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Clínica e Nutrição, Destaques

Veterinária fala sobre como oferecer suporte clínico e nutricional a pets diabéticos

Por Equipe Cães&Gatos
insulina
Por Equipe Cães&Gatos

Cláudia Guimarães, da redação

claudia@ciasullieditores.com.br

A American Diabetes Association defende que o diabetes mellitus (DM) inclui um conjunto de transtornos metabólicos de diferentes etiologias, caracterizados por hiperglicemia crônica resultante da diminuição da sensibilidade dos tecidos à ação da insulina e/ou da deficiência de sua secreção. Como hoje (14), é o Dia Mundial do Diabetes, falaremos um pouco mais sobre essa doença que também assola os animais de companhia.

A médica veterinária do Veros Hospital Veterinário, Alessandra Martins Vargas, explica que, em cães, o fator genético parece estar envolvido na gênese do DM, ou seja, a literatura sugere predisposição racial para a doença. “Porém, nem sempre os dados da literatura mundial são compatíveis com a realidade do Brasil, uma vez que algumas raças não são comuns em nosso País. Podemos citar como raças predispostas: Terrier Australiano, Schnauzer Miniatura e Standart, Fox Terrier, Keeshond, Bichon Frizé, Finnish Spitz, Cairn Terrier, Poodle Miniatura, Husky Siberiano E Poodle Toy. Nos felinos, a única raça que apresentou maior predisposição para o desenvolvimento do DM foi o Birmanês”, enumera.

No entanto, não é apenas a predisposição racial que pode desencadear o diabetes nos pets. Segundo Alessandra, idade, sexo, status reprodutivo e escore de condição corporal também influenciam o surgimento da doença, mas nota-se que tais fatores diferem entre cães e gatos. “Os felinos desenvolvem, em 85% dos casos, o DM do tipo 2 (DM decorrente da resistência à ação da insulina), consequentemente a principal causa de DM nesta espécie é a obesidade. Além disso, o risco de desenvolvimento de DM é maior em machos (quando comparado às fêmeas), animais mais idosos e castrados (independentemente do sexo). Na espécie canina, as fêmeas são mais predispostas do que os machos e, ao contrário do que acontece nas gatas, a castração das cadelas diminui o risco do desenvolvimento de DM”, compara.

Fox Terrier, Keeshond, Bichon Frizé, Finnish Spitz, Cairn Terrier, entre outras raças, são predispostas a desenvolverem diabetes (Foto: reprodução)

Como identificar?

Alessandra indica que os sintomas clássicos do diabetes mellitus em cães e gatos são: poliúria, polidipsia, polifagia e emagrecimento. “Também existem sintomas exclusivos de cada espécie, como é o caso do desenvolvimento da catarata diabética, que só acontece nos cães, e a posição plantígrada secundária à neuropatia diabética, que só acontece nos felinos (o animal irá apoiar a articulação tíbio-társica no chão). Caso o paciente apresente anorexia e/ou vômito, deve-se investigar a presença de cetoacidose diabética (acidose metabólica decorrente de hiperglicemia e acúmulo de corpos cetônicos)”, recomenda.

A profissional menciona que o diagnóstico baseia-se na presença das manifestações clínicas clássicas e na constatação de hiperglicemia (glicemia em jejum acima de 200mg/dL) e de glicosúria persistentes. “Existem duas diferenças que devem ser consideradas ao realizarmos o diagnóstico de DM: 1) gatos não diabéticos podem apresentar glicemias superiores a 200mg/dL (frequentemente superiores a 290mg/dL) apenas pelo fato de estarem estressados, por isso, para estabelecer o diagnóstico de DM em felinos, deve-se utilizar a mensuração da frutosamina; 2) cães irão apresentar glicosúria a partir de 180mg/dL de glicemia, enquanto que, nos felinos, a glicosúria estará presente quando a hiperglicemia for de no mínimo 290mg/dL”, discorre.

O tratamento do DM, de acordo com a veterinária, consiste em administrações diárias de insulina (geralmente, a cada 12 horas), manejo dietético e eliminação dos fatores de resistência (caso estejam presentes). “Vale a pena destacar que, de acordo com o consenso de diabetes mellitus em cães e gatos de 2018, o tratamento de eleição para cães é a insulina de origem suína Caninsulin (MSD), enquanto que, para os felinos, as insulinas de primeira escolha são as insulinas glargina (lantus) e detemir (levemir)”, destaca.

Quanto ao manejo dietético, Alessandra diz que cães e gatos diabéticos devem receber alimento coadjuvante para diabetes mellitus caso apresentem escore de condição ideal. “No caso de animais diabéticos e obesos, recomenda-se o uso de alimento coadjuvante para obesidade. Porém, mais uma vez, temos que destacar uma diferença entre estas espécies: os cães devem receber a refeição a cada 12 horas, no mesmo horário das aplicações de insulina, enquanto que os felinos devem receber a dieta fracionada de quatro a oito refeições ao dia”, orienta.

Os felinos desenvolvem, em 85% dos casos, o DM do tipo 2, decorrente da resistência à ação da insulina (Foto: reprodução)

Prejuízos ao animal

Algumas complicações são comuns a cães e gatos com diabetes mellitus, tais como a hipertensão arterial sistêmica e a nefropatia diabética. “Outras complicações, podem ser exclusivas dos cães, como a catarata diabética, ou exclusiva dos gatos, como a neuropatia diabética”, reforça.

