Os nossos cães parecem ser dotados de pressentimentos. Eles conseguem prever, por exemplo, a hora da chegada dos tutores e de outras pessoas significativas para eles, o que pode ser explicado por uma espécie de relógio biológico. Mas será que eles também sentem quando os donos estão doentes ou vão morrer?
Quem vive com um cachorro sabe que ele é capaz de detectar o humor dos familiares: isto vale tanto para humanos, quanto para gatos e até mesmo aves. Eles também são capazes de identificar algumas condições graves de saúde.
O sexto sentido?
Os cachorros descobrem o estado de ânimo dos seus humanos apenas observando movimentos (ou a falta deles). Para os cães, a linguagem corporal é extremamente importante, já que eles (ainda) não desenvolveram uma linguagem oral.
Ao observar os tutores, os peludos sabem quando eles estão tristes ou preocupados, por exemplo. A resposta ao humor revelado pelos humanos varia de cachorro para cachorro: alguns tentam envolver o parceiro em brincadeiras, enquanto outros apenas se deitam ao lado, como se estivessem prestando solidariedade.
Ou um quinto sentido apurado?
Um dos principais sentidos dos cães é o olfato. Em alguns casos, eles conseguem identificar a presença de micro-organismos nocivos à saúde humana – é o caso de algumas bactérias, fungos e, com menor frequência, de vírus.
Algumas dessas infecções alteram o cheiro característico dos humanos, exalado através da saliva e do suor. A partir destas alterações, os cachorros “preveem” alguns problemas de saúde e, quando estes se agravam, eles podem “pressentir” a morte – ou, pelo menos, sérias complicações no quadro geral.
Isto pode ocorrer muito antes da manifestação de eventuais sintomas. Os cães de focinho longo possuem até 300 milhões de terminais olfativos no nariz, o que ajuda a explicar o faro apurado. Apenas para comparar, os humanos apresentam seis milhões de sensores de cheiros nas narinas.
Além disso, os humanos, nos últimos milênios, vêm desenvolvendo o hábito de camuflar os odores naturais. Desde pelo menos os antigos egípcios, antes mesmo da fundação do Império, já eram usados perfumes e essências para eliminar os cheiros considerados desagradáveis.
A maioria de nós também não precisa mais do olfato para adquirir alimentos: basta ir até o mercado da esquina e escolher os produtos. Os cães, no entanto, continuam entendendo o mundo principalmente através do faro e também da audição.
A convivência
Os cachorros são especialistas em identificar os nossos estados de espírito. Eles sabem quando estamos irritados, mal-humorados e tristes, assim como conseguem detectar a nossa alegria, descontração, etc.
O mau humor e a irritabilidade, no entanto, podem ser sintomas de uma série de transtornos e deficiências. É fácil entender que esses sinais, quando se manifestam de forma prolongada, indicam problemas emocionais, como estresse, ansiedade e depressão.
As mudanças repentinas de humor, no entanto, também podem revelar problemas na saúde física. Esta condição também favorece a própria instalação de doenças. A sabedoria popular descobriu há muito tempo que pessoas irritadiças e mal-humoradas desenvolvem problemas hepáticos com mais facilidade, por exemplo.
Um estudo publicado pela Associação Americana de Cardiologia, em 2014, concluiu, a partir da avaliação de seis mil voluntários (de 45 a 84 anos, acompanhados desde 2010), que os indivíduos com altos níveis de estresse, sintomas depressivos, raiva e hostilidade eram mais propensos a ataques isquêmicos transitórios, que são precursores dos acidentes vasculares cerebrais.
Os mecanismos que regem esta relação ainda não estão claros, mas pessoas com dificuldade para sentir e manifestar alegria são mais propensas a desenvolver tensões musculares.
Os indivíduos mal-humorados avaliados no estudo desenvolveram, em média, duas vezes e meia mais problemas relacionados à hipertensão arterial, diabetes do tipo II, disfunções da tireoide e outros transtornos metabólicos.
Os cães são capazes de identificar todos esses problemas com antecedência – antes mesmo que surjam sinais patológicos. Se os tutores não procuram tratamento, eles se tornam sérios candidatos a adoecer e morrer – e os peludos percebem isso.
No Brasil, de acordo com levantamento do Instituto Data Popular, seis em cada dez habitantes só vão ao médico quando percebem algum sintoma evidente, seja por falta de acesso aos serviços públicos de saúde, seja por falta de hábito.
