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Clínica e Nutrição

Como diagnosticar e tratar a úlcera de córnea em cães e gatos?

Existem opções de tratamento cirúrgicas ou clínicas, que devem ser escolhidas considerando o tipo de lesão; médico-veterinário explica qual a conduta ideal nesses casos
Por Danielle Assis
cachorro colírio
Por Danielle Assis

A úlcera de córnea, também chamada de ceratite ulcerativa, é uma lesão caracterizada pela perda de integridade do epitélio corneano. Isso é o que explica o médico-veterinário pós-graduando em oftalmologia veterinária, Guilherme Ribeiro.

De acordo com ele, essa é uma condição dolorosa, que pode acometer porções variáveis do estroma e, inclusive, prejudicar seriamente a visão, existindo casos graves que levam a perfuração do bulbo ocular.

As causas da úlcera de córnea são variáveis. “Dentre as mais comuns podemos citar traumas, como os causados por corpo estranho perfurante, presença de pelos que atritam com a córnea de forma constante, olho seco, doenças hormonais, como Síndrome de Cushing, tumores em margem palpebral, herpesvírus felino, infecções bacterianas, micóticas ou virais e lesões químicas, como as que acontecem em banho e tosa”, exemplifica.

Além disso, segundo o profissional, há também as úlceras causadas por uso inadequado de medicamentos tópicos e as que podem surgir de forma espontânea.

Existem diferentes tipos de úlcera de córnea e o tratamento depende da classificação dessa condição (Foto: Arquivo pessoal Guilherme Ribeiro)

Tipos de úlcera de córnea

O médico-veterinário esclarece que as úlceras de córnea podem ser classificadas de acordo com a profundidade e as características da lesão.

“Existem as úlceras superficiais, que envolvem apenas o epitélio, as estromais, que atingem uma porção do estroma corneano, a descemetocele, presente em situações no qual o estroma foi totalmente comprometido, expondo a membrana de descemet, e a úlcera perfurada”, pontua.

Na relação dos tipos de ceratite ulcerativa o doutor também cita a úlcera indolente ou refratária, cuja cicatrização pode ser complexa, a úlcera em melting ou ceratomalácia, em que se observa um aspecto gelatinoso da lesão remetendo ao “derretimento” da córnea, e, falando especificamente dos gatos, é comum observar úlceras dendríticas provocadas pelo herpes vírus felino.

Independentemente do tipo da úlcera de córnea, essa condição costuma se manifestar de forma dolorosa por acometer uma região altamente inervada.

“Dentre os sinais clínicos podemos destacar blefarospasmo, protrusão da terceira pálpebra, lacrimejamento excessivo e hiperemia conjuntival. Em alguns casos é possível ocorrer sinais de secreção mucopurulenta, opacidade corneana ao redor da lesão, vascularização, miose, turbidez do aquoso (flare), hifema, hipópio e redução da pressão intraocular”, afirma Ribeiro.

Chegando ao diagnóstico correto

Conforme cita o médico-veterinário, o diagnóstico da úlcera de córnea é realizado através do histórico do animal, somado aos sinais clínicos e ao teste de fluoresceína.

“Devido ao fato do estroma ser uma camada hidrofílica, o corante fluoresceína se fixa nele e o tinge, destacando o local lesionado. Para complementar, a utilização de uma lanterna com filtro de luz azul cobalto pode ajudar a identificar com mais clareza o local da lesão pelo seu intenso contraste com a fluoresceína” esclarece.

Por outro lado, no caso de lesões mais profundas, no qual há exposição da membrana de descemet, não irá ocorrer o tingimento da lesão, visto que essa camada é hidrofóbica.

“Nessas situações, em consultórios especializados de oftalmologia é feita a avaliação biomicroscópica com a lâmpada de fenda, uma ferramenta de magnificação, que auxilia na compreensão, diagnóstico e classificação da afecção. O equipamento possibilita observar os detalhes de forma minuciosa”, relata Ribeiro.

Além disso, Guilherme destaca que é importante diferenciar a úlcera de córnea de outras afecções. O profissional pontua que essa diferenciação é feita, principalmente, pela coloração com fluoresceína, que permite visualizar áreas de desepitelização.

“No entanto, outras condições como degenerações, distrofias e edema sem ulceração, não reagem à fluoresceína da mesma forma. Com isso, a avaliação com lâmpada de fenda pode ajudar a diferenciar a profundidade e presença de infiltração” cita.

O teste de fluoresceína é uma das maneiras mais eficazes de diagnosticar a úlcera de córnea (Foto: Arquivo pessoal Guilherme Ribeiro)

Tratamento

O profissional afirma que para escolher o tratamento ideal para a úlcera de córnea, primeiramente, é preciso entender qual é o seu agente causador, se houver, e removê-lo.

“O tratamento depende da classificação da lesão. A maioria das úlceras superficiais podem ser tratadas clinicamente com colírios antibióticos, cicatrizantes, lubrificantes e analgésicos. Já úlceras profundas ou descemetoceles com risco de perfuração exigem intervenção cirúrgica”, cita.

Além disso, em casos no qual há perfuração da córnea, o único tratamento é o cirúrgico e deve ser feito com urgência.

“De um modo geral, úlceras superficiais podem cicatrizar em até 72 horas com o tratamento adequado. Úlceras profundas ou cirúrgicas podem demandar até quatro semanas ou mais para serem curadas e requerem reavaliações periódicas”, exemplifica.

Por outro lado, segundo Ribeiro, úlceras indolentes exigem mais tempo de tratamento e o desbridamento local pode ser realizado para que estimule uma cicatrização efetiva. Nesses quadros o tratamento pode se estender por até dois meses.

“É de suma importância ressaltar que o uso de colírios anti-inflamatórios no tratamento de úlcera não deve ser empregado, exceto em casos muito específicos. Caso a escolha seja por essa conduta, as reavaliações devem ser feitas de forma constante”, alerta.

O tratamento pode ter complicações?

“As principais complicações da úlcera de córnea incluem perfuração do bulbo ocular, infecções secundárias e formação de sinéquias ou glaucoma secundário. Em casos mais extremos, a remoção do bulbo pode ser necessária”, afirma o profissional.

Inclusive, mesmo com um tratamento bem-sucedido podem ocorrer sequelas. Ele comenta que dependendo da profundidade e extensão da úlcera é possível ocorrer opacificação corneana como cicatriz, vascularização ou, em casos graves, deformação da curvatura corneana.

“Em úlceras perfuradas pode haver também a formação de sinéquia anterior, que ocorre quando a íris se adere ao endotélio corneano, prejudicando a capacidade visual deste olho. Já em casos em que o tratamento foi cirúrgico, dependendo da técnica empregada, vemos opacificação significativa e dessensibilização do local”, finaliza.

FAQ

Quais são as causas da úlcera de córnea?

Existem diversas possíveis causas para a úlcera de córnea. Algumas mais comuns são traumas, presença de pelos em atrito com a córnea, olho seco, infecções bacterianas, micóticas ou virais e até doenças hormonais.

Como definir um tratamento adequado para a úlcera de córnea?

O tratamento da ceratite ulcerativa deve ser definido a partir do agente causador e da classificação da úlcera.

Como chegar a um diagnóstico assertivo da úlcera de córnea?

A melhor maneira de diagnosticar corretamente a úlcera de córnea e aliando o histórico do animal com os sinais clínicos e a realização do teste de fluoresceína.

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