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Qual é o tipo?

Cães e gatos possuem diversas tipagens sanguíneas, dessa forma, é importante conhecê-las para evitar problemas na hora da transfusão
Por Equipe Cães&Gatos
Por Equipe Cães&Gatos

Cães e gatos, assim como os seres humanos, possuem grupos sanguíneos e a médica-veterinária diretora do Petcare Hemovet, Simone Gonçalves, explica que há mais de 12 grupos sanguíneos em em cães.

“O principal e reconhecido sistema de grupos sanguíneos nesta espécie é o DEA (Dog Erythrocyte Antigen), mas temos também a documentação dos tipos sanguíneos  Dal (descoberto em 2007) ,  Kai 1 e Kai 2”.

Em felinos, Simone explica que o principal sistema de grupos sanguíneo documentado é o AB (A, B e AB) sendo que, recentemente, foram documentados cinco antígenos eritrocitários denominados de grupo FEA (Feline Erythrocyte Antigen). “Tudo indica ser correspondente ao descrito anteriormente como antígeno Mik”. 

A profissional explica que os grupos sanguíneos são determinados pela presença ou ausência de certos antígenos (aloantígenos)  na superfície das hemácias.  “Em cães, temos kits comerciais que possibilitam a determinação do tipo sanguíneo DEA 1 e do tipo Dal. Em relação à espécie felina, temos a possibilidade de identificação dos tipos A, B e AB .  

Sobre as diferenças dos tipos sanguíneos, Simone conta que, em relação ao sistema DEA, o tipo DEA 1 é o mais importante tipo sanguíneo, pois ele induz uma produção elevada de aloanticorpos após a sensibilização. “Os cães não têm aloanticorpos naturais para este tipo sanguíneo, ou seja, necessitará de uma sensibilização prévia que, normalmente, ocorrerá após a transfusão sanguínea de uma bolsa de um doador DEA 1 positivo (possui aloantígeno para DEA 1 ) para um receptor DEA 1 negativo (não possui aloantígeno para DEA 1). A formação de aloanticorpos pode iniciar a partir de 3-4 dias após a sensibilização. A maioria dos indivíduos das raças golden retriever e rottweiller é DEA 1 positivo”, diz. 

Segundo ela, ao longo dos anos, verifica-se uma crescente preocupação em relação ao tipo Dal descoberto inicialmente na raça dálmata. “Há uma porcentagem significativa de dobermans e shih tzu Dal negativos, que podem ser sensibilizados com uma transfusão de uma bolsa de um doador Dal positivo podendo desencadear uma reação hemolítica aguda a partir da segunda transfusão. A maioria das raças puras,  greyhound, golden retriever, labrador e pastor alemão, é Dal positiva, entretanto a importância clínica destes aloanticorpos ainda precisa ser melhor elucidada”, detalha.

Nos felinos  

No que diz respeito aos gatos, Simone conta que o grupo sanguíneo predominante e mais elucidado é o sistema AB. “Dentro do grupo AB, temos três tipos sanguíneos (fenótipos) denominados de A, B e AB. Os gatos possuem aloanticorpos de ocorrência natural que surgem com 6-8 semanas de idade. O tipo sanguíneo A é o mais comum, sendo o ácido N glicolil neuramínico o aloantígeno presente na superfície das hemácias. Os gatos A podem ter aloanticorpos anti-B, entretanto, a maioria está presente em baixas concentrações. Os receptores A devem receber transfusão de doadores A”, afirma. 

De acordo com ela, o tipo B é menos comum que o A, sendo prevalente em algumas raças como o british shorthair, birmanês e devon rex. “Este tipo sanguíneo é caracterizado pelo aloantígeno N acetil neuramínico na superfície das hemácias.  Os gatos B têm aloanticorpos anti-A presentes em altas concentrações.  Receptores B devem receber transfusão de Doadores B. O tipo sanguíneo AB é raro com a presença dos dois aloantígenos na superfície das hemácias (N glicolil neuramínico e N acetil neuramínico). O tipo AB não tem aloanticorpos naturais anti-A ou anti-B. O receptor AB deverá receber transfusão de doador AB, mas na ausência deste poderá ser transfundido com uma bolsa de um gato tipo A e de preferência concentrado de hemácias, pois será removido o plasma com diminuição da quantidade de  anticorpos Anti-B”, explica. 

