O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), por meio da RedeVírus MCTI, em parceria com o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) lançaram a cartilha Monkeypox em Animais. O documento traz informações sobre os procedimentos para atuação frente a possíveis casos de Monkeypox (também conhecida como Varíola dos Macacos ou Varíola Símia) em animais.
A cartilha Monkeypox em Animais foi organizada por seis pesquisadores das universidades de São Paulo (USP), Feevale e Federal de Minas Gerais (UFMG), sob a coordenação da RedeVírus MCTI, por meio da Rede Nacional de Vigilância de Vírus em Animais Silvestres (Previr) e da Câmara Técnica Temporária CâmaraPox MCTI, e elaborada em conjunto com o CRMV-SP, com o apoio da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV).
O material reúne informações para os médicos-veterinários quanto à identificação da doença em animais, laboratórios de apoio da rede Previr-MCTI para encaminhamento de material para diagnóstico, prevenção e padronização da notificação dos casos suspeitos às equipes de saúde.
Durante o webinário de lançamento, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Paulo Alvim, agradeceu a cooperação das instituições envolvidas na criação da cartilha e enfatizou a importância da comunicação assertiva para a orientação da população. “Trabalhar em redes traz inúmeros benefícios, pois alcança um número grande de pessoas, algo fundamental quando se trata de serviços públicos. Agradecemos o CRMV-SP por estar conosco neste trabalho e pela rápida construção desta parceria”, afirmou.
Quando o assunto é zoonoses, como é o caso da Monkeypox, a atuação do médico-veterinário é fundamental, uma vez que este é o profissional responsável por garantir a integração entre a saúde animal, humana e ambiental, tripé do conceito da Saúde Única. “As doenças transmitidas entre pessoas e animais é hoje a grande demanda da área da Saúde, por isso, a atuação interdisciplinar é indispensável. Projetos como este nos mostram que estamos no caminho certo”, enfatizou o secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Correia de Medeiros, representando o Ministério da Saúde.
O presidente do CRMV-SP, Odemilson Donizete Mossero, falou sobre a relevância e qualidade do material produzido. “A cartilha traz informações importantes para a classe médica-veterinária e certamente auxiliará os profissionais que atuam na linha de frente com a doença. Juntamente com o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) trabalharemos para que a cartilha chegue aos 27 regionais. A orientação profissional reflete na qualidade do serviço prestado à sociedade”, disse.
Assista à íntegra da apresentação da cartilha, clique aqui.
Casos confirmados
Desde agosto, quando o primeiro caso em animais de Monkeypox (MPX) foi confirmada no País em um cachorro na região de Juiz de Fora (MG), a saúde pública está em alerta com a transmissão da doença de seres humanos para animais. Outro caso similar já havia sido relatado na França, fazendo com que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (em inglês Centers for Disease Control and Prevention – CDC) dos Estados Unidos incluísse cães e gatos na lista de espécies que podem ser infectadas.
O cão, que teve contato com seu tutor diagnosticado com o vírus, apresentou sintomas como prurido (coceira), lesões e crostas no dorso e pescoço. Em Paris, na França, também foi descrita a transmissão para um cão que apresentou lesões mucocutâneas, incluindo pústulas no abdômen e pequena ulceração na região anal, 12 dias após o aparecimento das lesões de seus tutores.
Espécies suscetíveis
Os vírus do gênero Orthopoxvirus, ao qual o Monkeypox pertence, são capazes de infectar uma ampla gama de hospedeiros mamíferos, incluindo macacos, tamanduás, ouriços, cães-da-pradaria, esquilos, musaranhos e cães, afirma a médica-veterinária Helena Lage Ferreira, docente da Universidade de São Paulo (USP), primeira secretária da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), e uma das coordenadoras da Rede Nacional de Vigilância de Vírus (Previr-MCTI).
“Além disso, não se pode descartar a susceptibilidade de outras espécies em adquirir a infecção por vírus, como répteis, aves e anfíbios”, explica Helena, uma das autoras da cartilha Monkeypox em Animais, escrita em parceira com outros cinco profissionais da área da Saúde.
Anne Pierre Helzel, assessora técnica médica-veterinária do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) reforça o cuidado com os animais silvestres, visto que nestes casos a erradicação é dificultada. “É muito custoso que sejam tomadas medidas eficientes para que o resultado seja alcançado. Por isso, médicos-veterinários devem ficar atentos quanto ao manejo destes animais”, diz.
Sinais de infecção
A transmissão ocorre por contato direto ou indireto com o paciente (humano ou animal infectado), através do sangue, fluídos corpóreos, ou contato com as lesões (vesículas, bolhas ou pústulas). “No geral, elas se revelam em áreas com menos pelos, como o abdome ventral”, explica o conselheiro do CRMV-SP e presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia Veterinária (SBDV), Carlos Eduardo Larsson.
