Cláudia Guimarães, da redação
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Os seres humanos estão sujeitos a cometerem vários delitos uns aos outros e, pode ocorrer erroneamente, a realização de três deles que resultam em danos irreparáveis às vítimas: acusar de um crime (calúnia) humilhante (difamação) e em público (injúria). Diante de acusações com esses conteúdos, a carreira de um médico-veterinário pode ser afetada se um cliente descontente confundir insatisfação em relação ao serviço com mau profissionalismo do clínico.
Como comenta o coordenador do setor de Ética do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio de Janeiro (CRMV-RJ, Rio de Janeiro/RJ), Ismar Araujo de Moraes, o respeito de um médico-veterinário é conquistado a partir de seu trabalho realizado de modo ético e respeitoso ao seu cliente e paciente. Sua clientela é que o mantem no mercado de trabalho e uma notícia infundada publicada na mídia coloca em risco essa credibilidade construída ao longo de muitos anos.
Foi o que aconteceu com a médica-veterinária Paola de Medeiros Meigas, da clínica Vet Angel’s (Rio de Janeiro/RJ), de Responsabilidade Técnica de Nathaly Paiva Ituassu. Paola realizou um atendimento à uma cadela, que, após cair da sacada do segundo andar de um apartamento, teve o globo ocular lacerado por um felino. A profissional foi mordida diversas vezes, sendo o último ataque com maior contundência, resultando em corte e sangramento do polegar. A tutora do animal, que estava filmando o atendimento pelo celular, sem autorização prévia, captou o momento em que Paola, por conta da forte mordida, teve um reflexo de retirar a mão da boca do animal, empurrando-o, involuntariamente, para frente. A proprietária do estabelecimento, Nathaly, que estava presente durante o caso, acompanhou a boa imagem de seu empreendimento ser devastada e recebeu ameaças de morte, pois acusaram a clínica de maus-tratos.
Médicos-veterinários podem preservar seus direitos de imagem e não permitir filmagens de seus atendimentos (Foto: reprodução)
Nathaly conta que não foi autorizado nenhum tipo de gravação do atendimento, muito menos a divulgação dele em redes sociais. O coordenador do CRMV-RJ, Moraes, afirma que, na prestação do serviço veterinário, deve ser respeitado o Código de Defesa do Consumidor, que prevê a satisfação de ambas as partes. O médico-veterinário pode preservar seus direitos de imagem e não permitir filmagens de seus atendimentos. “Caso o cliente não aceite as condições do médico-veterinário poderá buscar outro que permita. É importante ressaltar que o médico-veterinário tem direito de escolher seus clientes e não sendo um caso de risco de morte do animal, pode recusar prestar um atendimento para um cliente que exigir filmagens contra a sua vontade”, declara.
Moraes explana que, sempre que solicitado por um profissional ofendido, o CRMV-RJ analisa o fato e, se confirmado que houve desrespeito ao profissional no exercício de suas funções de médico-veterinário, é realizada a publicação de um desagravo público, sendo este um direito previsto no nosso Código de Ética. Essa foi a medida tomada no caso da clínica Vet Angel’s e Nathaly menciona que o Conselho foi de suma importância para o ocorrido. “Foi julgado em plenário o fato e, por unanimidade, o CRMV alegou que não houve maus tratos e sim um ato reflexo involuntário após uma mordida. Depois disso, eles publicaram uma nota de desagravo a nosso favor”, lembra.
O representante do CRMV-RJ expõe que ocorrências de publicações que denigrem a imagem do médico-veterinário são raras, pois a sociedade entende e respeita esse profissional atendente de seu animal. “Não mais do que quatro casos foram analisados nos últimos seis anos em que estou à frente do setor de Ética do CRMV-RJ. Nestes casos, foi observado que todos os solicitantes faziam jus ao desagravo publico”, revela e descreve que as medidas a serem tomadas pelo médico-veterinário na esfera do CRMV é apresentar os fatos ocorridos e pedir a publicação de um Desagravo Público em sua defesa. “O profissional deve também buscar um advogado para analisar a possibilidade de processo judicial em face dos danos morais sofridos”. Nathaly, tão logo que soube da existência do vídeo, fez um Boletim de Ocorrência e os profissionais da clínica ingressaram em um ação contra a tutora da Bela. “O processo ainda esta em trâmite, por isso não temos ainda nenhum resultado”, conta a profissional. “Infelizmente, nós médicos-veterinários estamos sujeitos a esse tipo de comportamento por parte de alguns poucos tutores que alegam que devemos ser mordidos. Ser mordido é inerente ao nosso trabalho, mas não é por isso que devemos permitir que aconteça”, insere.
A médica-veterinária afirma que o Conselho foi de suma importância para o ocorrido (Foto: divulgação)
Para Moraes, do CRMV-RJ, a internet é um excelente veículo para divulgação de serviços profissionais, no entanto ele destaca que existem regras para tal. “O médico-veterinário deve sempre fazer publicações informando o seu número de registro no CRMV, não deverá usar termos discretos sem fazer autopromoção e jamais informar preços de seus serviços, as formas de pagamento e nem usar títulos de especialidades não reconhecidos pelo MEC e CFMV”. Nathaly concorda com o comentário e complementa dizendo que a internet é um meio de comunicação maravilhoso se usado de forma correta. “Pela internet ajudamos centenas de animais que chegam a nossa clínica por meio de resgate, animais que são capturados de maus tratos, onde realizamos todo o acompanhamento clínico e cirúrgico”, menciona.
Sobre o caso, Nathaly afirma que foi uma oportunidade da classe veterinária levantar uma bandeira e demonstrar que são unidos contra maus-tratos e, além disso, capazes de provar sua inocência quando questionados. “Passamos anos nos especializando, estudando para buscarmos cada vez mais uma Medicina Veterinária de excelência e não merecemos, nem vamos deixar que destruam nossa profissão e nossa imagem. Somos médicos-veterinários porque, acima de tudo, amamos e respeitamos os animais”, finaliza.