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Clínica e Nutrição

DERMATITE TROFOALÉRGICA PODE SER SOLUCIONADA COM DIETA DE ELIMINAÇÃO

Por Equipe Cães&Gatos
dermatite
Por Equipe Cães&Gatos

Cláudia Guimarães, da redação

claudia@ciasullieditores.com.br

Alguns cães apresentam reações adversas a determinados alimentos. Essa resistência agrupa-se em duas categorias: de origem imunológica e de origem não imunológica. Entre os tipos de reações, está a dermatite trofoalérgica, também conhecida como alergia alimentar. Ela é definida como uma resposta anormal do sistema imune contra a ingestão de algum alimento ou ingrediente.

De acordo com o médico-veterinário com ênfase em Nutrologia Veterinária, Fabio Teixeira, para atingir um bom diagnóstico desse tipo de dermatite, é preciso iniciar a consulta por uma boa anamnese, seguido de uma anamnese nutricional. “Temos, também, que excluir os diferenciais da doença, como a Dermatite Atópica Canina (DAC), que pode estar causando os pruridos. Após a dispensa dessa hipótese, realizamos a dieta de eliminação e a dieta provocativa e, assim, conseguimos bater o martelo e dizer que nosso paciente sofre de dermatite trofoalérgica e, desta forma, encontrar a melhor manutenção da doença”, expõe.

Dieta de eliminação. O princípio desse regime, de acordo com o profissional, é eliminar do animal os trofoalérgicos que, supostamente, são responsáveis pelos problemas cutâneos. Esse tipo de dieta objetiva um desaparecimento considerável das lesões. “Temos que investigar o que o pet vem ingerindo atualmente e tentar observar o que ele come desde que era filhote, pelo menos os principais alimentos. Além disso, o veterinário responsável deve checar com o tutor se o animal já passou por uma dieta como essa”, frisa. Segundo ele, é difícil para o proprietário entender que é preciso realizar, novamente, a mesma dieta de eliminação caso ele tenha ofertado algo além do prescrito, pois isso atrapalha a análise.

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Não há predileção por sexo, raça ou idade,embora a maioria dos casos ocorra em cãesjovens (Foto: reprodução)

Os principais alimentos considerados alérgenos são: carne bovina, produtos lácteos e trigo. Um estudo realizado em 2006 e citado por Teixeira mostra, ainda, que entre os ingredientes alergênicos de mais relevância no Brasil estão: carne bovina, arroz e carne de frango. “No entanto, existem vários outros produtos que podem causar alergia, por isso não podemos estipular que tal alimento causa reação alérgica, porque não é real. Significa, apenas, que aquele paciente, especificamente, possui intolerância àquele ingrediente”, salienta. Ele também cita que, mesmo o coelho e o peixe, carnes muitas vezes utilizadas em dietas de eliminação, podem ser alergênicos a alguns pacientes.

Teixeira conta que este tipo de dieta pode ser administrada com alimentos caseiros ou comerciais. “Normalmente, prefiro começar com o caseiro porque, assim, é possível reduzir a quantidade de ingredientes e, com isso, minimizo a possibilidade de conter algum alérgico nessa dieta”, expõe. É orientado oferecer essa alimentação cerca de um mês e, caso o animal responda de maneira favorável, o veterinário deve passar a oferecer suplementos a base de ômega 6 ou 3, para ter acréscimo de gordura, seguido pela suplementação de vitaminas e minerais. “Tentamos manter o animal com a dieta desbalanceada o mínimo de tempo possível. Esse período pode ser maior caso o pet demore mais para apresentar melhora”, salienta.

Outras tentativas. Seguindo a fase de dieta caseira, Teixeira diz que o pet pode passar a receber uma alimentação hipoalergênica ou, ainda, voltar para o alimento que recebia antes. “Essa tentativa serve como um teste para avaliar se o pet volta a se coçar e aí podemos iniciar a dieta provocativa. Mas vale lembrar que, quando o tutor não tem disponibilidade de preparar a alimentação ou quando o pet é mais seletivo a ponto de receber a alimentação caseira uma vez e não aceitar mais ração, podemos pensar em fazer a dieta de eliminação com alimentos industrializados e hipoalergênicos”, sugere.

