Quem gosta de gato, é difícil ter só um. Mas o tutor não deve pensar só em seu próprio prazer e bem-estar ao adotar os animais. É preciso oferecer um ambiente agradável, principalmente, para os bichanos. É muito comum, por exemplo, em casas multicats, ou seja, com dois ou mais gatos, ocorrer problemas de convívio e é sobre isso que falaremos agora.
As brigas entre os animais, na maioria dos casos, acontece pela falta de introdução dos mesmos da maneira correta. Quem nos explica é a médica-veterinária comportamentalista felina e Coordenadora Clínica do Hospital VFP, Maysa Longo Maduro. “Os gatos se veem forçados a dividir seu espaço, ambiente e recursos com novos indivíduos completamente estranhos sem nenhuma preparação prévia. Uma falta de introdução estruturada pode acarretar sérios prejuízos no relacionamento entre eles pelo resto de suas vidas, nos casos mais graves”, informa.
Maysa menciona que a territorialidade pode ser afetada principalmente diante de um espaço físico limitado, que não comporte de maneira adequada todos estes animais, e, também, por conta de recursos ambientais insuficientes.
“Além disso, gatos são animais que marcam o território por meio da liberação de feromônios de suas glândulas odoríferas, através da urina e, menos frequentemente, fezes. Essa marcação feita por muitos gatos faz com que a territorialidade individual de cada um seja afetada de maneira muito expressiva”, declara.

Foco no comportamento!
De acordo com a profissional, os sinais de conflito mais frequentes entre os gatos são: comportamentos agressivos, como mordidas, arranhaduras, brigas, posturas corporais ameaçadoras (pelos eriçados, orelhas para trás, corpo encurvado como uma tentativa de parecer maior); vocalizações excessivas e agudas diferentes dos miados habituais; passar a se esconder e evitar certas áreas da casa; mudanças comportamentais, como urinar e defecar em locais diferentes, expressar sinais de agressividade ou se tornar menos sociável.
A veterinária afirma que, para amenizar estes comportamentos, é fundamental investigar com critério o que está causando os mesmos. “É improvável conseguir a resolução do problema sem, antes, ter chegado ao diagnóstico da situação. Mas, no geral, mudanças na dinâmica ambiental são fundamentais. Pode ser necessário trocar o substrato utilizado na caixa de areia e comprar mais caixas, além de distribuí-las de maneira inteligente pelo ambiente. O mesmo vale para comedouros e fontes de água. Em alguns casos, não é a quantidade que está inadequada, mas, sim, a distribuição”, pontua.
Outro fator que faz toda a diferença é o enriquecimento ambiental em casas multicats. “Existe uma ampla variedade de opções disponíveis no mercado, desde nichos de parede, arranhadores, tocas, brinquedos interativos até comedouros inteligentes. Investir neles auxiliará a reduzir consideravelmente os níveis de estresse e ansiedade dos gatinhos. A verticalização é indispensável nas casas e apartamentos com pouco espaço físico”, orienta a profissional.
Além disso, ela cita que os feromônios sintéticos em formato de spray ou difusores são importantes aliados no manejo de conflitos entre gatos e também auxiliam no comportamento de marcação. “Pode ser que os gatos não se tornem melhores amigos e nem tenham um contato tão intimamente próximo, mas, só de conviverem bem, respeitando o espaço um do outro sem conflitar, já teremos atingido o nosso objetivo”, assegura.

Novo gato? Saiba como agir
Maysa frisa que é possível evitar ou reduzir os conflitos entre os gatos durante o processo de introdução de novos felinos em uma casa multicats, desde que seja feita uma introdução estruturada, que consiste em preparar o ambiente e os gatos que já residem ali para a chegada de um novo membro.
As etapas recomendadas pela médica-veterinária são:
- Preparação do ambiente: será necessário separar um local para que o novo gato fique por algum tempo. O espaço deve ser grande o suficiente para que ele viva bem e tenha todos os recursos necessários sem que faça falta aos demais gatos da casa;
- Introdução de cheiros: trocar odores entre os gatos antes do contato visual é a melhor maneira de iniciar um contato entre eles. Com o uso de algodão ou mantas, é possível ‘capturar’ os odores dos gatos ao esfregar esses materiais em locais estratégicos em seu corpo, como atrás das orelhas e nas bochechas, visto que são lugares ricos em glândulas odoríferas que liberam feromônios. Ao fazer isso, podem ser trocados os objetos entre os dois ambientes para que os gatos se familiarizem com os cheiros. Caso nenhuma reação negativa tenha sido expressada, podem ser trocados ainda mais objetos, como arranhadores e camas para que os cheiros se misturem ainda mais;
- Apresentação visual: após as trocas de cheiros bem sucedidas, ou seja, sem causar nenhuma reação adversa nos gatos envolvidos na introdução, pode ser realizada a apresentação visual por meio de uma barreira. Essa barreira servirá de proteção caso algum dos animais sinta desconforto, medo ou demonstre agressividade, dessa forma não haverá a possibilidade de um confronto. Caso os animais não demonstrem nenhum sinal de estresse (vocalização, pelos eriçados, orelhas posicionadas para trás), isso indica que a introdução está indo muito bem;
- Interações curtas: esta etapa consiste em sessões curtas de interações supervisionadas em que o novo gato e os demais se encontram em um espaço neutro. São indicados brinquedos e petiscos para redirecionar a atenção dos gatos para que não foquem tanto uns nos outros, tornando a experiência mais agradável;
- Aumentando o tempo juntos: conforme sentir segurança, mantenha os felinos juntos por mais tempo, sempre reforçando positivamente os comportamentos desejados para encorajar as interações. A expectativa é que, com o passar dos dias, todos os animais já estejam convivendo harmoniosamente juntos.
“Vale lembrar que, ao progredir para uma etapa e perceber qualquer reação negativa por parte de qualquer um dos gatos, deve-se retornar para a etapa anterior por mais tempo e só tentar progredir novamente em alguns dias”, aconselha.
Segundo Maysa, conhecer as singularidades dos felinos e suas nuances comportamentais fará toda a diferença em seu bem-estar.
“Apesar de, muitas vezes, viverem confinados em nossos ambientes, isso não quer dizer que não possamos oferecer ótimas condições de vida que simulem como seria se estivessem livres na natureza. Cada gato possui características únicas e um conjunto de necessidades que refletem sua natureza instintiva e social. Respeitar essas particularidades não apenas enriquece a convivência entre gatos e tutores, mas, também, promove um ambiente mais harmonioso e seguro”, finaliza.
FAQ
Por que ocorrem brigas entre gatos em casas multicats?
Porque, na maioria dos casos, os gatos são forçados a dividir espaço e recursos com outros felinos sem uma introdução adequada. Isso gera estresse, conflitos e pode comprometer a convivência a longo prazo.
Como deve ser feita a introdução de um novo gato em casa?
A introdução deve ser gradual e estruturada, passando por etapas como separação inicial, troca de odores, apresentação visual com barreira e interações curtas supervisionadas, sempre respeitando o tempo e os sinais dos animais.
O que é essencial para promover bem-estar em casas com vários gatos?
Distribuição inteligente dos recursos (caixas, comedouros, fontes), enriquecimento ambiental, verticalização dos espaços e, se necessário, uso de feromônios sintéticos. Tudo isso ajuda a reduzir o estresse e a melhorar a convivência.
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