contínua por conhecimento. “Existem muitas literaturas internacionais que não condizem com nossa realidade. Até dentro do Brasil, há muitas diferenças em tratar em plano nacional, por isso acredito ser a regionalização de pesquisas o futuro”, encerra.