Sthefany Lara
Jornalista, atuante há sete anos no mercado veterinário e psicanalista
Hoje o mundo todo celebra o Dia da Saúde Mental. A data faz parte do calendário mundial há 30 anos e a cada ano que passa, ela se faz mais necessária. A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou, em junho de 2022, o Relatório Mundial de Saúde Mental que mostrou que, em 2019, um bilhão de pessoas viviam com transtornos mentais. Após um período pandêmico, ouso dizer que esse número é muito maior.
Para os profissionais que trabalham na área da Saúde, o olhar para a saúde mental deve ser mais aprofundado, uma vez – o que não é novidade para ninguém – que eles fazem parte da classe que mais estão sujeitos a desenvolverem depressão e, no caso específico dos médicos-veterinários, que mais cometem suicídio no mundo.
Por que será que a saúde mental muitas vezes é deixada como algo de segundo plano? Talvez em um mundo materialista, sendo o psiquismo algo “abstrato”, o deixamos de lado, mas esquecemos que ele “dá as cartas” de nossas atitudes, refletindo muito nas relações interpessoais e nas nossas atitudes.
Na Medicina Veterinária, os profissionais têm que dar conta de muitas coisas do dia a dia: muitas vezes são os responsáveis por, além de fazerem os atendimentos, de serem secretários, administrativos e até mesmo cuidarem da limpeza das clínicas. Sem contar o tempo que devem dedicar aos estudos. E como fica a saúde mental? Quanto tempo você, médico-veterinário, tem dedicado para isso?
Assim como sempre é realizado check-ups periódicos para verificar a saúde física e também é indicado para os pacientes os exames. Não se pode descuidar dessa área.
Sem um olhar cuidadoso e carinhoso para as questões psíquicas, vemos, como resultado, médicos-veterinários exaustos, com dificuldade de manter um bom relacionamento interpessoal com a equipe e que, ainda, leva os problemas do trabalho para a casa e da casa para o trabalho.
Além disso, os médicos-veterinários ainda correm o risco de desenvolver a chamada Fadiga por compaixão, caracterizada como uma síndrome de exaustão biológica, psicológica e social. Nesses casos, o profissional se compadece seja para animais ou pessoas, mas não se sente suficientemente recompensado.
Situações como o perigo constante de morte dos pacientes; medo de não dar conta do trabalho; nem sempre se sentirem certos de que fizeram a escolha profissional certa e, ainda, não se sentirem financeiramente valorizados contribuem para esse problema.
Quando um animal está enfermo e em sofrimento, o médico-veterinário tem que tratar, de certa forma, também, da família, que, além de estar sofrendo com a doença do pet, se preocupa com a questão financeira do tratamento. Muitos profissionais de saúde, por estar diante desses sofrimentos, em alguns casos, se veem obrigados a adotarem, como defesa, uma postura mais fria diante do sofrimento alheio. Mas será que por dentro, lá no esconderijo da psique, não estão sofrendo?
Certa vez, ouvi a expressão “síndrome de São Francisco” para caracterizar os veterinários, em referência ao Santo protetor dos animais, que, muitas vezes, se veem obrigados a fazer atendimentos gratuitos porque a sociedade (e até eles) acredita que cursaram “Medicina Veterinária por amor”. Diante dessas situações, é quase impossível dizer não para algumas situações, pois, junto com a negativa de prestação de serviço, vem a culpa (um tema para outro artigo).
A Fadiga por compaixão nunca deve ser ignorada, mas nem sempre é entendida e, por vezes, pode até ser confundida com outras condições. Entre os sintomas mais comuns estão a mudança de humor; esgotamento mental e até físico; ansiedade; depressão; insônia; lapsos de memória etc.
A empatia é algo importante e necessária, ainda mais nos dias atuais, mas nem sempre somos capazes de resolver todas as questões do mundo. Reconhecer que nem tudo está ao nosso alcance ou pertence a nós pode ser um primeiro passo para vencer esse problema.
Um ponto importante que deve ser destacado é cuidar de você e também cuidar da equipe da qual faz parte. A relação interpessoal é importante para o desenvolvimento do trabalho. Por isso, ao perceber que o colega de trabalho apresenta sinais de que algo não está indo bem, apoiá-lo na busca por ajuda profissional é imprescindível.
Buscar o autoconhecimento, por meio de terapia, é importante para saber lidar com a Fadiga por compaixão. Afinal, ela pode ter uma classificação singular, mas o que faz cada profissional desenvolvê-la é algo único e possui relação com a nossa história e com a bagagem que carregamos.
Em tempos corridos, pare um instante. Busque se conhecer e se coloque como protagonista da vida, afinal, o autoconhecimento é também isso: colocar-se como autor e intérprete da própria vida. Neste dia da Saúde Mental, busque ajuda!
Para atendimentos com Sthefany Lara, entre em contato pelo telefone 15 98102-9475.