Cláudia Guimarães, da redação
claudia@ciasullieditores.com.br
Embora não seja muito conhecido, animais podem apresentar hipersensibilidade a carboidratos (Foto: reprodução)
Grande parte dos cães e gatos apresenta hipersensibilidade alimentar que, muitas vezes, não é diagnosticada ou sub-diagnosticada. Isso acarreta alguns problemas e saber identificar a situação com os exames corretos é uma questão bastante debatida na prática clínica. Essa realidade foi descrita pelo médico-veterinário Luis Fernando de Moraes, durante o Congresso Paulista das Especialidades 2016, no dia 31 de agosto, em São Paulo (SP).
Segundo o profissional, metade da população de pets apresenta hipersensibilidade alimentar e essa é uma condição inflamatória que pode afetar qualquer órgão do sistema, inclusive fertilidade. “Por este motivo, nós profissionais temos que descobrir qual o alimento pode ocasionar este processo inflamatório e o retirar da dieta do animal”, alerta.
Moraes conta que existem quatro tipos de reações de hipersensibilidade. Hoje a tipo 1 é considerada a alergia. “Isso é extremamente raro em cães, dificilmente você vai ver um animal comer um alimento e inchar, como pode acontecer com nós, comendo um camarão, por exemplo. Reações por IGE em dietas são raríssimas, mas o que eles têm muito e é sub-diagnosticado na prática clínica são reações do tipo 2 e 3, mediadas por IGA, IGG e IGM, onde, principalmente, cães apresentam reações por IGA e IGM. Então, não adianta fazer um teste alérgico para o paciente e avaliar IGE. Não é um teste ideal para este processo. Cada caso deve ser bem avaliado para ser diagnosticado”, frisa.
Segundo o profissional, metade da população de pets apresenta hipersensibilidade alimentar (Foto: C&G VF)
Embora não seja muito conhecido, muitos animais apresentam hipersensibilidade a carboidratos. “Ao arroz, principalmente, ao trigo e ao milho e a gente só dá importância para a proteína”, relata. O grande problema para descobrir a enfermidade em cães é o custo do exame. Segundo o profissional, o preço mínimo para o diagnóstico é R$ 1600,00. “Os desesperados pagam, mas não é para a maioria. Dessa forma, o profissional deve saber trabalhar com a dieta industrial e com a dieta de eliminação balanceada com bastante critério para o paciente”, insere e conta que, atualmente, é recomendada a duração mínima de seis semanas para desconsiderar a hipersensibilidade alimentar.
Soja, ovos, peixes, carne de porco, cereais, glúten, frutas e legumes são alimentos potencialmente alérgicos e que podem causar a hipersensibilidade em cães. Aditivos e corantes também podem causar problemas, como alerta Moraes. “Algumas opções para dieta, livre de riscos são: peru, cordeiro, avestruz, coelho e peixe branco. De fonte de carboidrato: inhame, mandioca, batata doce e mandioquinha também são alternativas interessantes e que os animais, na maioria das vezes, nunca tiveram contato”.
O médico-veterinário revela que, quando vai fazer uma dieta de eliminação em um cão com hipersensibilidade, possui uma estratégia: “Utilizo uma fonte de carboidrato que eu nunca usei, uma proteína nova e, no primeiro mês da dieta, diminuo o ômega 3 e, depois, o reintroduzo. Então, adiciono probiótico, prebiótico e simbiótico, que é a mistura dos dois. Também gosto muito de enzima digestiva, principalmente, a bromelina (do abacaxi) e a papaína (do mamão). Ainda incorporo fibras solúveis e insolúveis para suplementar as fibras na quantidade que eu desejo, para cada animal”, descreve.
Aproximadamente, 50% dos casos de hipersensibilidade são em animais jovens, até um ano de idade (Foto: reprodução)
Qual a fase mais comum? Moraes diz que os animais podem ser acometidos pela hipersensibilidade em qualquer idade, mas, aproximadamente, 50% dos casos são animais jovens, até um ano de idade. “Mesmo quando o alimento quer de origem comercial ou caseira, seja oferecido há muito tempo para o animal, sem ter havido qualquer mudança nos hábitos alimentares, devemos suspeitar de alergia alimentar”. Ele conta que entre as raças mais predispostas estão o Cocker Spaniel, Labrador, Collie, Schnauzer, Shar Pei, Poodle, West Highland, Boxer, Lhasa Apso e o Teckel.
Os sintomas da alergia alimentar são prurido intenso na região de face, orelhas, axilas, porções ventrais do corpo e membros. “Podem estar presentes malasseziose cutânea e piodermites secundárias, bem como otites externas”, menciona. Nos gatos o problema pode se manifestar clinicamente de múltiplas formas: dermatite miliar, alopecia, prurido (principalmente facial e cervical), urticária, granuloma eosinfílico (placa eosinofílcia, úlcera indolente e granuloma linear). “Cerca de 10% dos felinos também apresentam emese e diarreia”.