Durante a gestação, o pet deve ser submetido à avaliação pré-natal
Cláudia Guimarães, da redação
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O trabalho de parto é um momento delicado e único para as fêmeas de todas as espécies, que necessitam de cuidados e monitoramento constante. Os cães da raça bulldog são braquicefálicos, ou seja, possuem um encurtamento longitudinal do diâmetro do crânio. Este padrão racial, definido pela seleção artificial de genes, oferece algumas dificuldades respiratórias, pois, os animais ainda podem apresentar estenose das narinas, prolongamento do palato mole, estreitamento da glote e problemas de laringe e/ou traqueia, como os colapsos.
O trabalho de parto é um fator de sobrecarga cardiorrespiratória para qualquer fêmea, como comenta a proprietária da Assessoria Reprodutiva Puppy Science (São Paulo/SP), Liege Cristina Garcia Silva, pois há a necessidade de maior oxigenação para atender as demandas musculares abdominal e uterina, que sofrem fortes contrações, a fim de expulsar os fetos. “Com isso, a fêmea permanece ofegante por longos períodos e seu metabolismo fica bastante acelerado, elevando, assim, sua temperatura corpórea, o que as deixa ainda mais ofegantes, na tentativa de perderem o calor do corpo pela respiração. Considerando as fêmeas braquicefálicas, como as bulldogs, esta sobrecarga respiratória e metabólica pode comprometê-las sobremaneira”, discorre.
Fêmeas devem ser acompanhadasdurante a gestação e no momento doparto (Foto: reprodução)
Mais um fator complicador ao trabalho de parto, segundo a profissional, está no padrão corporal da raça. “Cadelas bulldog têm o perfil robusto e brevelíneo, de peitoral bem desenvolvido e membros relativamente curtos, o que pode dificultar o comportamento natural do periparto, como lamber a região perineal e fazer grande curvatura abdominal, facilitando a expulsão dos filhotes”, menciona. Além disso, Liege conta que fêmeas com sobrepeso tendem a ter mais dificuldade em contrair o útero pelo acúmulo de gordura entre as fibras do miométrio e o intervalo de expulsão entre os fetos pode aumentar, prolongando o trabalho de parto e causando um desgaste adicional à gestante e aos fetos.
Atenção especial. Apesar de todos os fatores listados, envolvendo características fenotípicas, fisiológicas e genéticas, dificultarem o trabalho de parto das cadelas bulldogs, Liege considera importante salientar que é possível uma fêmea desta raça conseguir parir naturalmente, sem que haja problemas para sua saúde e dos seus filhotes. “Porém, é imprescindível que estas fêmeas, assim como as de todas as demais raças, sejam acompanhadas durante a gestação e, especialmente, assistidas no trabalho de parto”, frisa.
Esta realidade pode gerar alguns problemas para a mãe e, também, para seus filhotes. “Para as cadelas, as dificuldades do parto podem acarretar em sangramentos indevidos, contaminação uterina, maior risco de cesariana, maior possibilidade de rejeição da ninhada, uma infecção que leva à debilidade geral da fêmea, diminuição da produção de leite, algumas vezes, infecção generalizada, morte e retenção fetal”, enumera. Em situações mais críticas, todos os filhotes, de acordo com Liege, podem morrer ainda dentro do útero, fazendo com que seja necessária a remoção por via cirúrgica, a cesariana. “Toda cirurgia implica em riscos anestésicos e relacionados ao próprio procedimento. Cesarianas emergenciais podem acarretar em alterações uterinas permanentes, que comprometerão parcial ou totalmente a capacidade reprodutiva da fêmea”, acrescenta. Para os fetos, há um alto risco de mortalidade intra-uterina, mortalidade imediata ao nascimento e ao longo da primeira semana de vida.
Problemas no parto aumentam a possibilidade dafêmea rejeitar a ninhada (Foto: reprodução)
Cuidados. A seleção genética é uma importante aliada na prevenção dessas doenças e, também, de problemas que envolvem a reprodução e o parto, segundo a profissional. “É fundamental uma assistência reprodutiva adequada. Os padreadores devem ser avaliados quanto ao seu potencial reprodutivo, assim como devem ser pesquisadas algumas doenças genéticas, metabólicas e infecciosas que podem comprometer a gestação, o parto e a viabilidade dos filhotes”, destaca. Para ela, é imprescindível o acompanhamento gestacional e no momento do parto. “Assim como o pré-natal em mulheres, que assegura a saúde das mães e fetos, o mesmo acontece na Medicina Veterinária. Ao acompanharmos a cadela gestante, podemos prever, diagnosticar e tratar possíveis alterações, que, se não tratadas, seguramente, comprometem a vida da mãe e seus filhotes”, insere.
O parto é um evento muito delicado, conforme expõe Liege, em que a intervenção rápida e correta é essencial para a melhor condição de vida dos filhotes e saúde da mãe. “A cadela e sua ninhada deverão ser acompanhados pelos próximos dois meses, durante a lactação e desenvolvimento inicial dos filhotes. Neste período, deve-se realizar o exame ginecológico das fêmeas e avaliar o correto retorno do útero ao seu estado não gravídico. Ainda, deve-se acompanhar a lactação, as mamas e a condição corporal da fêmea”, orienta.
Para Liege, é importante que seja discutida a capacidade de parição das cadelas bulldogs. “Muito se fala que estes animais nunca conseguem parir normalmente. Tal afirmação não é verdadeira. Percebemos que existem particularidades anatômicas capazes de interferir com o bom andamento do trabalho de parto. Porém, na maior parte das gestações não há a incompatibilidade entre o diâmetro da cabeça dos fetos e a largura da pelve materna”, informa. Além disso, a profissional salienta que, no trabalho de parto natural, a fêmea passa por uma grande variação hormonal que a induz a entrar na fase expulsiva do parto e estimula significativamente o amadurecer do filhote, melhorando sua vitalidade ao nascimento. “Fato é que, índices de mortalidade neonatal são mais elevados em cesarianas eletivas ou emergenciais quando comparados ao parto vaginal normal. Então, para que estas fêmeas tenham o parto e o pós-parto seguros, é condição obrigatória que um médico-veterinário acompanhe a gestante, o parto e seus filhotes. Somente este profissional saberá identificar possíveis alterações e corrigi-las da maneira mais correta e segura possível”, finaliza.