Os cuidados na transfusão sanguínea 

Entender os tipos sanguíneos é importante para, também, saber realizar, de forma correta, transfusões de sangue.  “A complicação mais temida e que pode ser fatal é a transfusão de uma bolsa de sangue de um gato A para um gato B. A literatura menciona que 1 ml de sangue tipo A infundido é o suficiente para levar o receptor B ao óbito. Nesta espécie, pela presença de aloanticorpos naturais, a reação hemolítica grave poderá ocorrer na primeira transfusão. Caso aconteça a transfusão de uma bolsa de um gato tipo B para um receptor tipo A ocorrerá uma hemólise mais tardia”, aponta.

Em relação aos cães, Simone explica que a maior implicação será, principalmente, após a pré sensibilização do receptor DEA 1 negativo com uma transfusão de concentrado de hemácias ou sangue total de um doador DEA 1 positivo, desencadeando uma reação hemolítica aguda que poderá ser fatal. “Essa reação é prevenida por meio da realização do teste de compatibilidade prévio detectando a incompatibilidade. Existem relatos também de reações hemolíticas agudas em receptores Dal  negativos pré sensibilizados com doadores Dal positivos”. 

Como saber?

Para saber qual tipo sanguíneo o animal possui, é necessário, segundo Simone, a tipagem felina, que pode ser realizada por meio de cartões comerciais disponíveis (RapidVet-H cards- DMS laboratories), que utilizam anticorpo monoclonal murino como o reagente anti-A identificando o tipo A e a lecitina do Triticum vulgaris com um reagente anti-B para identificação do tipo B. “Existem, também, os testes rápidos imunocromatográficos (Alvedia), que utilizam anticorpos monoclonais específicos cuja interpretação envolve a migração das hemácias  em uma membrana para determinar o tipo sanguíneo. Há, também, a possibilidade de realizar a determinação dos tipos sanguíneos do sistema AB pelo método manual usando a técnica da Lecitina”, comenta.

Já a tipagem sanguínea canina pode ser realizada por meio de cartões comercialmente disponíveis (RapidVet-H cards- DMS laboratories), que determinam os tipos sanguíneos DEA 1 (positivo ou negativo) e tipo Dal (Dal positivo ou negativo).  “Existem também os testes rápidos imunocromatográficos (Alvedia), que usam anticorpos monoclonais específicos cuja interpretação envolve a migração das hemácias em uma membrana para determinar o tipo sanguíneo disponível apenas para DEA 1”. 

BOX- Na hora de transfundir 

Depois de conhecer um pouco sobre os tipos de sangue, Simone Gonçalves lista algumas considerações para a hora da transfusão sanguínea. 

– Transmissão de doenças infecciosas: a triagem dos doadores para investigação de doenças infecciosas é muito importante antes da realização de uma transfusão sanguínea

– Tipagem sanguínea e teste de compatibilidade antes da transfusão sanguínea para evitar a reação hemolítica aguda;

– Monitoração do paciente durante o procedimento supervisionando a velocidade de infusão, parâmetros vitais e documentação de reações transfusionais;

– Os riscos envolvem a ocorrência de outras reações adversas, que devem ser identificadas com instituição de medidas terapêuticas específicas como: reações alérgicas, reação transfusional não hemolítica febril, reações respiratórias (dispneia associada à transfusão, TACO, TRALI), hipocalcemia, hipotensão;

As reações transfusionais são classificadas em agudas (até 24 horas em relação ao início da transfusão ) e tardias  (após 24 h), segundo Simone. 

