Tutores de gatos sabem que um dos maiores desafios no cuidado com esses bichanos é a ida ao veterinário. Muitos fatores estão relacionados, mas, principalmente, como o profissional recebe este animal. É preciso levar em consideração alguns itens que antecedem o atendimento, principalmente em se tratando das experiências passadas daquele paciente felino.

A médica-veterinária comportamentalista felina, coordenadora clínica do VFP (Ribeirão Preto-SP), Maysa Longo, comenta que, caso já tenha passado por experiências negativas em consultas anteriores, o animal pode criar associações negativas que modulam o seu comportamento. “A falta de socialização do paciente desde as primeiras semanas de vida também pode influenciar nisso, já que terão maiores tendências a apresentar comportamentos indesejáveis de medo, ansiedade, frustração e/ou agressividade”, explica.
Segundo ela, muitos gatos não se sentem à vontade para sair de casa e ainda menos para usar a caixa de transporte, especialmente se não foram treinados adequadamente para isso. “Por esse motivo, todo o trajeto até a clínica ou hospital já se torna um grande desafio, o que pode fazer com que o gato chegue estressado ou ansioso para a consulta, tornando-se mais arisco”, indica.
Outros fatores tão importantes quanto os já citados, na visão da veterinária, são: a falta de uma recepção e ambulatório exclusivos para felinos, pois haverá influência de ruídos e odores de outros animais, principalmente de outra espécie. “O temperamento também deve ser levado em consideração, visto que é particular e individual de cada felino e pode influenciar em seu comportamento”, adiciona.
Controlando o estresse
Alguns sinais de estresse passíveis de observação, segundo Maysa, são: vocalização aguda, postura corporal tensa e rígida, orelhas direcionadas para trás, pupilas em midríase (dilatadas), aumento da frequência respiratória e possibilidade de respiração com a boca aberta, tendências de fuga e tentativas de se esconder. “Já em se tratando de agressividade, os sinais anteriores podem ser observados, mas também poderá haver alterações de postura, com pelos eriçados, coluna arqueada (em uma tentativa de parecer ser maior do que realmente é), exposição de garras, realização de movimentos bruscos, rosnados ou ‘chiados’”, enumera.
Para minimizar essas situações, o consultório deve ser devidamente preparado para melhor atender ao paciente felino, com uso de feromônios sintéticos em spray ou difusor; músicas calmas, tranquilas e cromoterapia também são artifícios que podem atuar como grandes aliados. “A abordagem do paciente deve ser gradual, evitando sempre movimentos bruscos em direção ao gato e tom de voz alto. Caso esteja dentro da caixinha de transporte, é recomendado aguardar até que o felino saia espontaneamente, podendo-se iniciar o exame físico ainda dentro da caixa se a mesma tiver abertura superior. A ideia é proporcionar tempo até que o mesmo se acostume com as pessoas e o ambiente e se sinta seguro”, recomenda a profissional.
Relação melhorada

Apesar das dificuldades que alguns gatos possam enfrentar, é importante saber que nem sempre a ida ao veterinário será complicada. É possível estabelecer confiança com um gato arisco ao longo de consultas regulares. “Uma das maneiras mais eficientes de estabelecer essa confiança é por meio de reforços positivos, que podem envolver brincadeiras, carinho ou petiscos altamente palatáveis – a escolha da recompensa será baseada nas reações do animal e no que mais o motiva. Dessa forma, o paciente felino associará a ida ao veterinário com algo positivo e não o contrário”, destaca Maysa.
Ela ainda ressalta que esse tipo de estratégia pode não ocorrer de maneira tão rápida, por isso a importância da constância, desde que sempre respeitando os limites estabelecidos pelo próprio paciente.
Para isso, o médico-veterinário do animal – e toda a equipe da clínica – deve utilizar um tom calmo e vozes suaves, evitando falas altas e agudas que possam assustar o felino. “A linguagem corporal deve ser suave e não ameaçadora, evitando movimentos bruscos e rápidos, não olhar fixamente nos olhos do felino e piscar lentamente, pois pode ser interpretado como uma forma de comunicação que os gatos usam entre si para mostrar confiança e afeto, contribuindo para o estabelecimento de um vínculo mais positivo. Se possível, ficar em uma posição mais baixa que o felino para parecer menos ameaçador e manter uma distância segura, respeitando os limites”, orienta.
FAQ
Por que alguns gatos têm medo de ir ao veterinário?
Gatos podem associar consultas anteriores a experiências negativas, além de não estarem acostumados com a caixa de transporte ou ambientes desconhecidos, o que aumenta o estresse.
Como identificar sinais de estresse em gatos na clínica?
Os sinais incluem vocalização aguda, postura corporal tensa, orelhas para trás, pupilas dilatadas, respiração ofegante e tentativas de fuga ou agressividade.
Como tornar a ida ao veterinário mais tranquila para os gatos?
O uso de feromônios, música calma, abordagem gradual e reforços positivos, como petiscos e carinho, ajudam o gato a associar a consulta a algo positivo.
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