Male e Tabanez explicam: mesmo doentes, não há evidências de que eles possam transmitir aos humanos
Cláudia Guimarães, em casa
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“As informações sobre o novo coronavírus mudam a cada dia, não existe verdade absoluta sobre ele, até então. Hoje, o que é considerado uma veracidade, amanhã pode vir ao chão por conta de novas considerações”. Essa fala do infectologista, imunologista, clínico e cirurgião geral, Paulo Tabanez, resume bem a chuva de informações sobre o novo coronavírus e seu risco aos animais.
Em uma live realizada no perfil do Instagram da médica-veterinária que atua em Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais, particularmente com a espécie felina, Maria Alessandra Del Barrio, conhecida carinhosamente por Male, os dois profissionais tentaram sanar as dúvidas sobre a relação da nova espécie de coronavírus que já conta com alguns casos de testes positivos em animais e, até mesmo, de animais considerados doentes por conta do vírus.
Male relembra que o primeiro caso em animais surgiu na China e foi de um cão, cuja tutora estava contaminada com o novo coronavírus. “É de praxe no País, se o tutor está com a doença, testarem os animais. Ele foi testado e obteve resultado de fracamente positivo, ou seja, identificaram carga baixa do vírus”, narra. O animal tinha 17 anos, era cardiopata e nefropata, foi afastado da tutora e ficou nas mãos do governo, sendo submetido a testes por mais de 10 dias, conforme relata a profissional. “Após perceberem que não havia mais vírus, liberaram ele para voltar pra casa. Mas, logo depois que chegou, o pet morreu. Morreu de Covid-19? Não. Tinha todas essas condições geriátricas, pode não ter bebido água ou se alimentado direito enquanto estava isolado e isso pode ter contribuído para o desfecho da história”, adiciona.
A veterinária menciona o segundo caso: um pastor alemão de Hong Kong, de 2 anos, cujo tutor era positivo para Covid-19. Mas Tabanez firma que pode ter sido contaminado apenas por contato, uma vez que não foi isolado vírus no animal . “Só com a detecção de RNA não conseguimos concluir muita coisa”, afirma.
Alguns animais foram contaminados, infectados edesenvolveram a doença, como tem ocorridocom os humanos (Foto: reprodução)
Male também relata o caso do gato belga, cujo proprietário ficou doente após viagem para a Itália. “Quando o tutor apresentou sintomas e foi diagnosticado com a doença, o gato apresentou os mesmos sinais respiratórios e gasto entéricos. O médico do paciente recomendou que o animal passasse pelo teste. Vale lembrar que ele não foi examinado por nenhum veterinário e não fez nenhum outro exame para saber se havia possibilidade de os sintomas serem referentes a outra comorbidade”, considera.
Covid-19 x felinos. Male assegura que existe o risco de gatos se infectarem e, inclusive, de ficarem doentes, porque o receptor do vírus é o mesmo do humano. “É preciso entender o que é pandemia: é o mundo todo fechado para balanço. Até o indivíduo que tem menos chances de se infectar, pode se infectar e isso, talvez, também seja o caso dos animais”, destaca. Para Tabanez isso não seria inesperado: “Não terá surpresa se um cão ou gato ficar doente com Covid-19, mas, sim, se isso virar uma pandemia entre os animais, assim como está ocorrendo entre os humanos. O que é importante lembrar é que os animais ficarem doentes não significa que serão infectantes e transmissores aos humanos. É bem diferente: eu posso me infectar, ficar doente, mas não eliminar carga viral suficiente para infectar outras pessoas”, discorre.
Sobre os casos relatados em grandes felídeos, no Zoológico do Bronx (EUA), Male informa que não se trata apenas de um tigre doente: “A primeira foi a tigresa de 4 anos, depois, sua irmã e mais dois outros tigres, além de três leões africanos. Ao todo, são sete grandes felídeos, que apresentaram sinais respiratórios de tosse seca. Eles não emagreceram, nem tiveram perda de apetite. Foram examinados pelos veterinários, mas não identificaram provável causa para esses sintomas. Com o teste de RT PCR, apresentaram alta carga viral para SARS COV-2”, expõe.
Como método de higiene, um pano umedecido pode serpassado no pelo e patas dos animais (Foto: reprodução)
Estes animais eram tratados por uma pessoa assintomática, apesar de infectada, segundo a veterinária. “Portanto, sobre esse caso, temos, sim, que nos conformar: os animais foram contaminados, infectados e desenvolveram a doença, como tem ocorrido com os humanos”, adiciona. Tabanez complementa a consideração: “A infecção em animais acontece. Não deve mais haver dúvida sobre isso, mas sobre que animal ficará doente ou não isso, precisamos de mais estudos. Os felídeos dos EUA, sim, ficaram doentes”.
Cuidados com os pets. Por conta dessas últimas considerações sobre o novo coronavírus, Male recomenda que quem possui um animal e está doente com Covid-19 deve fazer isolamento do pet. “Pessoas doentes não devem ser acessadas pelos animais, isso porque não sabemos, ainda, o potencial de transmissão. Ainda não há evidências de que existe esse tipo de transmissão, já que o vírus prefere superfícies lisas, como plástico, aço, papelão, vidro, madeira. As superfícies mais rugosas, como o pelame dos animais, impedem que ele permaneça por muito tempo. O contato do animal para o doente não traz nenhum problema, mas pode trazer para a pessoa negativa, por espalhar as cargas virais de alguma forma”, aponta.
Mas Tabanez também alerta: os tutores não devem passar álcool no animal com a intenção de eliminar qualquer possível vírus: “Isso só causa lesão dermatológica aos animais, mais problemas que benefícios. Novamente: temos estudos comprovados sobre? Não. São resultados do que temos observado e comparamos com o que ocorre entre os humanos: uma pessoa que trabalha em UTI, tendo contato com várias pessoas infectadas, não consegue levar o vírus para a casa, então, com os animais, as chances também são mínimas”, considera.
Portanto, quais cuidados são recomendados, então, para os animais? Male cita a escovação e, para isso, o tutor deve utilizar luva e máscara. “Lembrando que tudo é improvável”, salienta. Tabanez adiciona que um pano umedecido pode ser passado no pelo dos animais e, se possível, os tutores devem evitar que seus cães os lambam, como forma de brincadeira. “Esse pode ser um ponto favorável para os gatos, que não têm tanto contato, assim como os cães”, finaliza.