Cláudia Guimarães, em casa
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Boa parte dos pacientes oncológicos acaba sendo vítima da doença, mas, antes disso, muitos animais necessitam de terapias que visem controlar a sintomatologia e a dor. Assim como nós, humanos, os pets com doença oncológica não sofrem apenas com o tumor e a sua localização, mas, também, com vários problemas subjacentes. Eis que surge a importância dos cuidados paliativos desses cães e gatos.
Conforme explica o médico-veterinário oncologista, Eduardo Alexandre Brocoletti, o tratamento paliativo é aquele onde o paciente recebe a terapia, sobretudo, para alívio dos sintomas causados pela doença. “Portanto, o principal objetivo não é a cura dos nossos pacientes, mas, sim, proporcionar conforto e uma maximização da qualidade de vida. Podemos ajudar o paciente oncológico, sobretudo, em três vertentes: controle da dor, que pode ser realizada por meio de medicamentos e outros métodos (falaremos mais a seguir); correção das atividades metabólicas, que muito tem a ver com a parte endócrina e nutricional; e a remoção de obstruções e ulcerações com procedimentos cirúrgicos”, expõe.
Cuidados paliativos não buscam a cura, mas, sim, alívio da dor, melhora nos sinais vitais e controle de sintomas (Foto: reprodução)
É importante reforçar, segundo o profissional, que nenhuma dessas técnicas tem por principal objetivo a cura dos pacientes, mas, sim, alívio da dor, melhora nos sinais vitais e controle de sintomas, que podem culminar em maior longevidade do paciente com uma melhor qualidade de vida.
A dor, de acordo com Brocoletti, é muito interpretativa, já que pode partir de um simples desconforto até algo dilacerante. “Pode, em nossos pacientes, se manifestar desde uma pequena prostração e uma sensível hiporexia, até algo de extrema gravidade que acometa, seriamente, as funções fisiológicas, motoras e neurológicas”, indica.
Quando o pet mais precisa. Para alcançar bons resultados, o tutor, na opinião do nosso entrevistado, é de extrema importância para o sucesso de qualquer tratamento na Medicina Veterinária, seja ele paliativo ou não. “Como sempre digo aos tutores de meus pacientes: 50% é responsabilidade minha, mas eles também têm os outros 50% de comprometimento para o êxito do tratamento. Isso porque depende deles a administração dos medicamentos em casa, a oferta de alimentação correta, eles que precisam levar sempre o paciente aos retornos recomendados para o tratamento, estar atentos a qualquer mudança de comportamento do animal e compreender as necessidades de seu filho de quatro patas, nesse momento da vida”, salienta.
Para o oncologista, carinho e compreensão, com certeza, influenciam na melhora do quadro. “Cientificamente, na Medicina Humana, é provado que essa atenção melhore muito o estado de pacientes críticos ou terminais e creio que na Veterinária não seja diferente, apesar de nossos pacientes, às vezes, não encararem nossos tratamentos como forma de carinho”, brinca. Mas, ainda assim, Brocoletti acredita que sempre que o intuito é o conforto e a qualidade de vida do pet, o carinho e a preocupação vêm junto, involuntariamente.
Se recomendada pela nutricionista, a alimentação natural pode ser mais atrativa e palatável aos pacientes oncológicos (Foto: reprodução)
Trabalho em equipe. Os cuidados paliativos, em casos de pacientes oncológicos, iniciam-se pelo veterinário oncologista, como explica Brocoletti, mas, em seguida, virá um tratamento multidisciplinar. “Neste momento, temos colegas anestesistas, acupunturistas, fisioterapeutas e outros para – juntos – tratarmos do controle da dor. Endocrinologistas e nutricionistas também são de suma importância para os tratamentos das alterações metabólicas e, na parte das cirurgias paliativas, temos sempre que contar com os colegas ortopedistas e cirurgiões gerais. É sempre bom frisar a importância dos colegas de diagnóstico laboratorial e de imagem, pois, sem eles, seria impossível planejarmos nossas ações. Quanto mais profissionais integrados, maior é nossa chance de sucesso no tratamento realizado”, garante.
Como destacado pelo veterinário, não basta apenas atuar no mesmo caso: é imprescindível que todos os envolvidos no tratamento estejam afinados e em constante comunicação. “Em alguns locais em que trabalho, temos uma equipe em extrema sintonia, desde os veterinários especialistas e clínicos até os auxiliares, o que torna tudo mais rápido, desde as análises laboratoriais, de imagem até o diagnóstico. Assim, podemos elaborar, o mais rápido possível, o tratamento, chegando em um resultado muito mais satisfatório”, pondera.
O profissional também destaca o suporte nutricional como um dos principais pilares nestes quadros. “No caso dos meus pacientes, sempre opto pela alimentação natural, preconizando o aumento da ingestão de gorduras e proteínas, sendo essa modalidade de nutrição mais fácil, por ser mais atrativa e palatável aos animais. Porém, essa dieta sempre deve ser acompanhada da suplementação adequada prescrita pela nutricionista. Tudo isso é de essencial importância para evitar o que chamamos de caquexia na oncologia. Acontece, muitas vezes, pelo próprio tumor e, outras vezes, pelos tratamentos implementados para a doença”, revela. Por isso, como defende o veterinário, é correto afirmar que a nutrição está intimamente ligada ao sucesso do tratamento.
Veterinários também devem dar apoio psicológico ao tutor, que se encontra em um momento de fragilidade (Foto: reprodução)
Tratando das dores. De acordo com Brocoletti, há muitas maneiras de amenizar a dor dos animais, desde o simples uso de analgésicos e anti-inflamatórios convencionais, até o uso de opióides e protocolos realizados pelo setor de anestesia para os momentos de crise. “Para a manutenção, temos, também, o auxílio de acupuntura, ozonioterapia e fisioterapia. Já a cirurgia paliativa é utilizada em formações tumorais ulceradas, onde os tumores possam causar muita dor ou quando colocam a vida do paciente em risco”, indica e declara que, muitas vezes, o procedimento cirúrgico é realizado emergencialmente quando o paciente está em risco de óbito.
Em sua opinião, os cuidados paliativos se encerram quando não é mais possível observar uma qualidade de vida aceitável nos animais. “Como falamos anteriormente, corremos atrás de uma longevidade com qualidade de vida. A partir do momento que não temos mais essa qualidade, quando acabam as perspectivas e as tentativas, vira sofrimento e não é isso que queremos aos nossos pacientes”, frisa.
O oncologista ainda cita que existem tratamentos que podem não parecer, mas que também têm uma modalidade paliativa: a radioterapia e a quimioterapia paliativas. “Elas podem nos proporcionar um controle no tamanho e desenvolvimento do tumor. Nessas modalidades, é sempre importante deixarmos claro ao tutor que não serão utilizadas de forma curativa e agressiva, mas que também são capazes de promover melhorias ao pet, por isso, são utilizadas de forma mais branda”, compartilha.
Outro fator destacado pelo profissional é o apoio psicológico ao tutor: “Devemos responder e esclarecer todas as suas dúvidas, por mais absurdas que possam ser, pois temos que observar que o mesmo se encontra em um momento de fragilidade excessiva”, conclui.