Cláudia Guimarães, da redação
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Quem tem gatos em casa sabe: a disposição chega a esses bichanos durante a madrugada, horário em que nós, humanos, queremos desfrutar de um sono tranquilo. Por conta disso, muitos acreditam que os felinos são animais noturnos, mas, na verdade, eles são considerados crepusculares. E, fique calmo, de nada tem a ver com o filme Crepúsculo! Ou tem?
A médica-veterinária membro da American Association of Feline Practitioners (AAFP), Camila Ferreiro, explica que, sendo assim, crepusculares, os gatos têm hábitos e atividades que estão presentes ao nascer e ao pôr do sol. “Essa característica é comum em pequenos gatos selvagens, principais ancestrais dos gatos domésticos. É um momento propício para a caça de pequenos roedores”, discorre.
Estes minutos ou horas em que os felinos colocam seus hábitos ancestrais em prática são chamados de Períodos Frenéticos de Atividades Aleatórias ou, na sigla em inglês, FRAPs (Frenetic Random Activity Periods) e, segundo Camila, estão relacionados à liberação hormonal de adrenalina e cortisol, utilizada, assim como por nós, humanos, para iniciar nossas atividades durante o dia. “Esses períodos são considerados normais e estão relacionados, principalmente, a atividades de caça dos felinos”, reforça.
Mas o que os gatos fazem nesses períodos?
Camila conta que estes animais ficam bastante ativos, correndo e brincando com atividades semelhantes à predação. “Muitas vezes, nos ‘caçam’ durante a noite, buscando nossos pés ou ficam buscando insetos e objetos pela casa que se assemelham com essa atividade. Podem vocalizar durante esse momento, porém, tutores, erroneamente, associam os miados à necessidade de atenção ou comida”, observa.
Esses comportamentos são comuns, de acordo com a médica-veterinária, em gatos filhotes e jovens, mas tendem a se manter mesmo em gatos adultos e idosos, pois trata-se de um comportamento natural. “Geralmente, os animais ficam agitados por pouco tempo e, depois, tendem a voltar para momentos de descanso. Alguns tutores se levantam à noite e oferecem comida, muitas vezes, interpretando esses comportamentos de forma equivocada. Isso pode levar a uma associação positiva do animal com o seu tutor, fazendo com que o comportamento se repita ao longo da noite”, alerta.
E, sim, você não leu errado quando citamos que os gatos mais velhinhos também colocam esse hábito em prática. Camila declara que os felinos idosos também brincam e predam, no entanto, esses estímulos podem ser diferentes nessa idade. “Aqui vale lembrar que idosos podem ter dor osteoarticular e, por isso, muitas vezes, não se levantam ao longo da noite, quando iniciam vocalizações excessivas e alterações de padrão de sono é importante a avaliação de um médico-veterinário. Existem diversas condições que podem levar a distúrbios comportamentais, como doenças degenerativas, dor, doenças endócrinas e metabólicas”, salienta.
Cães são cães, gatos são gatos!
Tutores que sempre tiveram cachorros e adotam um gato podem se surpreender negativamente com as atividades crepusculares dos bichanos. “Os gatos trazem, consigo, características territoriais e de predação de seus ancestrais, seu comportamento natural é importante para manter uma boa saúde mental do animal. Assim, o tutor de cão e de gato deve conhecer os comportamentos naturais dos animais antes de adquirir qualquer animal. Para isso, é possível realizar uma consulta prévia com um veterinário especializado na espécie para dicas e sugestões (adoções conjuntas ou não) e orientações gerais sobre os gatos (saúde, comportamento, introdução de um gato no ambiente)”, aconselha.
Quando questionada se há uma maneira de diminuir a “bagunça” dos felinos durante esses períodos, Camila diz que sempre oriento os tutores a realizar brincadeiras com bolinhas, ratinhos, varinhas, utilizar de bastante estímulo no início da manhã (quando ainda estão em casa, antes de sair ao trabalho) e ao chegar em casa (antes de se deitar). “Após um período de 15 minutos de brincadeiras (gatos não exigem muito tempo), oferecer um sachê bem gostoso. Assim, eles tendem a descansar por mais tempo durante a noite. Se ele miar ou brincar durante a madrugada, não faça associações positivas (levantar, falar com ele, dar comida). Basta ter paciência”, recomenda.
Sendo assim, como reiterado pela profissional, a melhor forma de entreter esses animais é gastar energia antes de se deitar. “Se essa atividade se manter durante a madrugada, novamente digo: não se levante! Isso passa a ser um estímulo de contato social e, então, o animal irá continuar com o mesmo comportamento. Você pode deixar alguns brinquedos disponíveis em uma área da casa em que ele pode procurar durante a noite, brinquedos interativos com biscoitos ou ração. Mas lembre-se: gatos gostam de brinquedos novos, coisas novas, não deixe tudo facilmente disponível, geralmente, realizamos um rodízio, para que ele continue interessado”, compartilha.
Não é interessante tentar cessar esse comportamento porque se trata de hábitos naturais, necessários para bem-estar do pet. “Isso deixará o gato frustrado, ansioso e predisposto a várias doenças associadas ao estresse”, frisa. A médica-veterinária ainda informa que a relação dos tutores com seus animais sempre tende à humanização dos cães e gatos, mas é preciso lembrar que eles apresentam necessidades básicas para expressar seu comportamento e que devem ser respeitadas para que possam viver com saúde, uma vez que isso abrange o emocional e cognitivo”.