Cláudia Guimarães, da redação
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Além de determinar como será o pet, o cruzamento de informações entre genes dos pais e das mães podem dizer mais. Características de saúde, necessidades nutricionais, dentre outros hábitos de vida. Mas, quando a mão do homem se envolve na natureza, pode-se constatar bons e maus resultados. Levando em consideração apenas a aparência da raça, alguns criadores selecionam, intencionalmente, características que acarretam doenças de diversos tipos, partindo da ideia de que a melhor aparência agrada mais na hora das vendas.
O termo mutação se refere às mudanças no DNA (material genético). Estas alterações podem promover algumas variações benéficas ou não para o indivíduo, ou até mesmo, não ter nenhum efeito. Esta é a explicação apresentada pelo responsável pelo Laboratório de Biologia Molecular da Clínica Veterinária, da Universidade Estadual Paulista (Unesp, Botucatu/SP), José Paes de Oliveira Filho.
De acordo com o professor, as alterações genéticas nos animais podem ocorrer espontaneamente ou serem induzidas por fatores ambientais externos e agentes químicos, físicos e radiações. “Estes fatores são denominados mutagênicos”, esclarece.
Um grupo de cientistas descobriu, recentemente, que uma mudança genética nos Labradores pode fazê-los engordar. O estudo foi publicado na revista Cell Metabolism, no dia 03 de julho. Sobre isso, o profissional conta que a presença de um ou dois alelos, sendo um alelo herdado da mãe e outro do pai, com essa mutação está fortemente ligada ao aumento do peso e ao acúmulo de gordura corporal, bem como, ao aumento da motivação para comer nos cães da raça Labrador Retriever. Porém, Oliveira mostra que o conjunto de genes de um indivíduo, denominado genótipo, é responsável pela formação das características dos indivíduos ou fenótipo. “Esse último é modificado pelo ambiente. Sendo assim, podemos dizer que o conjunto genótipo somado ao ambiente é o que resulta a evolução de cada uma das espécies”.
O assunto relacionado ao controle genético da obesidade tem sido bastante estudado, sobretudo em humanos e camundongos, como menciona o especialista, e essa mutação no gene Pró-opiomelanocortina (POMC), estudado nos labradores, aumentará os riscos do cão alcançar o sobrepeso. “Assim, como ocorrem em humanos, estes cães, uma vez obesos, estarão sujeitos a diversas doenças, como por exemplo, diabetes, doenças da tireoide e coração, bem como problemas de pele e ósseos, principalmente nas articulações e coluna”, descreve.
Recentemente, cientistas descobriram uma mudança genética nos Labradores que pode fazê-los engordar.
As mutações no DNA dos animais que atingem a perda de função, ou a não produção de certas proteínas, produzem alguns problemas aos pets. Como citado pelo professor, na raça Labrador Retriever é possível destacar duas doenças e ambas já foram estudadas no laboratório da Unesp: o colapso induzido pelo exercício (EIC) e a degeneração progressiva da retina (prcd-PRA). “Estas duas enfermidades provocadas por mutações no DNA são herdadas dos pais”, discorre.
Além disso, algumas alterações de gene diminuem a expectativa de vida dos animais e é o caso da mutação responsável pela obesidade nos Labradores. “Mesmo submetidos a atividades físicas, estão sujeitos a ser obesos, o que acarreta em problemas desencadeados de forma direta e indireta pela obesidade. Isso, consequentemente, reduz a qualidade e a expectativa de vida deste cão”, alerta.
Quando questionado sobre quais raças de cães e gatos estão mais suscetíveis a mutações genéticas, Oliveira diz ser difícil citar, já que todas as raças estão vulneráveis. “O certo é que não existe raça mais ou menos propensa a determinada doença genética, mas sim estudos envolvendo raças específicas sobre o assunto e, consequentemente, maiores descobertas de doenças nestas raças”. Exemplo disso foi a pesquisa nos genes de labradores, da Universidade de Cambridge (Cambridge, Reino Unido).
O especialista afirma não ser possível reduzir as mutações genéticas, mas que existem meios para prevenir as doenças causadas por elas. “A partir do momento em que conhecemos o genótipo dos cães para determinada doença, podemos orientar os acasalamentos para que se minimizem o aparecimento de indivíduos susceptíveis à doença clínica”.
Especialista afirma não ser possível reduzir as mutações genéticas, mas que existem meios para prevenir as doenças causadas por elas.
Como citado por ele, os pets de hoje são submetidos às mesmas condições que os seus tutores vivem e, consequentemente, aos mesmos problemas. “Sendo assim, talvez seja hora de refletir se conseguimos nos esforçar para melhorar a nossa qualidade de vida e se realmente devemos sujeitar os nossos animais de estimação a este tipo de criação. Contudo, pesquisas, como esta dos Labradores e a disponibilidade de testes gênicos no Brasil, nos trazem a possibilidade de, pelo menos, selecionarmos animais com menor propensão a problemas de saúde”, aspira.
Embora, na maioria das vezes, o termo mutação soe como algo negativo, Oliveira Filho afirma que é possível dizer, também, que a evolução dos seres vivos, sobretudo a capacidade adaptativa das espécies, foi ou será dependente das mutações no material gênico.