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Pets e Curiosidades

Comedouros e bebedouros compartilhados nas ruas merecem atenção em prol da saúde dos cães e gatos

População pode ajudar sem expor os animais a riscos, higienizando bem os comedouros e bebedouros e os recolhendo após uso dos animais
Por Cláudia Guimarães
comedouro
Por Cláudia Guimarães

Os animais precisam ser cuidados e, melhor ainda, é quando essa atenção ultrapassa os portões das casas e se estendem a tantos animais em situação de rua, que, por vezes, são comunitários e recebem alimento e água fresca da vizinhança. Esse carinho por esses seres é honorável, porém, é preciso estar atento, pois comedouros e bebedouros compartilhados podem ser fontes de transmissão de doenças.


A médica-veterinária, doutoranda em Políticas Públicas (UNIMA-AL, mestre em Ciência Animal (UFAL), membro do CRMV-AL e conselheira da gestão 2024-2026 do CFMV, Evelynne Marques de Melo, comenta que, quando deixadas na rua, vasilhas representam risco à saúde dos animais nas seguintes situações:

Devido ao acesso livre por vários animais, tanto daqueles que se encontram sem supervisão de seu responsável, quanto daqueles que estejam passeando com supervisão. “Tal situação configura ausência de controle da saúde animal e, dessa forma, possibilita contato com saliva deixada nas vasilhas e demais patógenos microbianos contidos na boca dos animais;

Devido às vasilhas que configuram fômites: Fômites, segundo ela, são objetos nanimados capazes de conter e transportar agentes infecciosos de um indivíduo ou reservatório infectado e, passivamente, infectar outros indivíduos. “Esse tipo de transmissão também é conhecida como transmissão por contato indireto. São exemplos: celular, embalagem, bancada, corrimão, maçaneta, pratos, vasilhas, etc.)”, compara;

Devido à impossibilidade de controle de saúde e de acesso dos animais a essas vasilhas.

Doenças a serem transmitidas Evelynne declara que, em cães saudáveis, é possível encontrar na cavidade oral as bactérias Streptococcus, Staphylococcus e Actinomyces. “Além dessas, Pasteurella multocida (causadora da Pasteluelose), bactéria Campylobacter jejuni (causadora de Campilobacteriose), Capnocytaphaga caninorsus, Salmonella typhi, associada à salmonelose. Os animais adoecidos por papilomatose, leptospirose e raiva, por exemplo, transmitem os agentes patogênicos por meio da saliva também. A lista de possibilidades de infecção de doenças é bem extensa”, informa.

Além disso, a veterinária cita que outros parasitas típicos do trato intestinal, comocancilostomas, larva migrans e tênias, podem ter suas formas larvais e ovos na boca destes animais, devido ao ato natural que a espécie tem de lamber suas genitais. “Embora haja doenças específicas de cada espécie animal, vários parasitas gastrointestinais são compartilhados entre caninos e felinos domésticos”, salienta.

No caso específico de felinos, ela cita as patologias FIV, FeLV, complexo gengivite estomatite linfoplasmocitária, que mantém, nas secreções salivares, agentes patogênicos capazes de, no ato de se alimentar em comedouros e bebedouros, podem deixar secreções que infectam animais que também se alimentam ali”, declara.

Vasilhas de uso coletivo em áreas públicas podem representar risco sanitário, funcionando como fômites — objetos que acumulam saliva e microrganismos, facilitando a transmissão indireta de doenças entre animais (Foto: Reprodução)

Outros problemas relacionados

Além do fator transmissão de doenças, animais de vida livre tendem a disputar fêmeas no cio, território e acesso ao alimento e muitas brigas acontecem naturalmente e podem ser impulsionadas por conta das vasilhas com alimentos ofertados. “Para além disso, a dispersão de vasilhas contendo alimento em áreas livres e não supervisionadas tendem a atrair animais sinantrópicos (ratos, baratas, pombos, entre outros), os quais,
também, ao acessarem o alimento, trazem outros patógenos. Além disso, também precisamos falar em maus-tratos intencionais: pessoas que adicionam veneno misturado ao alimento”, salienta.

A higiene dessas vasilhas também é imprescindível e, muitas vezes, não é realizada com frequência e da maneira correta. “Pensando numa situação equilibrada para ofertar alimentos aos animais que estão em vida livre, lembramos da necessidade de apoio de pessoas da comunidade dedicadas a esta tarefa. Devem ter horários, locais e quantidades ofertadas, além do recolhimento das vasilhas após a alimentação dos
animais. Naturalmente, as vasilhas devem ser lavadas e reutilizadas em outro momento”, orienta.

Ajudar sem expor os animais a riscos


Com horários determinados, em vasilhas separadas e que sejam recolhidas ao final da ingestão dos alimentos, as pessoas ajudam sem colocar em risco a saúde dos animais. “O objetivo é evitar resíduos de alimento no ambiente, evitar atrair animais sinantrópicos, evitar acúmulo de água de chuva, maus-tratos com oferta de veneno misturado aos alimentos e exposição de patógenos ambientais”, lista.

Evelynne comenta que, no Brasil, caninos e felinos domésticos são reconhecidos como parte da fauna antrópica urbana e que toda ajuda e sensibilidade voltada aos animais que estão em vida livre devem ser estimuladas, pois representam respeito e responsabilidade civil, social e ambiental. “O ponto de partida é manter uma atuação com responsabilidade com a vida em coletivo, pois, em todo o ambiente urbano, há animais entre as pessoas e devemos primar por manter essa convivência equilibrada”, observa.

Ela ainda lembra que há um rigor imprescindível, primeiro, na aceitação da comunidade com a permanência dos animais, segundo, com a prevenção de zoonoses (doenças que podem ser transmitidas dos animais às pessoas) e, terceiro, pelo respeito e bem-estar aos animais. “Por esta razão, é preciso manter um rigor na oferta de alimento, no local da destinação do alimento, na temporalidade e exposição do alimento e na higiene e limpeza do ambiente”, reforça.

A médica-veterinária frisa que, visando colaborar com a ajuda sem riscos, as gestões públicas podem consultar os Conselhos de Medicina Veterinária para sanar dúvidas quanto a esta ou outras iniciativas cujo objetivo seja ajudar os animais. “Essa consulta é necessária pelo fato da abrangência da compreensão técnico de ordem zoosanitária, cujos domínios são exclusivos dos médicos-veterinários, os quais podem ser acessados em comissões de saúde pública ou outras contidas nos CRMV’s e que podem ajudar
muito as decisões”, finaliza.

FAQ


É seguro deixar potes de comida e água para animais na via pública?
Pode ser uma boa ação, mas é preciso cuidado. Vasilhas compartilhadas sem supervisão podem transmitir doenças por contato com saliva, secreções ou fezes de outros animais.

Quais doenças podem ser transmitidas nesses potes?
A lista de possibilidades de transmissão é enorme, como exemplo, doenças como leptospirose, salmonelose, FIV, FeLV, além de parasitas como tênias e larvas migratórias, podem ser transmitidas pelo compartilhamento de comedouros e bebedouros contaminados.


Como alimentar animais em situação de rua com segurança?
É importante estabelecer horários, usar vasilhas limpas, recolher após o uso e escolher locais seguros. Isso evita brigas, contaminações e a presença de animais sinantrópicos como ratos e baratas. Evitar comedouros dos tipos canos de PVC fixos, por razões óbvias de impossibilitar higienização e por ser fonte permanente de conteúdo exposto em ambiente aberto.

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