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Além dos problemas já conhecidos, obesidade pode afetar senso de direção dos gatos

Por Equipe Cães&Gatos
gato obeso
Por Equipe Cães&Gatos

Cláudia Guimarães, da redação

claudia@ciasullieditores.com.br

Muito se fala e, por isso, já sabemos que um gato obeso tem a expectativa de vida reduzida por conta dos outros inúmeros problemas de saúde que a obesidade pode trazer. Como lembrado pela médica-veterinária especializada em endocrinologia de cães e gatos, em Medicina Felina e em neurociências, Hilka Fatima Frison Mendes Neves, a obesidade é definida como acúmulo excessivo de tecido adiposo no corpo, suficiente para prejudicar as funções fisiológicas do organismo.

Ela conta que a doença ocorre por conta do desequilíbrio entre energia consumida e energia gasta e se resulta, longamente, em superávit calórico. “É um fator de risco para o desenvolvimento de diversas doenças, como diabetes mellitus, prejuízos osteoarticulares associados à sobrecarga, afecções respiratórias, urinárias (cálculos e infecção urinária), inflamação crônica, entre outras”, enumera.

Mas, além disso, você sabia que a obesidade pode afetar o senso de direção dos felinos? Hilka conta que as vibrissas (os bigodes dos gatos) são receptores de pressão, tato e vibração que informam o cérebro, por meio de nervos, sobre o que está em seu entorno. “Gatos enxergam melhor de longe e têm boa habilidade auditiva em relação aos cães. As vibrissas ajudam a compensar um déficit na visão à curta distância e faz com que eles sintam os objetos próximos. Caso ganhem peso, suas vibrissas não se alongam para manter uma compensação do senso espacial, entretanto, costumam se compensar de outras formas, principalmente pela aprendizagem, como onde conseguem ou não entrar, uma vez que tenham crescido ou ganhado peso”, revela.

Ademais, a veterinária destaca que gatos de dimensão semelhante podem ter vibrissas de dimensões diferentes, assim, seu tamanho não prediz sua funcionalidade. “Cabe lembrar que, nessa região, eles também apresentam feromônios que dispersam no ambiente, objetos e pessoas, por meio do contato, ‘marcando’ essas pessoas e esse espaço como seu. É uma forma de expressar afeto dos felinos”, adiciona.

A profissional ainda salienta que as vibrissas dos felinos ajudam a orientar por eles onde podem passar. “Se passariam por determinados vãos/espaços ou não. Porém, caso quebrem suas vibrissas ou engordem a ponto de perder a referência espacial do próprio corpo, em teoria, poderiam projetar se cabem ou não em determinados espaços, por meio de experiência, observação e projeção, o que poderia ‘compensar’, de certa forma, a ineficiência dessa relação vibrissa-corpo. Entretanto, isso ainda não está comprovado e é uma afirmação baseada na observação do comportamento de felinos”, sublinha.

Caso os gatos ganhem peso, suas vibrissas não se alongam para manter uma compensação do senso espacial, entretanto, costumam se compensar de outras formas (Foto: reprodução)

Gatos, então, sentidos extras?

Hilka declara que os mecanorreceptores são parte do sistema sensorial somático dos animais e são encontrados em, praticamente, toda a pele. “Esses receptores percebem as diferentes pressões sobre a pele e é por meio deles que a sensação do tato é percebida no cérebro. Também participam da coordenação espacial e estão distribuídos nas diversas espécies de várias formas, incluindo invertebrados e vertebrados. Esses mecanorreceptores estão em abelhas, ratos, focas, leões marinhos, morsas e até morcegos, que associam essa ‘tecnologia’ ao seu radar por sonar. Podem se apresentar como pelos ou vibrissas associadas ao receptor”, discorre.

Os humanos, segundo a profissional, também têm mecanorreceptores nas articulações e na pele (especialmente nas mãos e pés). “Assim, não são estruturas exclusivas dos felinos, estando presentes de diversas formas no reino animal e auxiliam na proteção e na localização. Inclusive, sabe-se que a localização de presas se dá em alguns animais marinhos com o auxílio das vibrissas (inclusive, focas cegas conseguem caçar e comer se orientando dessa forma). Além disso, há estudos de tecnologia que se inspiram nesses receptores para desenvolver sensores em sistemas artificiais robóticos”, cita.

