Gatos são, frequentemente, escolhidos como animais de companhia. Mas, muitas pessoas escolhem esses pets por acharem que eles são totalmente independentes e requerem poucos cuidados. Mas, a verdade é que todo animal de estimação precisa de atenção extrema do tutor, que é quem deve garantir saúde e bem-estar.
A médica-veterinária e doutora em Psicologia, Ceres Berger Faraco, em seu livro “Bem-estar dos cães e gatos e Medicina Comportamental”, convidou a bióloga e etologista, Sara Fragoso, que diz que, para muitos tutores, os recursos, necessários para que tudo corra bem quando se tem um gato em casa, se resumem a água, alimento e caixa de areia. “Por esse motivo, o ambiente dos gatos que estão sob cuidados humanos, na maior parte dos casos, pode ser considerado inadequado e não satisfazer as necessidades dos felinos, comprometendo a sua saúde física e psicológica”, avalia.
A preocupação com o bem-estar dos felinos não é recente e tem aumentado consideravelmente, ao longo das últimas décadas, mas, no geral, a questão que fica é: a responsabilidade é de quem? “As pessoas que têm impacto na vida dos gatos compartilham a responsabilidade de proporcionar o melhor tipo de vida possível. Desta forma, os profissionais têm uma responsabilidade extra, devido ao papel que desempenham na vida das famílias e à confiança que os tutores depositam em suas orientações”, declara Sara, em relação aos médicos-veterinários que atendem esses animais.
Com muita frequência, as questões abordadas durante uma consulta, não vão muito além da saúde física dos gatos. “Essa abordagem deverá ser complementada com outras questões relativas ao bem-estar do animal, de forma que considere o indivíduo em todas as suas dimensões. Resultado: gatos mais saudáveis e felizes, e clientes mais satisfeitos – promoção ativa do bem-estar”, garante.
Mas o que significa bem-estar animal?
Sara explica que o bem-estar de qualquer animal senciente é determinado pela percepção individual do seu próprio estado físico e emocional (WEBSTER, 2005). “Então, podemos considerar o bem-estar como o resultado do equilíbrio global entre estados emocionais positivos e negativos”, comenta.
Nesta perspectiva, ela destaca que a ciência do bem-estar abrange tudo o que afeta o estado físico e emocional. “Assim, começou uma pesquisa nesta área, motivada por preocupações éticas sobre a qualidade de vida dos animais. Três questões éticas, intimamente relacionadas e que se sobrepõem, são comumente expressas em relação à qualidade de vida dos animais (FRASER et al., 1997), que são:
- Os animais devem viver de forma natural de acordo com o desenvolvimento e o uso de suas adaptações e capacidades naturais;
- Os animais devem sentir-se bem, estando livres de medo prolongado e intenso, da dor e de outros estados negativos, bem como experimentando estados de prazer;
- O organismo deve ter saúde satisfatória, crescimento e funcionamento normal dos sistemas fisiológicos e comportamentais.
De forma esquemática, o bem-estar ocorre dentro dos seguintes itens: funcionamento físico do organismo; estado mental; comportamento natural. “Para orientar a avaliação da qualidade de vida, em 1993, o FAWC (Farm Animal Welfare Council) publicou as “Cinco Liberdades”, as quais são princípios que ainda hoje norteiam as boas práticas e a legislação relativa ao assunto.
Essas cinco liberdades mencionadas pela profissional são o que deve ser fornecido aos animais para que o bem-estar seja alcançado e são elas:
Liberdade de sede, fome e nutrição saudável: deve ter acesso à água e alimento, adequado para manter sua saúde e vigor;
Liberdade de desconforto físico e térmico: deve ter acesso a um ambiente adequado, com condições de abrigo e de descanso;
Liberdade de dor, lesão e doença: deve estar garantida a prevenção, o diagnóstico rápido e o tratamento;
Liberdade para expressar os comportamentos naturais da espécie: devem ter a liberdade e condições para manifestarem comportamentos típicos da espécie;
Liberdade de medo e de angústia: devem ter condições e manejo que evitem sofrimento mental.
Embora as Cinco Liberdades sejam referências na definição e avaliação do bem-estar animal, são verificadas algumas limitações, mencionadas pela profissional:
- São impossíveis de serem alcançados em todos os momentos;
- Pode entrar em conflito (por exemplo, ser livre de doenças, às vezes, requer tratamento, e isto pode induzir ao desconforto);
- Baseia-se no fato de serem experiências evitadas e estados negativos para o animal, sem promover as positivas.
“Atualmente, o conceito de bem-estar vai além da ausência de angústia ou sofrimento, pois inclui a qualidade de vida do animal e a forma como vivenciar sua vida. É uma abordagem mais positiva e dinâmica, que se importa com o que os animais gostam e gostam (WEMELSFELDER, 2007)”, cita a bióloga.
FAQ
Por que é importante que tutores e veterinários considerem o bem-estar psicológico dos gatos?
Porque o bem-estar de qualquer animal inclui aspectos físicos e emocionais, e o desempenho na saúde psicológica pode comprometer a qualidade de vida do gato. Gatos precisam de ambientes enriquecidos e cuidados que vão além de água, alimento e caixa de areia para satisfazer suas necessidades comportamentais e emocionais.
Como as “Cinco Liberdades” são recomendadas para orientar os tutores e profissionais no cuidado adequado aos gatos?
As “Cinco Liberdades” fornecem uma estrutura para garantir o bem-estar animal, cobrindo aspectos como liberdade de sede, fome, desconforto, dor, incapacidade de expressar comportamentos naturais e medo.
Quais são as limitações das “Cinco Liberdades” na avaliação do bem-estar animal?
As “Cinco Liberdades” têm limitações, como a dificuldade de serem completamente alcançadas em todos os momentos, conflitos potenciais entre elas (como tratamentos médicos que causam desconforto para prevenir doenças), e o foco na redução de experiências negativas, sem promover estados positivos para os animais.
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