Foi-se o tempo em que gato era visto como um animal traiçoeiro e frio, não sendo muito considerado na hora da escolha por um pet. A mudança de comportamento e estilo de vida ao longo dos últimos anos ajudou a abrir portas (e janelas) para que, aos poucos, os felinos começassem a ganhar seu espaço nos lares e no coração dos brasileiros.
Não por acaso, a população de gatos nos lares brasileiros cresceu mais do que o dobro em relação à de cães nos últimos seis anos, de acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Atualmente, o País tem mais de 22 milhões de gatos domésticos e a expectativa é de que ultrapasse os 30 milhões até 2022.
Este considerável aumento é atribuído, principalmente, à mudança no estilo de vida das pessoas, explica a médica-veterinária presidente da Comissão Técnica de Bem-estar Animal, do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), Cristiane Pizzutto.
“A população tende a ficar muito tempo fora de casa e a morar em casas e apartamentos menores. Com isso, um gato é o pet ideal, porque há uma certa facilidade do animal se adaptar, assim como esses espaços às suas necessidades”, comenta.
Desde o início da pandemia e do isolamento social por conta da Covid-19, há quase um ano e meio, essa aproximação entre humanos e felinos se intensificou. “O gato é um animal bastante afetuoso e interage bem com o tutor. Como as pessoas deixaram de sair na pandemia, o felino passou a ser uma opção de companhia interessante. Ele cumpriu essa necessidade de sanar o estado de solidão que tomou conta das pessoas”, avalia Cristiane.
Para a médica-veterinária, o gato trouxe acolhimento e conseguiu se adaptar muito bem às condições da pandemia, quando todo mundo teve que ficar isolado. A independência característica desse animal caiu como luva. “Ele não depende, por exemplo, de passeios constantes na rua para fazer as necessidades fisiológicas ou de interagir com o mundo exterior, diferentemente do cão”, aponta. Ele também é capaz de brincar e se entreter em espaços menores.
Guarda responsável
Tanta independência, porém, não significa que os bichanos não precisam de amor, cuidados e atenção. Ao decidir ter um gato em casa, é fundamental saber quais são todos os compromissos e responsabilidades com a guarda responsável, para não ter arrependimentos. “As pessoas precisam conhecer todas essas características do animal, para depois não se decepcionarem e falarem que não era isso que queriam ou imaginavam e, assim, acabar aumentando os índices de abandono”, diz a presidente da Comissão de Bem-estar Animal do CRMV-SP.
Antes de adquirir um gato, é preciso conhecer a espécie e ter ciência de suas necessidades em todos os aspectos, como o dia a dia de manejo, custos com saúde, alimentação e higiene, visitas regulares ao médico-veterinário e vacinação. Outro ponto muito importante, Cristiane, é a adequação do lar, para garantir que o gato desenvolva seu comportamento natural.
“O ambiente tem que trazer segurança e oferecer conforto. É preciso estimular o comportamento de caça, de captura, de forma artificial; colocar atividades à noite, porque é quando estará mais ativo; e fornecer pontos de fuga, para se esconder quando sentir necessidade. Isso tudo proporciona qualidade de vida e bem-estar para esses animais”, destaca a médica-veterinária.
Cuidados
A partir do momento em que se adaptam ao ambiente, qualquer mudança pode deixar os gatos estressados, como explica o médico-veterinário membro da Comissão Técnica de Clínicos de Pequenos Animais do CRMV-SP, Otávio Verlengia. “O gato é um animal que ainda está em processo de adaptação, de domesticação. Ele pode sofrer com interferências no seu ambiente, como a chegada de outros animais, excesso de barulho, nascimento de uma criança, uma visita. Tudo isso pode gerar estresse”, alerta.
Além da ambientação, há outros cuidados que o tutor deve tomar. O pote de água, por exemplo, deve ter a base mais larga para evitar que o gato encoste o bigode nas laterais. Para os felinos que bebem pouco líquido, uma sugestão é disponibilizar água corrente, como uma fonte.
Outra dica do médico-veterinário é em relação à caixa de areia. A limpeza do recipiente deve ser feita no mínimo duas vezes ao dia e ele deve ficar em um lugar tranquilo, para evitar que o gato fique segurando a urina ou as fezes. “Se colocar a caixa ao lado de uma máquina de lavar que faz muito barulho, por exemplo, isso pode assustar o gato e impedir que ele use o local adequadamente. As caixas maiores são as mais indicadas”, recomenda.
A escovação é mais um item importante a ser incluído na rotina de cuidados. Animais com pelagem longa dão mais trabalho e, nesses casos, a escovação deve ser feita ao menos duas vezes ao dia. Já os gatos de pelo curto, escovar uma vez é o suficiente. De acordo com Verlengia, o gato tem o hábito natural de se lamber, e a escovação é importante para evitar que ele ingira muito pelo.
O corte das unhas também é recomendado e deve ser feito, em média, a cada quinze dias. “O tutor deve procurar um médico-veterinário para que ele oriente como realizar o corte da maneira correta”, sugere.
A ida ao consultório, inclusive, pode ser um desafio para os tutores. Para o gato se acostumar com a caixa de transporte, o médico-veterinário indica deixá-la aberta pela casa, à disposição do gato. “Dá para usar feromônios, colocar brinquedos dentro, para que o gato vá se familiarizando com a caixa. O tutor não deve forçar a entrada do animal, para evitar que ambos se machuquem.
Fonte: CRMV-SP, adaptado pela equipe Cães&Gatos VET FOOD.
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