Sendo assim, não, os gatos não têm esse superpoder, mas, de qualquer forma, voltando ao ponto central desta reportagem, os tutores não podem permitir que seus felinos sejam acometidos pela obesidade. A veterinária especializada em Medicina Felina informa sobre um estudo importante na nutrologia e metabologia dos pets, que mostra que cães que tiveram alimentação em livre demanda viveram menos que animais que comeram um pouco a menos do que quem comia à vontade. Os pacientes do grupo que comia à vontade atingiram sobrepeso e obesidade e tiveram longevidade de dois anos a menos em relação aos que tinham alimentação controlada, destacando que todos tinham acesso a exercícios”, indica.

Há ainda, de acordo com Hilka, correlação entre obesidade e câncer, sendo, hoje, profundamente questionado o status pró inflamatório que o paciente obeso apresenta e sobre como isso pode colaborar para surgimento de câncer. “Os cânceres também são doenças de origem multifatorial e a obesidade seria um fator predisponente que favorece a doença. Ademais, pacientes oncológicos, em caquexia oncológica, têm quadros sistêmicos piores quando anteriormente eram obesos”, revela.

Enriquecimento ambiental pode ajudar o gato a perder peso e a evitar o sobrepeso (Foto: reprodução)

Exercícios são bem-vindos!

A veterinária assegura que treinar e condicionar gatos é plenamente possível, assim como com os cães, porém requer tempo e flexibilidade do tutor. “Muitos tutores começam a se interessar por felinos, especialmente por sua característica de autonomia e independência. Entretanto, é nesse momento que os vejo como pets mal compreendidos, pois adoram brincar com seus tutores (e precisam disso, como exercício e estímulo cognitivo), porém, é laborioso, já que cada gato gostará de um grupo de brincadeiras não necessariamente iguais aos que o outro felino, da mesma casa, talvez goste”, sinaliza.

Assim, o enriquecimento ambiental é fundamental para felinos, mas Hilka lembra que os gatos não têm o botão do “auto-brincar”. “Logo, nesse caso, vale de tudo, ipad/tablet para o felino brincar, penas, fitas, lagartixas e baratas de plástico. Existe até ‘rodinha de rato’ para gato. Mas é preciso condicioná-los e ensiná-los a como utilizar cada brinquedo. Usar catnip (a famosa erva do gato) também anima alguns felinos para brincar. Se seu gato não tem iniciativa alguma para brincadeiras, desde jovem, pode ter doença cardíaca, articular ou até infecciosa (entre outras) e deve ser avaliado por um médico-veterinário, pois não é um comportamento normal. Pode haver dor, doença ou até cansaço envolvidos na causa dessa aparente ‘indiferença’, alerta.

Isso também vale para os cães, de acordo com a profissional, e ao longo da vida também. “Há animais que nascem com algumas doenças, outros podem desenvolver com a idade. Há várias doenças que podem levar a um ciclo vicioso de obesidade-sedentarismo, como doença osteoarticular, cardiopulmonar grave, diabetes mellitus, hiperadrenocorticismo”, elenca.

Reforçando, o melhor manejo para o gato obeso, nas palavras de Hilka, é nunca ter engordado, pois, geralmente, se trata de um tratamento desafiador. “Não digo isso para desencorajar, mas para sempre termos isso em mente e levarmos nosso gato para acompanhamento veterinário antes que o quadro se agrave demais. A perda de peso requer engajamento da família, cooperação por parte do paciente e investigação de doenças concomitantes ou deflagradoras da obesidade”, diz.

Assim, é importante que o paciente seja avaliado por um clínico com boa experiência na área ou com um especialista (em endocrinologia ou Medicina Felina) para triagem das condições pré existentes. “Geralmente, o tratamento inclui dieta de baixa caloria (mix feeding sendo uma parte dieta úmida e uma parte dieta seca), controle de dor (por meio de medicação, fisioterapia, acupuntura), estímulo ao exercício (fisioterapia, e/ou enriquecimento ambiental e brincadeiras com tutor). Também é importante lembrar da maior predisposição que eles têm à lipidose hepática, acúmulo de gordura no fígado que leva à hepatite quando há perda de peso abrupta em felinos. Seja por motivo de dieta ou de doença, se um gato obeso/em sobrepeso perde peso muito rápido, poderá ter essa complicação associada ao quadro”, informa.

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