Muitas vezes, como menciona o profissional, os tutores mais adeptos à alimentação caseira querem variar a dieta já estipulada para os pacientes. “Alguns trabalhos mostram que esses animais podem passar a desenvolver alergia a outros componentes da dieta. Mesmo que hoje ele aceite cordeiro, pode ser que daqui dois anos, por exemplo, demonstre alguma reação e, se ele já recebe diversas opções de alimentos, ficamos restritos em relação à mudança da dieta por essa nova necessidade”, aponta.

O veterinário, portanto, defende um diálogo claro com o tutor para destacar que qualquer modificação realizada pode comprometer o balanceamento da dieta. “Temos, cada vez mais, casos de deficiências nutricionais sendo diagnosticadas, principalmente, nesses animais que recebem alimentação restrita ou, muitas vezes, de pets saudáveis que não precisavam dessa dieta, mas as recebem porque o proprietário defende a alimentação natural”, garante.

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Comida caseira balanceada acaba sendo mais carado que a industrializada (Foto: reprodução)

Dieta provocativa. Após a dieta de eliminação, os veterinários costumam propor desafios alimentares provocativos, que os ajudam a confirmar intolerâncias alimentares dos pacientes. “Os cães podem ter alergia a até cinco ingredientes, por isso, muitos veterinários sugerem uma reintrodução completa da dieta antiga do cão para confirmar reações. Outros recomendam a introdução de um alimento de cada vez. Embora isso possa localizar facilmente os alimentos individuais, algumas alergias alimentares são intensificadas quando os ingredientes são combinados”, lembra.

Teixeira também orienta o acréscimo de suplementos alimentares em combinação com a dieta definida para o paciente. “Os ômegas e gorduras são importantes constituintes da pele e, além disso, o ômega 3 participa do processo anti-inflamatório. A deficiência de ômegas 3 e 6 está ligada a alterações relacionadas a pele, entre outras”, sinaliza.

O profissional considera importante a tentativa da dieta provocativa, mesmo que o tutor não queira que o animal se coce de novo. “Só assim sabemos o que ele pode ou não comer e não estendemos esse risco por toda a vida do animal. Fazer esse tipo de regime em animais idosos é um grande desafio, na maioria das vezes”, relata.

Relato de caso. O profissional lembra a ocorrência de uma Pug fêmea castrada, de seis anos, que chegou em sua clínica. “Ela possuía algumas alopecias avermelhadas e a grande queixa da proprietária era que o animal se coçava muito. Além do prurido, havia lesões espalhadas por todo o corpo. No histórico alimentar ela recebia, desde a idade adulta, alimento para pele sensível e não possuía histórico de ectoparasitas. Então, não havia necessidade de mudança de alimento”, narra. Inicialmente, ele realizou um raspado de pele e, como primeiro diagnóstico, detectou uma piodermite superficial. “Tratei com antibiótico e a cadela apresentou melhora parcial do quadro no primeiro mês de tratamento. Mas, como ela não teve melhora 100%, passamos para o raciocínio das alergopatias e, então, detectei dermatite trofoalérgica.

Foi aplicada uma dieta de eliminação à base de arroz integral cozido e cação, considerando a necessidade energética do animal, o que resultou, em um período de quatro semanas, o controle do prurido. “Conseguimos o objetivo da dieta de eliminação: minimizar as lesões e aí passamos para a fase provocativa”, descreve.

Por fim, Teixeira conta que, nesse caso, os ingredientes estipulados foram o arroz cozido, cação, óleo de peixe e suplemento vitamínico mineral. “O objetivo era que ela perdesse peso, que perdesse os antígenos que causassem coceira e que tivesse um alimento completo e balanceado”, enumera. No entanto, ele conta que a Pug não aceitava óleo de peixe, que foi substituído por óleo de girassol, e a tutora não forneceu o suplemento porque achava muito caro. “Muitas pessoas têm a ideia de que a comida caseira é mais barata que a industrializada, mas, quando colocamos na ponta do lápis, em relação a quantidades adequadas e suplementação, vemos que a caseira é mais cara, principalmente em animais grandes”, alerta.

Fabio Teixeira é médico-veterinário Mestre pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP), e doutorando do Departamento de Clínica Médica da instituição (Foto: C&G VF)

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