De acordo com o médico-veterinário, a maior dificuldade relativa ao tempo de surgimento das lesões e sua observação é pelo fato da pele do animal ser mais fina em relação à do homem, ou seja, elas rompem-se facilmente, de forma espontânea ou quando o animal se coça.
“Vale ressaltar que lesões similares surgem também em decorrência de queimaduras, por ação de toxinas ou por outras infecções virais (cinomose, aftosa) ou bacterianas, como foliculites, que são extremamente comuns”, alerta Larsson.
Diagnóstico clínico
Pequenos mamíferos podem ser infectados pelo vírus e, muitas vezes, não apresentarem lesões cutâneas ou sinais evidentes. Em contrapartida, primatas não-humanos podem adoecer e apresentar sinais de doenças como as pessoas positivas para o Monkeypox.
“Para um animal ser considerado suspeito ele precisa ter tido contato direto nos últimos 21 dias com uma pessoa positiva e apresentar lesões na pele, que podem estar acompanhadas também de inapetência, letargia, linfoadenomegalia, secreções e/ou crostas nasais e/ou oculares, tosse, febre, edema e prurido”, explica Helena Lage Ferreira, da Previr-MTCI.
Para evitar uma possível transmissão entre animais ou para um ser humano, recomenda-se separar o animal doente de outros e impedir que ele mantenha contato direto com pessoas até a recuperação total das lesões de pele. Tutores diagnosticados com a doença também devem suspender o contato direto com seus pets – coabitar o mesmo ambiente, abraçar, beijar, permitir lambidas, dormir na mesma cama.
Macacos são vítimas
O vírus Monkeypox (hMPXV) foi descoberto em 1958 e teve origem em roedores silvestres e esquilos no continente africano. No entanto, os primeiros casos notificados da doença foram em macacos, o que levou à denominação da doença. Apesar da nomenclatura, o atual surto não tem a participação dos animais na transmissão para seres humanos.
A presidente da Comissão Técnica de Bem-estar Animal do CRMV-SP, Cristiane Pizzutto, reforça que os macacos, em especial da fauna nativa, são tão vítimas quanto os humanos, pois podem ser infectados ao acaso. “Eles têm um papel importante de sentinelas, alertando os humanos sobre o avanço da doença”, explica a médica-veterinária, que atua com comportamento de primatas.
Protocolos
Para confirmação dos casos é necessário a coleta de amostras para o diagnóstico da presença do vírus. “É importante que o médico-veterinário faça uso dos equipamentos de proteção individual, incluindo luvas, máscaras, óculos, e aventais descartáveis”, lembra Anne Helzel.
Os materiais utilizados devem ser descartados em sacos de risco biológico para manuseio como resíduos infectantes, conforme normatização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 222/2018. Deve ser utilizada uma lixeira forrada e dedicada para todos os resíduos potencialmente contaminados.
Recentemente, o Ministério da Saúde (MS) publicou também a Nota Técnica nº 96/2022, com as recomendações sobre o manejo de animais de companhia clinicamente suspeitos ou expostos à infecção pelo vírus, assim como com relação à proteção individual para o serviço do médico-veterinário ao cuidar de um animal suspeito.
Guarda responsável
É importante ressaltar que animais de estimação que tiveram contato direto com uma pessoa sintomática com MPX não devem ser abandonados e precisam ser mantidos sob observação quanto ao aparecimento de sinais clínicos por 21 dias, garantindo água, alimentação e outro manejo que se fizer necessário para seu bem-estar.
O tutor deve garantir a assistência veterinária necessária. É essencial que os responsáveis pelos animais suspeitos informem previamente ao médico-veterinário sobre o histórico de contato direto do animal com caso humano confirmado para MPX. A informação prévia permitirá ao profissional receber o animal em condições adequadas de proteção individual e prevenção da transmissão para outros humanos e animais.
Para o deslocamento do animal a uma clínica-veterinária recomenda-se utilizar, de preferência, caixa de transporte e que o procedimento seja realizado por um indivíduo que não apresente suspeita de MPX, utilizando roupas de mangas compridas, máscaras e luvas descartáveis.
Os casos de animais suspeitos para Monkeypox devem ser notificados à Secretaria de Saúde do município pelos médicos-veterinários.
Fonte: CRMV-SP, adaptado pela equipe Cães&Gatos VET FOOD.
LEIA TAMBÉM:
Veterinário que atua com animais silvestres fala sobre as calopsitas e seu comportamento
Investimento em treinamento de cães e operadores reforça segurança do País
Vetnil já recebe indicações para Prêmio Veterinário do Ano Vetnil Anclivepa Brasil 2022