Doenças graves, como AVC e infarto do miocárdio, quase sempre são precedidas por problemas menores, como hipertensão arterial, alterações do colesterol e dos triglicérides, diabetes, etc. Os cachorros são capazes de identificar esses pequenos problemas e, assim, de prever transtornos cardíacos, vasculares e cerebrais.
As previsões
Não se trata de nenhum sentido paranormal, mas os cachorros sentem quando alguma coisa está errada com a saúde dos seus humanos. Cientistas já descobriram que os cães são dotados da chamada biodetecção e podem ser treinados para apurar este sentido.
Por exemplo, o Instituto Curie, da França, está desenvolvendo desde 2020 o Projeto KDOG, em que os cães são empregados para o diagnóstico precoce do câncer de mama. Os animais são treinados para detectar os tumores, através do faro, ainda em estágio precoce, tornando o prognóstico mais favorável para as pacientes.
Este é um método indolor e não invasivo – os cachorros precisam apenas cheirar os seios das voluntárias. A técnica parte do mesmo pressuposto da detecção de substâncias ilícitas, como drogas e armamentos.
Este projeto já chegou ao Brasil, graças a uma parceria com a Sociedade Franco-Brasileira de Oncologia, que introduziu o KDOG. Em 2021, a primeira paciente foi diagnosticada apenas com o auxílio de cães. A intenção é disponibilizar o método através do Sistema Único de Saúde (SUS), para aumentar a rapidez do diagnóstico e controlar melhor a doença.
Na Inglaterra, os cães são usados para diagnosticar várias doenças. O Projeto Medical Detection Dogs, sediado em Buckingham. Os cães estão sendo treinados a detectar, pelo olfato, casos de diabetes, neoplasias, mal de Parkinson e, mais recentemente, Covid-19.
Os peludos conseguem identificar doenças cheirando os pacientes, peças de roupa e até excreções. Por exemplo: um cachorro do grupo diagnosticou um câncer de bexiga ao farejar a urina do voluntário.
Com relação à pandemia do século, a taxa de acerto dos cachorros é de 94,7% – os testes de laboratório mais precisos atingem 97%, mas os resultados são obtidos em no mínimo seis horas.
O estado emocional dos humanos – e os efeitos no corpo físico – são distinguidos pelos cachorros através de reações químicas que transmitem informações para o sistema nervoso central. Os peludos detectam as mínimas alterações (uma parte modificada por trilhão de moléculas).
Os cachorros também identificam alterações de humor através de mudanças no tom da voz humana. Eles sabem quando os tutores estão apenas cansados, desanimados, mas também percebem diferenças mais acentuadas, indicativas de problemas de saúde.
Sabe-se que os cães processam essas informações na epífise, glândula situada no cérebro responsável, entre outras funções, por sincronizar o relógio biológico (o chamado ciclo circadiano), a partir da percepção do claro-escuro.
O que ainda não foi descoberto pelos cientistas é o que os cachorros fazem com todas estas informações recebidas. O certo é que eles descobrem doenças e alterações orgânicas a partir do processamento desses dados.
Por isso, se o comportamento do cachorro está alterado (se ele está dando mais atenção ao tutor do que de costume, por exemplo), a dica é não negligenciar e procurar um médico. Mesmo sem sintomas aparentes, o tutor pode estar desenvolvendo problemas que podem levar a doenças e até mesmo à morte.
Com algum nível de exatidão, os cachorros também são capazes de sentir outras alterações no ambiente e nos familiares próximos. Os peludos preveem mudanças climáticas, identificam mudanças na atividade sísmica, por exemplo.
Com relação à saúde, eles nem sempre são portadores de más notícias. Muitos tutores afirmam que os peludos descobriram a chegada de um novo membro da família: eles se comportam de forma diferente quando sentem que a tutora está grávida.
Eles também alertam sobre a proximidade do início do trabalho de parto. No caso de tutores portadores de epilepsia, os cachorros conseguem prever a aproximação das crises, mas precisam ser treinados para isso. Os Cocker Spaniels são especialistas nisso.
Os cães também identificam o medo, mesmo a centenas de metros de distância. A resposta a esta descoberta varia: eles podem atacar alguém que “exala cheiro de medo” ou procurar formas para protegê-la.
A aproximação da morte também parece ficar clara para os cachorros, especialmente a de pessoas próximas. O organismo dos seres vivos sofre alterações químicas e físicas nos instantes finais e estas são facilmente perceptíveis pelos nossos peludos.
Fonte: Cães Online, adaptado pela equipe Cães&Gatos VET FOOD.
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