As manifestações clínicas variam de acordo com o tipo de reação adversa. “As reações hemolíticas agudas são caracterizadas por febre (temperatura acima de 39ºC e elevação de 1 grau em relação a temperatura basal), taquicardia, taquipneia, hipotensão, hemoglobinemia, hemoglobinúria e, mais tardiamente, bilirrubinemia e bilirrubinúria caracterizada por icterícia. Pacientes podem apresentar reações transfusionais não hemolíticas febris caracterizadas por febre sem hemólise e pode ser autolimitante quando interrompida a transfusão”, afirma e completa que as reações alérgicas são relativamente comuns, principalmente, em cães e são de hipersensibilidade do tipo I caracterizadas por angioedema, urticária, tremores e mais raramente um choque anafilático. “Os pacientes podem apresentar distrição respiratória caracterizada por sobrecarga circulatória (TACO) ou uma injúria pulmonar aguda secundária inflamatória (TRALI) e, também, dispneia associada à transfusão (TAD)”, diz. 

Os perigos da incompatibilidade 

As implicações da incompatibilidade de grupos sanguíneos em cães e gatos envolve o desencadeamento de uma reação hemolítica que pode ser aguda e fatal ou tardia. Como evitá-las durante a transfusão sanguínea? Simone responde: “atualmente, temos os recursos para que as transfusões sejam realizadas de forma segura evitando a incompatibilidade de grupos sanguíneos de forma efetiva. Em gatos, recomenda-se a realização da tipagem sanguínea do doador e receptor e também o teste de compatibilidade que irá identificar aloanticorpos direcionados a outros antígenos eritrocitários”, afirma. 

Já em cães, segundo ela, recomenda-se realizar o teste de compatibilidade desde a primeira transfusão e de preferência tipagem sanguínea identificando se o receptor é DEA 1 negativo ou positivo. “Caso este receptor seja DEA 1 negativo, o ideal é que ele seja transfundido com uma bolsa de sangue DEA 1 negativo. Caso contrário, este receptor será sensibilizado com hemácias com o aloantígeno DEA 1 positivo e produzirá anticorpos direcionados a este antígeno, ou seja, será sensibilizado e a partir de uma segunda transfusão poderá ocorrer uma reação hemolítica aguda caso seja transfundido com uma bolsa DEA 1 positivo novamente.  Outro aspecto importante é que será desafiador identificar  bolsas compatíveis para este paciente uma vez que ele provavelmente será compatível com um doador DEA 1 negativo, entretanto a prevalência deste é menor na população de doadores caninos no Brasil”.

Sobre a prevalência de grupos sanguíneos, a médica-veterinária comenta que varia  geograficamente, principalmente de acordo com as raças predominantes nestes locais. “Por exemplo,  a raça siamês e maine coon têm um predomínio de tipo A em 99% dos indivíduos na maioria dos estudos. Em relação aos cães, há um predomínio do tipo DEA 1 positivo nas raças golden retriever, labrador, rottweiller, já o greyhound há uma prevalência mais elevada de DEA 1 negativo”.  

Com isso, Simone reforça que a transfusão sanguínea é um procedimento realizado em um paciente que já está fragilizado e debilitado sendo de fundamental importância evitar a administração de um hemocomponente sem uma triagem adequada de um doador para as principais doenças infecciosas. “Paralelamente, diante dos avanços dos métodos disponíveis comercialmente para tipagem e teste de compatibilidade recomenda-se realizá-los a fim de se evitar uma reação hemolítica aguda que pode ser fatal. A determinação da tipagem sanguínea poderá ser realizada previamente ao longo da vida do cão e gato a fim de identificarmos os tipos sanguíneos raros facilitando o manejo desse paciente que, no futuro, poderá estar em uma situação de urgência ou emergência transfusional agilizando a obtenção de uma bolsa de sangue mais apropriada”, conclui.

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