Em consequência à falta de tratamento ou do mau controle glicêmico, Alessandra expõe que os animais diabéticos podem desenvolver a cetoacidose diabética (CAD). “Tal complicação apresenta alta mortalidade e, por isso, o paciente deve ser hospitalizado imediatamente. Sintomas sugestivos de CAD: mais comumente, anorexia, prostração, desidratação e êmese, podendo evoluir com o desenvolvimento de convulsão e/ou choque. Também devemos ficar atentos aos quadros de hipoglicemia, a qual é uma complicação da insulinoterapia. A hipoglicemia ocorre devido ao excesso de insulina, visto que, mesmo aplicando a mesma dose de insulina em um determinado paciente, a glicemia pode variar de um dia para o outro. Os sintomas de hipoglicemia mais frequentes são: tremores, fasciculações, fraqueza, incoordenação, sonolência e, nos casos mais graves, o paciente pode apresentar convulsões. Nota-se que alguns pacientes hipoglicêmicos podem ser assintomáticos”, elenca.

A médica-veterinária ressalta que assim que os tutores identificarem uma ou mais manifestações clínicas compatíveis com o diabetes mellitus já podem procurar um veterinário especializado em endocrinologia. “Outra opção, também, são os colegas veterinários que atuam em clínica médica ou em outras especialidades solicitarem o acompanhamento do paciente diabético pelo profissional especializado em endocrinologia”, sugere.

No geral, a profissional acredita que a qualidade de vida dos animais diabéticos não difere da qualidade de vida dos animais não diabéticos, graças ao desenvolvimento de estudos e fármacos existentes, hoje, no Brasil. “Por exemplo, em se tratando do DM em cães, temos uma insulina exclusiva de uso veterinário. Outro avanço que não podemos deixar de citar é a cirurgia para correção da catarata por facoemulsificação, com implante de lente intraocular, o que possibilitou que nossos pacientes caninos voltassem a enxergar. Também há muitos estudos brasileiros sobre nutrição em pacientes diabéticos, os quais foram importantíssimos para o desenvolvimento de rações coadjuvantes, as quais melhoram o controle glicêmico dos nossos pacientes”, garante. (Confira alguns estudos selecionados pela veterinária ao fim desse texto).

A veterinária do Hospital Veterinário Veros ainda comenta que, para monitorar o diabetes mellitus, atualmente, tem sido utilizado o sistema de monitorização contínua de glicose FreeStyle Libre, o qual possibilita menor estresse durante a mensuração das glicemias do paciente, uma vez que a leitura das glicemias é realizada por um sensor (que permanece no tecido subcutâneo do paciente por 14 dias) e com o auxílio de um aplicativo específico no celular do tutor. “É indolor e, após o período, basta remover o sensor. Outra facilidade é o compartilhamento das informações entre tutores e médicos-veterinários”, pondera.

Para encerrar, Alessandra afirma que, no caso dos felinos, a melhor maneira de evitar o DM é prevenindo a obesidade, uma vez que é a principal causa de DM nesta espécie. “Já na espécie canina, pouco podemos agir em se tratando de prevenção, pois cães apresentam predominantemente o DM tipo 1, ou seja, decorrente de doença autoimune que leva à destruição das células B pancreáticas produtoras de insulina”, conclui.

Estudos sobre diabetes mellitus

TEIXEIRA, F. A.; BARBOSA, B. C.; POOLI, T. N.; OLIVEIRA, V. V.; SANTOS, G. S.; TAVARES, F. Y.; MACHADO, D. P.; PONTIERI, C. F.; LORIGADOS, C. A.; BRUNETTO, M. A. Diabetic dogs had higher gall bladder volume than healthy dogs. (ACVIM) Em: 2021 ACVIM Forum Research Abstract Program. Journal of Veterinary Internal Medicine, 2021, On demand. […]. On demand: Journal of Veterinary Internal Medicine, 2021. p. 3036–3037. 

TEIXEIRA, F. A.; BRUNETTO, M. A. Nutritional factors related to glucose and lipid modulation in diabetic dogs: literature review. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v. 54, n. 4, p. 330–341, 2017. 

TEIXEIRA, F. A.; MACHADO, D. P.; JEREMIAS, J. T.; QUEIROZ, M. R.; PONTIERI, C. F. F.; BRUNETTO, M. A. Effects of pea with barley and less-processed maize on glycaemic control in diabetic dogs. British Journal of Nutrition, v. 120, n. 7, p. 777–786, 2018. Disponível em: <https://www.cambridge.org/core/journals/british-journal-of-nutrition/article/effects-of-pea-with-barley-and-lessprocessed-maize-on-glycaemic-control-in-diabetic-dogs/C8422813ED18AFC2DA46C7DC7AC1610D>.

TEIXEIRA, F. A.; MACHADO, D. P.; JEREMIAS, J. T.; QUEIROZ, M. R.; PONTIERI, C. F. F.; BRUNETTO, M. A. Starch sources influence lipidaemia of diabetic dogs. BMC Veterinary Research, v. 16, n. 1, p. 2, 3 dez. 2020a. Disponível em: <https://bmcvetres.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12917-019-2224-y>. Acesso em: 13 jan. 2020.

TEIXEIRA, F.; DI DONATO, B.; ISHII, P.; PUTAROV, T.; CARCIOFI, A.; JEREMIAS, J.; QUEIROZ, M.; PONTIERI, C.; STEINER, J.; LIDBURY, J.; SUCHODOLSKI, J.; BRUNETTO, M.; GOMES, M. Comparison of the fecal microbiota between healthy dogs and dogs with diabetes mellitus. Em: 2020 ACVIM Forum On Demand Research Abstract Program. J Vet Intern Med, 34, 2020b, […]. 2020. p. 2896. 

TESHIMA, E.; BRUNETTO, M. A.; TEIXEIRA, F. A.; GOMES, M. de O. S.; LUCAS, S. R. R.; PEREIRA, G. T.; CARCIOFI, A. C. Influence of type of starch and feeding management on glycaemic control in diabetic dogs. Journal of Animal Physiology and Animal Nutrition, 2021.

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