Cláudia Guimarães, da redação
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Com o tempo e as tecnologias em constante evolução encontra-se a necessidade de criação e aprimoramento de diversas técnicas dentro da Medicina Veterinária. Foi por conta dessa instância que pesquisadores deram início à formação de bancos de materiais genéticos no Brasil. Trata-se de unidades de conservação de material biológico para uso imediato ou futuro.
O médico-veterinário e Pesquisador A, da Embrapa Cerrados, Carlos Frederico Martins, aponta que materiais como sangue, pelos, células somáticas, espermatozoides, ovócitos e embriões são armazenados em botijões criogênicos, com a finalidade de identificação de distâncias genéticas e para uso na reprodução de animais por meio de biotécnicas reprodutivas.
Segundo ele, estes bancos são muito importantes para Medicina Veterinária, pois armazenam material genético de animais domésticos e silvestres para diversas finalidades. “Posso citar, como exemplo, espermatozoides e embriões de animais domésticos de mérito genético superior ou interesse para multiplicação; células somáticas para multiplicação e conservação animal, pela técnica de clonagem e estudos ligados à reprogramação nuclear, ciclo celular e expressão de genes; células troco para uso na terapia celular; sangue e pelos para estudos de caracterização e distâncias genéticas”, menciona.
Profissional diz que é preciso pelo menos duas pessoas como responsáveis destes bancos (Foto: reprodução)
Os Bancos de Germoplasma, de acordo com Martins, representam uma importante estratégia para conservação ex-situ, ou seja, conservação fora do lugar de origem. “O desenvolvimento nessa área permitirá a reprodução direcionada de animais de interesse e, consequentemente, proporcionar intercâmbio de material genético entre instituições”, declara e, além disso, o médico-veterinário acredita que este trabalho pode contribuir na preservação da fauna silvestre brasileira, pois colabora com os programas de conservação da biodiversidade.
A Embrapa tem um contrato de cooperação técnica com o Jardim Zoológico de Brasília (DF), desde 2009, onde apoia os processos de isolamento e criopreservação de gametas e células somáticas de animais silvestres do zoológico ou recebidos externamente e que morrem subitamente. “Além disso, a Embrapa realiza treinamentos dos técnicos do Zoológico de Brasília em diferentes biotécnicas reprodutivas, aproveitando o domínio do conhecimento nos animais domésticos”, revela Martins.
O pesquisador também expõe as dificuldades iniciais do Banco de Germoplasma de Animais Silvestres: “Foi difícil determinarmos o melhor momento de coleta após a morte de um animal, a forma de acondicionamento dos materiais para transporte ao laboratório e os meios para cultivo e criopreservação de gametas e células dos diferentes animais”. Porém, hoje, a iniciativa retrata o primeiro banco representativo de mamíferos do cerrado brasileiro. “Atualmente, 543 amostras de 19 espécies estão congeladas, sendo que 16 espécies são da fauna brasileira e três são exóticas”, insere.
Pesquisador afirma ser fundamental aliar a biotecnologia a programas de conservação in-situ (Foto: divulgação)
Além do existente no zoo de Brasília, Martins conta que institutos de pesquisa e universidades, como é o caso da Universidade Federal de Uberlândia, vêm criando novos bancos para terem suas reservas genéticas e também para utilizarem este material armazenado para pesquisas. “Penso que essa é uma iniciativa muito importante para conservação, pois, em todas as regiões do Brasil, há muitas mortes de animais silvestres por atropelamento, devido à falta de corretores ecológicos ou pelo fato de as estradas cortarem corredores sem a devida passagem para os animais”, opina.
Independe do tamanho desses bancos, o profissional diz que é preciso pelo menos duas pessoas como responsáveis pelo cadastramento e inclusão das amostras, além do monitoramento do nível de nitrogênio líquido semanalmente. “Isso sem considerar os técnicos de campo e laboratório para o trabalho de coleta, isolamento celular e criopreservação”, recomenda.
O pesquisador julga importante lembrar que o uso da biotecnologia, associada ao uso dos bancos de germoplasma, é uma forma emergencial de conservação animal, não sendo a principal maneira de promover a conservação de fauna brasileira. “É fundamental aliar a biotecnologia a programas de conservação in-situ, bem como campanhas de conscientização da população para a preservação dos recursos genéticos vegetais e animais de nosso País”, conclui.