Cláudia Guimarães, em casa
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A lista de problemas de saúde, cujos primeiros sinais são comportamentais é extensa e, agora, trataremos de um item em específico: quando o cão realiza ações repetitivas e constantes que não possuem um propósito específico, ele pode estar com transtorno compulsivo.
De acordo com a zootecnista, proprietária da Dog Walker e pet sitter na empresa Babi – Educadora Canina, Barbara Cristina do Rosario, esses distúrbios são derivados de comportamentos normais, como se lamber e cavar, por exemplo. “Podem, então, ser resultado de algum problema de origem neurológica, doenças virais, prurido, lesões, estresse, ansiedade ou predisposição genética (perseguir cauda – pastor alemão e australiano, bull terrier inglês; giro em parafuso – bull terrier inglês; dermatite por lambedura – cães de raças gigantes; mastigar pedras – labrador; abocanhar moscas – bernese, cavalier)”, explica.
Conforme mencionado pela profissional, já é comprovado, em estudo, que o transtorno compulsivo em cães com origem de fatores externos pode ter maior peso do que fatores genéticos. “Práticas de adestramento punitivo, como o uso de enforcador, e confinamento aliado a tédio e a ansiedade geram transtornos compulsivos nos cães. Confinar cães em espaços pequenos; não permitir que ele passeie diariamente; não ter uma boa relação com o cão; não permitir que ele gaste energia com brinquedos de roer e de perseguir, entre outras situações, fazem com que o animal procure, em outros meios, um jeito de suprir suas necessidades naturais da espécie”, discorre.
Primeiros sinais. Cães que se lambem frequentemente (o próprio corpo, o corpo do tutor ou objetos) ou que fazem a “monta” em travesseiros, pernas das pessoas e em outros cães podem estar apresentando sintomas deste quadro, de acordo com a zootecnista. “Outros comportamentos são: roer compulsivamente objetos; perseguir cauda; caçar insetos imaginários; cavar compulsivamente; vocalizar demais (latir, chorar e/ou uivar demais); comer fezes compulsivamente; qualquer comportamento repetitivo sem algum objetivo”, enumera.
Se, após consulta com o médico-veterinário, for descartada completamente a hipótese de alguma enfermidade no organismo do cão, Barbara sugere o encaminhamento a um especialista em comportamento canino, que trabalhe com adestramento positivo para avaliar o caso. “De uma forma geral, é feita a avaliação do cão pelo especialista para buscar a raiz do problema. Posteriormente, é realizado um planejamento específico de tratamento, buscando modificar comportamentos, ambiente e manejo. Dependendo o caso, podem ser sugeridos, pelo veterinário, fármacos para complementar o tratamento comportamental”, aponta.
Auxílio do tutor. Para problemas de origem orgânica, o tutor do animal deve fazer o tratamento conforme a orientação do veterinário. “Nos casos de origem comportamental, é imprescindível a participação do mesmo e de todas as pessoas que moram na mesma residência que o cão. A paciência é o fator primordial, pois existem tratamentos que levam semanas para observar alguma melhora. Geralmente, o tutor só procura ajuda quando o pet começa a incomodá-lo, ou seja, quando o cão já apresenta diversos comportamentos compulsivos de uma vez só, o que dificulta, ainda mais, o tratamento”, observa.
É essencial, na visão de Barbara, que o tutor não perca a paciência com o animal durante o processo terapêutico, que não brigue com ele, nem deve quebrar qualquer orientação do especialista, por mínimo que seja. “E, tampouco desistir do tratamento”, adiciona a profissional.
Como evitar? Desde quando o animal chega em casa, independente da sua idade, ensinar as regras da residência, utilizando sempre o reforço positivo, pode prevenir esses tipos de problema, como afirmado por Barbara. “Ter um excelente relacionamento com o cão (não brigar, não xingar, não bater, não maltratar) é primordial”, destaca.
Também é válido um gerenciamento do ambiente: disponibilizar brinquedos de diferentes texturas, guardar os pertences pessoais em locais adequados para que ele não estrague, disponibilizar um local para ele fazer as necessidades fisiológicas, outro para água e alimento, além de um local para ele dormir tranquilamente – livre de frio, calor e que seja confortável. “Passear com o cão todos os dias, disponibilizar enriquecimento ambiental para que ele possa expressar os comportamentos naturais da espécie, estimular a independência emocional do pet, fornecer uma alimentação de qualidade, além de levar com frequência ao veterinário são formas de uma guarda-responsável que minimizam os possíveis problemas”, garante.
Como lembrado pela profissional, os principais motivos para abandono e eutanásia de cães em alguns países e, até mesmo, no Brasil são os problemas comportamentais, pois afetam o bem-estar do animal e sua relação com o tutor. “Isso acontece, na minha opinião, devido à ignorância do tutor em reconhecer as necessidades básicas do cão, atender às suas exigências naturais da espécie e conforme a raça (algumas demandam mais gasto de energia que outras, algumas demandam mais atenção, por exemplo)”, argumenta.
Assim, a especialista sugere que, antes de adotar ou comprar um cão, o tutor leia muito sobre cães em geral, sobre a raça que deseja, sobre os comportamentos da espécie e sobre como cuidar do pet. “Também se faz obrigatória a contratação de um educador canino para ensinar tudo ao tutor, pois o investimento feito com um profissional em comportamento canino perdurará até o fim da vida do animal”, aconselha.