Cláudia Guimarães, em casa
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Acaso ou destino, cada pessoa deve considerar como quiser. Mas foi mais ou menos assim que se iniciou uma história repleta de desafios, superações e muito amor. Simone Gatto estava tratando de sua cachorra em um hospital público quando conheceu Paçoca. O gato foi abandonado no hospital, após um atropelamento que lhe deixou uma marca por toda a vida: o animal ficou paraplégico e o, até então, tutor não quis assumir a responsabilidade, deixando o felino para trás. A, hoje, ativista animal, Simone, estava ali, pronta para assumir a função de nova tutora e cuidar das feridas do corpo e da alma de Paçoca.
Simone conta que sempre comentava com seus filhos que queria adotar um gato que, realmente, precisasse de ajuda, sem nem imaginar que surgiria em sua vida um paraplégico, até pelo desconhecimento de informações sobre esses animais. Essa falta de informação, segundo ela, também foi um grande desafio logo que levou o Paçoca, com dois meses de idade, para a casa. Onde ou com quem buscar auxílio para cuidar dele?
Essa questão foi, facilmente, resolvida pela sua persistência. “Conheci uma fisioterapeuta que me ofereceu o tratamento de forma gratuita, pela Ampara Animal, e fui buscando conhecimento com ela. Observava muito as sessões de fisioterapia, conversávamos sobre soluções para ele dentro de casa e muitas outras formas de melhorar sua qualidade de vida”, narra.

Simone sempre quis um pet especial. Hoje, ela tem três gatos paraplégicos e uma tetraplégica (Foto: divulgação)
Paçoca era apenas o primeiro dos muitos que viriam: Simone começou a adotar outros gatos paraplégicos. “Hoje tenho três, além de uma tetraplégica. Comecei a desenvolver várias técnicas dentro de casa para fazer fisioterapia, para tirar a urina e as fezes adequadamente, para oferecer uma alimentação correta, mas tudo com orientação veterinária. Até porque não poderia tirar da minha mente uma fórmula mágica para cuidar desses animais”, afirma.
Espalhando amor. Não bastando cuidar dos seus, a ativista quis estender esse cuidado a outros animais deficientes. Foi quando criou uma rede de ajuda para pets especiais. “Comecei formando um grupo de dicas para animais deficientes e, hoje, ajudo pessoas de todos os Estados e, até mesmo, do exterior. Quem se interessa, me procura pelas redes sociais, passo um material de apoio que o auxilie a entender as necessidades do animal e analiso como é a casa e a família, o que eles têm para oferecer ao pet, etc. Depois, começo a acompanhar o desenvolvimento, explico a importância da realização de cada passo e as pessoas conseguem, mesmo a distância, aprender os cuidados básicos, coisas simples que fazem a diferença entre a vida e a morte desses animais”, comenta.
Ou seja, assim que conhece a patologia do animal com o diagnóstico veterinário, Simone entra em cena com seus ensinamentos. “Jamais pensei em cobrar por isso, pois já recebi tudo em dobro a cada animal que consigo recuperar. Tenho muita sorte de contar com uma equipe médica à minha disposição. A maioria dos tratamentos que meus gatos fizeram foi gratuita e sei que muitos não têm essa sorte, por isso é o mínimo que eu posso fazer”, considera.
Para a ativista, ela não escolheu trabalhar com os deficientes, mas foi escolhida e aceitou: “Me tornei uma pessoa melhor. Esses seres me fizeram ver a deficiência com outros olhos, me mostraram que, na maioria das vezes, não é só a maldade humana que mata, mas, também, o desconhecimento de causa. Muitos desses animais só precisam que seus tutores aprendam e percebam a necessidade de fazer certas coisas que podem ser essenciais para sua sobrevivência”, destaca.

Seu primeiro paraplégico, o Paçoca, está à frente de muitas iniciativas que visam melhorias para os pets especiais (Foto: divulgação)
Batalhas vencidas. Hoje, Simone declara que não existe mais obstáculos para realizar seu trabalho, mas, no começo, nada foi tão fácil: “Pelo fato do desconhecimento de causa, até atrapalhei, no início, o desenvolvimento do meu primeiro paraplégico, o Paçoca. Nem todos têm condições de tratar esses animais. Conheço várias pessoas que não têm qualificação para cuidar desses seres e me procuram não com a intenção de pedir ajuda e aprender, mas, sim, para ‘desovar’ o animal. Confesso que fico muito chateada, mas tento trabalhar esse tutor para que entenda a importância deste animal ficar com ele. Mexo com a cabeça da pessoa, porque, na verdade, acho que este ser humano precisa muito mais que o animal”, avalia.
A ativista também pôde contar com o auxílio de vários veterinários que a instruíram, passando seus conhecimentos. “A primeira foi Larissa Toyofuko, fisioterapeuta que me fez ver que eu era capaz. Depois, teve o Danny Rafael Peres, acupunturista e tantos outros. Sou grata a todos, pois os meus ensinamentos não são especialistas, mas, sim, uma continuidade deles. Nunca atendi ninguém que não tenha um diagnóstico de um profissional, não indico tratamentos medicamentosos e sempre recomendo o acompanhamento veterinário”, salienta.
Simone não sabe descrever com palavras o que sente quando estes pets especiais a olham nos olhos com gratidão ou quando reclamam por ter que esvaziar suas bexigas. “Quando chego em casa, sei o que cada um deles precisa quando vêm pedir carinho ou quando estão aprontando. São animais extremamente dóceis e amorosos com todos os humanos e outros pets. Também só tenho a agradecer”, compartilha.
Simone e seu gato Paçoca também são conhecidos no campo das melhorias de leis. Ela entrou em contato com o governador Geraldo Alckmin, por conta de um abaixo assinado para conseguir a liberação de animais em transporte público de São Paulo. Também procurou um deputado e elaborou o projeto de lei. Para ter visibilidade, divulgou, por meio da mídia, indo a vários programas de televisão comentar a iniciativa. “Fui vista e, por pura persistência e pressão, consegui a liberação dos ônibus e metrôs para transportar os animais em tratamento”, comemora.