Gabriela Salazar, da redação
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O que você queria ser quando crescer? Muitos idealizavam a profissão de bombeiro. A nobreza das atitudes destes profissionais não faz parte somente do imaginário infantil. Suas ações provocam comoção a todos que acompanham suas missões de resgate. Mas, por entre os escombros e buscas por desaparecidos, muitas vezes, o profissional não está só.
O faro e a conduta fazem dos cães importantes aliados em regastes, como o ocorrido no início de maio no Largo do Paissandu, na capital paulista. O incêndio, que atingiu um prédio que abrigava centenas de famílias, desencadeou um desabamento em instantes. Com a queda, o trabalho dos profissionais tornou-se uma luta, entre vida e morte, e a destreza dos cães se fez fundamental.
O trabalho do canil do Estado de São Paulo possibilitou o resgate de diversas pessoas, entre elas, o de uma criança de oito anos. Ação, que o sargento do Corpo de Bombeiros, Ricardo Oliveira dos Santos, presente há 18 anos na instituição, pontua como marcante. “Um cão consegue localizar uma pessoa muito mais rápido que um grupo de homens. Isso poupa tempo e esforço desnecessário na busca de vítimas”, ressalta o profissional.
Os animais também são importantes aliados na busca por corpos e, para isso, necessitam de um treinamento especifico. Atualmente, no canil paulista, apenas uma cadela exerce essa função. A Vasty, considerada a mais experiente, com quase sete anos de idade, conseguiu realizar diversas localizações no acidente da Paissandu. O motivo dela ser a única com essa especialidade de busca na corporação é pela dificuldade de conseguir o material sintético necessário para o treinamento.
Entre as raças mais utilizadas para estas funções estão labradores e os pastores holandeses, belgas e malinois. “A preferência por essas raças se dá pelo temperamento, curiosidade, drive de caça, afeição com brincadeiras, interação com pessoas, entre outros. Hoje, estamos com oito cães. Sendo quatro adultos, prontos para o serviço, e quatro filhotes em treinamento”, afirma o sargento, que atua nos cursos de cinotecnia, voltados ao treinamento dos cães.
Primeiro regaste por um cão no Brasil ocorreu em 2001,na zona leste de São Paulo (Foto: reprodução)
A excelência do trabalho tanto dos profissionais quanto dos animais que os acompanham vem de um rigoroso processo que vai além do treinamento. Os cães possuem um calendário veterinário, contendo vacinas, controle de ectoparasitas, pesagem, entre outras atividades necessárias para o bem-estar animal.
Para garantir o foco, eles não são submetidos à castração. A medida é necessária, segundo o Sargento Clóvis B. de Souza, do Canil Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, para que não haja interferência no comportamento natural. “Os cães machos acabam perdendo a atenção mais facilmente, pela necessidade de marcar território ou por sentirem o cheiro de fêmeas no cio, por exemplo”, explica. Motivo que leva o batalhão paulista a possuir apenas cadelas em seu canil.
Os treinamentos costumam durar aproximadamente dois anos. “Nesse período, são realizados vários treinos e testes para que o cão seja considerado apto ao trabalho”, ressalta Santos. Neste ano, o canil elaborou uma prova de certificação para poder testar a ação da dupla “homem e cão”. Essa relação se perpetua até o findar da carreira do animal, que acontece aos oito anos, quando começa a ser observado um menor rendimento.
Mais que profissional. O laço, no entanto, pode se perdurar, já que o treinador é a primeira opção de tutor para o cão em sua aposentadoria. Quando o responsável na corporação não tem condições de adotá-lo, o animal é encaminhado a uma família que possua uma situação financeira adequada para as necessidades do animal, além de um espaço grande para mantê-lo. Mas a característica principal para que tudo isso seja possível na visão de Santos é o amor! “Pelos cães e pelo próximo. Porque não é fácil conseguir deixar um cão apto para o serviço”, pontua.
Sentimento esse que tem sido alimentado há muito pela corporação. Em setembro, o canil paulista completa 20 anos e coleciona histórias, tanto de resgates quanto de união, entre o homem e o animal. “A iniciativa de instituir o canil foi do Major Wilker e do Tenente Pugliese, que verificaram a necessidade de oferecer um tempo de resposta maior para a busca de vítimas soterradas ou sob escombros e observaram os bons resultados das equipes de resgate com cães em países como Estados Unidos, México, Chile, Colômbia, Espanha e Japão”, narra a assessoria da instituição em nota.