A alimentação adequada dos cães desempenha um papel crucial na saúde da pele e do pelo, sendo um fator determinante para a prevenção e o tratamento de diversas condições dermatológicas. De acordo com os médicos-veterinários Leandro Haroutune Hassesian Galati, dermatologista veterinário do Centro Veterinário Pet Care, e Mariana Porsani, professora e coordenadora do curso de pós-graduação em nutrição e nutrologia da Anclivepa São Paulo, é fundamental que a dieta dos cães seja equilibrada, atendendo às necessidades específicas de cada animal.
Mariana Porsani aponta que, caso o animal comece a apresentar queda de pelo excessiva, pelame feio e quebradiço, opacos e sem brilhos, há algo de errado em sua dieta e que está interferindo na saúde da pele e do pelo. Por outro lado, o veterinário Leandro Haroutune adiciona que, de modo geral, as manifestações cutâneas relacionadas à nutrição são inespecíficas, podendo ser de natureza diversa, a exemplo de xerose, pelame desvitalizado, disqueratinização, mudanças na coloração da pelagem, queda acentuada de pelos, alopecia, formação de crostas, hiperqueratose, além da predisposição a quadros oportunistas, como piodermite e malasseziose.
Para que a manutenção da pele e do pelo dos cães seja atendida, Mariana declara: “O animal precisa receber uma dieta balanceada que atenda todas as suas necessidades, e que respeite sua faixa etária. A deficiência de vitaminas, minerais, proteínas e gorduras podem prejudicar a pele e o pelo dos animais”, salienta.
A boa nutrição, segundo Haroutune, implica não somente na presença de determinados nutrientes, mas, também, em quantidade adequada, qualidade de suas fontes e sua relação com os demais nutrientes. “Destacam-se o selênio, cobre, zinco, ácidos graxos poli-insaturados, vitaminas A, E, do complexo B (Biotina, ácido fólico, piridoxina e ácido pantotênico) e iodo”, elenca.
Mariana menciona que a deficiência de cobre pode levar a alterações como: alopecia, acromotriquia (sinal precoce). Deficiência de ferro, má condição dos pelos, deficiência de gordura e proteína hiperqueratose, descamação, pelame quebradiço e sem brilho. Leandro Haroutune adiciona: “A deficiência de zinco tende a apresentar-se classicamente como um quadro crostoso, hiperqueratótico e inflamatório, sobretudo em face e com acometimento dos coxins”.
Vitaminas e minerais importantes
Haroutune afirma que, sobretudo, as vitaminas A, E, biotina (B7), ácido fólico (B9), piridoxina (B6) e ácido pantotênico (B5) são as mais importantes aos cães, além dos minerais zinco, cobre, selênio, manganês e iodo. Mariana também adiciona a lista a Riboflavina e a niacina. “A deficiência de vitaminas afeta sobretudo a queratinização e o ciclo piloso”, informa o veterinário. E isso, segundo Mariana, pode causar alopecia, descamação, odor rançoso na pele, prurido, pele áspera e xerótica, foliculite bacteriana, piodermite , má cicatrização. “Além disso, a deficiência de vitamina E, especificamente, causa desqueratinização e inflamação tecidual”, adiciona.
Quantidade e qualidade das proteínas do alimento
Leandro lembra que a pele e a pelagem têm alta demanda proteica. “A título de curiosidade, 95% do pelo é constituído por proteína e até 60% da demanda corporal por metionina e cistina tem esta finalidade. Pode-se dizer que cerca de 25 a 30% de toda a demanda orgânica de proteína tem como destino a pele e seus anexos. A deficiência proteica vai comprometer a pigmentação adequada, retardar o processo de cicatrização e impactar qualitativa e quantitativamente o pelame”, salienta.
Portanto, Mariana frisa que é essencial avaliar qual é a dieta do animal e se a mesma está balanceada. “É importante se atentar se o animal está comendo as quantidades indicada da dieta, pois, mesmo que seja balanceada, mas o animal não ingere a quantidade adequada, ele pode ter deficiência nutricional”, explica. Para isso, como lembrado por Leandro Haroutune, o veterinário deve interrogar o responsável pelo paciente acerca da dieta. “É importante que, durante a anamnese, o clínico certifique-se da qualidade dos alimentos, sua indicação, manejo e preparo adequado, e se há suplementação (caso esta se aplique)”, adiciona.
Produtos como aliados
Mariana menciona que existem nutracêuticos que auxiliam no pelame, como o ômega 3, fonte de óleo de peixe. Mas, antes, precisamos nos atentar se realmente o animal está ingerindo quantidade de alimento adequada com nutrientes corretos e quantidades corretas para a espécie e faixa etária”, reitera. Por sua vez, Haroutune cita que, atualmente, existem alimentos comerciais que têm como foco a saúde da pele. “De modo geral estes alimentos contam com quantidades adequadas e fontes de alta qualidade de proteínas, vitaminas, minerais e ácidos graxos”.
Ao oferecer um alimento aos cães, tanto veterinário quanto tutor devem estar atentos e levar em consideração os alimentos que mais comumente causam processos alérgicos na espécie, que são, segundo Haroutune, a carne bovina, a carne de frango, os laticínios, o trigo e a soja. “É importante ressaltar que existe um contexto para a restrição destes alimentos, pois a sua ingestão não é contraindicada, nem mesmo oferece riscos em pacientes saudáveis”, sublinha.
Mas Mariana lembra que alergia alimentar só ocorre caso o animal tenha alteração genética que ocasione esse processo alérgico. “Nesses animais, segundo a literatura, os ingredientes que causam mais alergia são proteínas de origem bovina e de frango, como já mencionado pelo colega. Mas isso só ocorre se o animal possui alergia alimentar, nos demais são ingredientes excelentes”, reforça.
Mudança correta
Ao mudar a alimentação do pet que esteja apresentando algum problema dermatológico, alguns sinais são indicativos de que o novo alimento foi bem recebido pelo organismo do cão. “Melhora nas manifestações clínicas, caso o pelame esteja seco, ele começa a ficar brilhante. Se está com queda, ela começa a diminuir”, declara e Leandro acrescenta: “Sob a dieta adequada, os pacientes tendem a ter uma rápida evolução positiva. É notável que o pelame volte a ser uniforme, vistoso, acompanhado do cessar da disqueratinização ou seborreia e a normalização da queratinização”.
Para encerrar, Mariana Porsani compartilha que muitos tutores gostam de fornecer alimentos com objetivo de melhorar o pelame do animal ou desejam uma alimentação mais saudável. “Mas, antes de pensar em suplementação, é necessário avaliar se o animal recebe alimentação adequada, seguindo as necessidades nutricionais de acordo com a idade, faixa etária e fase de vida”, corrobora.