Cláudia Guimarães, em casa
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“Doença de caráter crônico e debilitante, transmitida para cães da mesma forma que para os seres humanos: por meio da picada do flebotomíneo (mosquito Cangaguilha, Palha ou Birigui), que se infecta ao se alimentar de outro mamífero parasitado”. Essa é a definição da leishmaniose visceral canina (LVC), passada pela médica-veterinária e bióloga, que atua como clínica Médica na Vetso Clínica Veterinária (Sorocaba-SP), Natalia Santos Brilhante, que ainda adiciona: “Essa enfermidade é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das seis doenças infecto-parasitárias mais importantes”. E é sobre ela que vamos falar neste Dia Nacional do Combate à LVC.
Natália explica que o mosquito Palha é chamado assim de forma errônea, pois se trata de um inseto da família das moscas. “Ao contrário do mosquito da dengue, não se reproduz em água, mas, sim, em matéria orgânica, no solo úmido, etc… Por isso, o manejo ambiental é de extrema importância, para que, assim, se possa evitar a proliferação do flebotomíneo. Além disso, os cães devem usar coleiras repelentes, que os impedem de serem picados. Vacina e consultas periódicas ao veterinário também são muito importantes”, destaca.
Sintomas, diagnóstico e tratamento
Após ser picado por um flebotomíneo infectado, o cão, de acordo com a profissional, pode demorar cerca de três a 22 meses para apresentar os sintomas. “A principal forma de transmissão é por meio da picada do flebotomíneo, podendo, ainda, ser transmitida da mãe para o filhote e por meio do cruzamento e transfusão de sangue”, adiciona.
Natália lembra que a leishmaniose visceral é uma doença que ocorre mundialmente, que debilita os cães e que pode levá-los à morte, caso não sejam diagnosticados e acompanhados por toda a vida.
“A LVC pode atingir qualquer órgão ou fluído, portanto, mimetiza qualquer doença. Entretanto, alguns sinais devem ser observados: crescimento exagerado as unhas, descamação de pele, feridas que não cicatrizam, emagrecimento, anemia, apatia, alterações renais e claudicação”, enumera.
O diagnóstico, como explica Natália, é feito por meio de testes específicos, realizados pelo médico-veterinário. “Em regiões onde a leishmaniose se encontre presente, recomenda-se que os animais realizem testes sorológicos a cada seis meses (independentemente de haver sinais clínicos ou não). Em animais soropositivos, deve-se buscar o parasita (por meio de punção de medula óssea, linfonodos ou PCR)”, explica.
Por ser uma doença crônica, sem cura parasitológica, o tratamento é contínuo, como destacado pela veterinária, durante toda a vida do animal, com acompanhamento veterinário frequente. “E com o manejo terapêutico à base da droga miltefosina (droga leishmanicida, que oferece o controle da carga parasitária)”, discorre.
Foco no tratamento!
Mas, apesar de não ter cura parasitológica, Natália sublinha que a LVC não é um atestado de óbito. “Pacientes submetidos a um correto acompanhamento e manejo terapêutico podem levar uma vida próxima ao normal, pois sua evolução é controlável. Entretanto, é necessário realizar o estadiamento da doença, o que ditará o prognóstico do paciente”, frisa.
Natália lembra que, antigamente, havia-se a obrigatoriedade da eutanásia de cães positivos. “Hoje, com o surgimento de drogas leishmanicidas, o Ministério da Saúde já permite que o tratamento seja uma opção do tutor, desde que este tenha o compromisso e responsabilidade com todo o processo terapêutico”, revela e adiciona “Boa parte dos pacientes que atendo levam uma vida normal. Sempre lembrando que são pacientes acompanhados a cada quatro meses, aproximadamente, com consultas e exames periódicos. Muitos deles podem morrer após anos, de problemas relacionados à velhice e, não necessariamente, à LVC”.
Na visão da profissional, infelizmente ainda estamos longe de acabarmos com a leishmaniose ou de controlarmos a doença. “Além da prevenção do mosquito, o controle da LVC passa, também, por uma política de Saúde Pública, de saneamento básico e de educação. Por enquanto, acredito que a melhor forma de combater qualquer doença seja com educação e informação”, conclui.