Os atuais comportamentos problemáticos dos cães adquiridos durante a pandemia de Covid-19, agora jovens adultos, estão afetando a relação entre animal e tutor. A conclusão é de um novo estudo da Royal Veterinary College (RVC).
O “boom” na aquisição de cães durante a pandemia de Covid-19, um efeito chamado Pandemic Puppy, levou a algumas preocupações sobre o bem-estar destes animais, nomeadamente a aquisição impulsiva de cães que moram em lares que podem não ser apropriados a longo prazo, o aumento da produção de cães provenientes de fontes com baixo nível de bem-estar e experiências restritas no início da vida, assim como de socialização, o que leva a comportamentos problemáticos. Todos estes fatores combinados, podem enfraquecer as relações tutor-cão e aumentar a renúncia futura desta geração de cachorros pandémicos.
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O estudo “Pandemic Puppies” propôs-se a identificar os fatores associados ao enfraquecimento da relação entre o tutor e o cão em animais do Reino Unido adquiridos durante a fase pandémica de 2020. A pesquisa incluiu dados de 794 tutores de cães adquiridos durante a fase pandémica, que partilharam informação aquando do seu cão ter atingido os 21 meses.
Foram investigados diferentes aspectos da relação entre o tutor e cão, analisando as pontuações sobre o grau de companheirismo, ligação e amor que os tutores sentiam em relação aos seus cães e o estado de sobrecarga que os tutores sentiam por terem um cão (incluindo tempo despendido, ligação emocional, dedicação ao animal e custos financeiros).
Além disso, fatores de risco, como a saúde, o comportamento dos cães e as variáveis relacionadas com a aquisição, também foram analisados. Assim, o estudo concluiu que os tutores que referiram que o seu cão tinha comportamentos problemáticos, por exemplo, ladrar ou correr em excesso, consideraram que a posse de um cão era mais complexa do que os tutores que estavam satisfeitos com o comportamento do seu cão.
Os tutores que mencionaram que o seu cão apresentava vários tipos de comportamentos agressivos sentiam-se menos próximos emocionalmente do que os tutores cujos cães não apresentavam comportamentos de agressão. Já os tutores que utilizaram maioritariamente métodos de treino baseados em recompensas, sentiram-se mais próximos emocionalmente dos seus cães do que os tutores que utilizaram métodos de treino baseados em castigos. Por último, os tutores que adquiriram os cães especificamente devido à pandemia disseram sentir agora que os animais representam atualmente um encargo maior do que tinham planeado.
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“Cuidar de um cão pode ser trabalhoso, dispendioso ou até mesmo alterar as atividades e rotinas do dia a dia. Quando a relação entre o tutor e cão não corre bem, o bem-estar do cão e do humano podem ser afetados”, destacou Bree Merritt, autora principal do estudo. E continua: “os comportamentos problemáticos têm uma maior influência na experiência de ter um cão em casa. Isto acontece devido a fatores relacionados com a aquisição durante a pandemia, nomeadamente a falta de informação por parte dos tutores e de oportunidades de socialização para os animais. Estes resultados mostram como é importante encontrar ajuda baseada em provas concretas relativamente aos comportamentos problemáticos dos cães, a fim de melhorar a saúde emocional dos mesmos e dos seus tutores, para que a relação se mantenha”.
De acordo com Rowena Packer, coautora da análise, este estudo demonstrou que aquisições de cães motivadas diretamente pela pandemia de Covid-19 — como o maior tempo disponível para cuidar de um cão durante esse período atípico — resultaram em tutores que enfrentam um maior desafio quando o animal atinge a idade adulta jovem. Por outro lado, aqueles que planearam a aquisição com base em circunstâncias de longo prazo tendem a desenvolver uma relação mais equilibrada e positiva com seus animais.
Fonte: Veterinária Atual, adaptado pela Equipe Cães e Gatos.
FAQ
Qual instituição realizou a pesquisa?
A conclusão é de um novo estudo da Royal Veterinary College (RVC).
Qual a amostragem da pesquisa?
A pesquisa incluiu dados de 794 tutores de cães adquiridos durante a fase pandémica, que partilharam informação aquando do seu cão ter atingido os 21 meses.
O que o estudo releva?
Este estudo demonstrou que aquisições de cães motivadas diretamente pela pandemia de Covid-19 resultaram em tutores que enfrentam um maior desafio quando o animal atinge a idade adulta jovem.
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