Grupo da USP visa encontrar maneiras para produção de fármacos para humanos
Pesquisadores do Instituto de Biociências, da Universidade de São Paulo (IB-USP, São Paulo/SP) começam a desvendar os mecanismos moleculares pelos quais o parasita causador da leishmaniose cutânea consegue driblar as defesas do organismo hospedeiro e infectar novas células.
De acordo com as informações relatadas pelo grupo da USP na revista Scientific Reports, o simples fato de o patógeno entrar no macrófago – célula de defesa que representa o principal alvo da Leishmania nos mamíferos – é suficiente para alterar a expressão gênica no hospedeiro. Como resultado, há uma diminuição na síntese de óxido nítrico, uma espécie de “arma química” usada pelo sistema imune no combate a invasores. “Nossa linha de pesquisa tem como objetivo entender como se dá essa interação entre a Leishmania e o macrófago para, assim, identificar alvos moleculares que permitam interromper a infecção e matar o parasita”, conta a professora do Departamento de Fisiologia do IB-USP e coordenadora do projeto, apoiado pela Fapesp, Lucile Maria Floeter-Winter.
Entrada do parasita na célula hospedeira aumenta aexpressão de certos microRNAs capazes de inibira ação do sistema imune (Foto: reprodução)
Nos experimentos mais recentes, os cientistas infectaram macrófagos de camundongos com protozoários da espécie Leishmania amazonensis. As culturas celulares foram divididas em dois grupos: um recebeu o parasita “selvagem” (sem alteração genética) e, o outro, uma linhagem modificada no laboratório para não produzir uma enzima chamada arginase.
Os resultados mostram que o parasita selvagem aumentou a expressão de 78% dos 84 microRNAs (pequenas moléculas de RNA que não codificam proteínas, mas desempenham função regulatória em diversos processos celulares) analisados no macrófago. Já a linhagem sem arginase aumentou a expressão de apenas 32% dessas moléculas. “Isso evidencia que o fato de o parasita não produzir arginase faz com que o macrófago responda de forma diferente à infecção”, avalia Floeter-Winter.
O grupo chegou a levantar a hipótese de que a enzima arginase poderia ser um alvo interessante para o desenvolvimento de fármacos contra a leishmaniose. No entanto, a ideia não se mostrou factível. Por estarem localizados no citoplasma do macrófago, os microRNAs miR-294 e miR-721 aparentam ser alvos mais promissores, na avaliação da pesquisadora.
Para avançar nesse entendimento, segundo ela, o próximo passo é repetir o experimento usando macrófagos de uma linhagem diferente de camundongo. “Inicialmente usamos uma linhagem chamada BALB/c, que é suscetível à infecção por Leishmania. Agora vamos usar macrófagos da linhagem Black-C57, que é resistente ao parasita. Queremos ver, nesse contexto, o que acontece com a expressão de microRNAs após a infecção”, afirmou.
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