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Pets e Curiosidades

Socialização precoce de cães ajuda a evitar problemas comportamentais no futuro

Exposição a estímulos faz com que o filhote se torne confiante, curioso e tenha maior capacidade de aprendizagem
Por Cláudia Guimarães
filhotes cães
Por Cláudia Guimarães

Problemas comportamentais, tão comuns em cães, infelizmente, são os principais motivos de eutanásia e abandono animal. Pensando nisso, os médicos-veterinários têm como dever orientar os tutores com o objetivo de evitar problemas como estes e a melhor fase para isso é quando ainda são filhotes.

O médico-veterinário Gonçalo Pereira informa que o processo de mielinização (responsável pelo aumento da velocidade da condução elétrica dentro do neurônio e entre neurônios) dos nervos, associado às funções básicas de alimentação, equilíbrio e ajuste de postura, tem o seu início logo após o nascimento (OVERALL, 2013). No entanto, a deposição de mielina, na maioria dos circuitos neuronais restantes, faz-se de forma progressiva, coincidindo, também, com as alterações progressivas de comportamento, típicas de cada etapa do desenvolvimento do animal (FOX, 1971).

A falta de estimulação na infância poderá levar os filhotes a uma reatividade aumentada, sobretudo, a estímulos táteis, como o toque (Foto: reprodução)

“A mielinização do córtex cerebral progride mais rapidamente após esse período. Por volta das oito semanas, por exemplo, o cérebro de um filhote produz padrões de eletroencefalograma já semelhantes aos de um cão adulto. Mas, a partir da décima semana, esse processo de mielinização começa a abrandar, tornando-se relativamente estável por volta das 14-20 semanas (FOX, 1971; OVERALL, 2013)”, explica.

Períodos de desenvolvimento comportamental

Os períodos de desenvolvimento comportamental de cães e gatos, embora variem em sua duração, seguem a mesma sequência de eventos em todos os indivíduos, conforme explicado pelo profissional. “Assim, durante o desenvolvimento intrauterino, os padrões comportamentais do indivíduo começam a ser moldados. Apesar de não existirem muitos dados relacionados a cães, as evidências científicas alertam para a necessidade de se garantir um ambiente adequado ao animal gestante, para que o desenvolvimento da ninhada possa ser equilibrado. Vários estudos em seres humanos evidenciaram que a exposição da mãe a situações de estresse, que geram níveis elevados de cortisol durante o desenvolvimento embrionário, afetam o comportamento futuro do bebê, assim como sua capacidade cognitiva e o padrão comportamental (BERGMAN; SARKAR; O’ CONNOR; MODI; GLOVER, 2007)”, cita.

Logo após o nascimento, durante o denominado “período neonatal”, Pereira indica que o recém-nascido deverá receber contato e relacionados por parte de humanos, para que fique habituado e familiarizado com ele, o que resultará não apenas em um animal mais confiante e curioso, mas, também, com uma maior capacidade de aprendizagem e emocionalmente mais estável (SELYE, 1952; FOX, 1968; GAZZANO, MARITI, NOTARI, SIGHIERI; MCBRIDE, 2008). “Pelo contrário, a falta de estimulação, nessa fase, poderá levar os filhotes a uma reatividade aumentada, sobretudo, a estímulos táteis, como o toque (OVERALL, 2013)”, revela.

Durante a fase seguinte, no de transição, inicia-se a interação do filhote com outros indivíduos, começando, assim, a construir os padrões de comportamento social do futuro adulto. “Já, nesse período, os filhotes não serão apenas beneficiados pela exposição a novos estímulos auditivos e visuais, como também, pelo contato com outros cães, sempre de forma controlada, positiva, gradual e por curtos períodos de tempo (LANDSBERG et al., 2013 ; GERAL, 2013)”.

Contato com outros cães, sempre de forma controlada, positiva, gradual e por curtos períodos de tempo, é recomendado (Foto: reprodução)

Depois, entra-se em um período importante, chamado de “período de socialização” pela maioria dos autores. No geral, conhecido como um “período crítico”, é, na verdade, mais corretamente denominado “período sensível” (OVERALL, 2013). “Para Global (2013), o termo ‘sensível’ apresenta algumas vantagens, tais como: (1) não implica uma lesão temporal, uma vez que se leva em consideração a variabilidade individual – diferentes indivíduos poderão ser beneficiados por uma exposição mais precoce e outros , por uma exposição mais tardia; (2) não é exclusivo, uma vez que a não exposição a outros animais, nessa fase, não significa necessariamente um impedimento à aprendizagem em uma exposição mais tardia, nem o aparecimento de uma doença comportamental no futuro; e (3) engloba tanto o processo de socialização quanto o de habituação. Uma vez que, nesse período, o córtex cerebral se encontre suficientemente desenvolvido, já poderá começar a associar estímulos específicos às emoções negativas, secundárias ao medo”, discorre.

Além disso, Pereira menciona que o filhote começa a memorizar experiências que absorvem como negativas e que poderão influenciar seu futuro comportamento social (FOX, 1971; FOX; BEKOFF, 1975). “Entretanto, esse é um mecanismo de aprendizagem normal que promove a adaptação do animal ao ambiente (OVERALL, 2013). Portanto, quando, do ponto de vista neurológico, o filhote se torna apto a responder a um determinado estímulo, beneficia-se da exposição a este. Pelo contrário, se não for exposto ao estímulo, terá uma maior predisposição para o desenvolvimento de problemas comportamentais, relacionados a esse estímulo (SCOTT, 1963; BACON; STANLEY, 1970; SERPELL; JAGOE, 1995; OVERALL, 2013)”, explica.

Contudo, o acesso aos novos estímulos deve ser assegurado e realizado de forma controlada e associada a algo positivo. “Tal associação positiva deve se referir tanto ao tipo de estímulo quanto ao que o animal terá de se relacionar na vida futura. Na ausência de uma exposição a esses estímulos, poderá desenvolver-se um comportamento inadequado de brincadeira, medo do desconhecido (neofobia), sobrerreação dos filhos (hipersensibilidade aos filhos), de pessoas e/ou de outros animais (OVERALL, 2013). Uma vez que o medo está na base da maioria dos problemas de agressividade, será possível prevenir ambos os problemas comportamentais. Então, pode-se concluir que esse período sensível é uma fase de desenvolvimento de padrões de comportamento social (SCOTT; FULLER, 1965), sendo, por isto, de extrema importância”, avalia.

FAQ

Por que o período sensível é considerado tão importante para o desenvolvimento comportamental dos filhotes?
Porque é nessa fase que os filhotes começam a construir padrões de comportamento social e a associar estímulos a experiências emocionais. A exposição positiva e controlada a novos estímulos durante esse período pode prevenir problemas comportamentais futuros, como medo excessivo ou agressividade.

Quais são os impactos da falta de estimulação durante o período neonatal em filhotes?
A ausência de estímulos no período neonatal pode levar a um aumento da reatividade a toques e a outros estímulos tácteis, resultando em animais menos confiantes, emocionalmente instáveis ​​e com menor capacidade de aprendizagem.

Como a exposição ou ausência de estímulos pode afetar o comportamento social dos filhotes no futuro?
A exposição ou ausência de exposição a estímulos pode predispor os filhotes a desenvolverem comportamentos inadequados, como neofobia, hipersensibilidade e medo de outros animais ou pessoas. Esses comportamentos se manifestam como agressividade ou problemas sociais na vida adulta.

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