Cláudia Guimarães, em casa
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Desde o ano de 2005, ele atua na área de ortopedia e neurocirurgia, quando iniciou sua pós-graduação, uma residência em Cirurgia de Pequenos Animais, da Universidade de Marília (Unimar). Esse que lhe descrevo é o médico-veterinário autônomo, que atua na Vetso Clínica Veterinária Popular (Sorocaba-SP), especialista nas áreas já citadas, Ricardo Furlan Alonso, entrevistado convidado para essa reportagem especial do Dia do Ortopedista.
Nestes 16 anos de carreira na área, Alonso menciona algumas das principais causas de problemas na coluna dos animais. Entre elas, ele percebeu que, no caso das discopatias (doença do disco invertebral) nos cães, há uma somatória de fatores, tais como: “Hereditariedade; conformação racial, onde cães condrodistróficos são mais propensos ao desenvolvimento de discopatias (Teckel, Buldogue, Lhasa Apso, Maltes, Shitizu, Poodles). Já nos cães de grande porte (Labrador, Dog Alemão, Pastor Alemão entre outros), encontramos a Síndrome da Cauda Equina (rebaixamento do Sacro em relação a L7 ultima vértebra lombar, Síndrome de Wobller ou estenose dos forames intervertebrais na região lombo-sacra”, menciona.
Outra condição que possibilita o problema é a má formação ou ausência do processo odontóide e instabilidade Atlânto-Axial em cães Toys, como explicado pelo profissional. “E, por último, as lesões traumáticas, fraturas e luxações vertebrais, ocasionadas, em sua maioria, por acidentes automobilístico”, inclui.
Você, leitor, vai perceber que o profissional menciona os cães e não os gatos. Isso porque, segundo Alonso, os felinos pouco são acometidos por discopatias. “Geralmente, os problemas de coluna nos gatos estão associados a traumas (fraturas e luxações) por atropelamento ou maus-tratos, infelizmente”, lamenta.
Quando vale uma consulta?
Os primeiros sinais do cão acometido por uma discopatia podem ser discretos. Segundo Alonso, uma simples claudicação (mancar), dificuldade para sentar ou levantar, pescoço rígido e relutância em abaixar a cabeça para comer. “Já nos casos mais graves, após subir ou descer do sofá, o paciente pode parar de andar com as patas traseiras de forma aguda. Em ambas as situações a busca por um especialista o mais breve possível ajudará a resolver o problema do paciente”, alerta.
Alguns relatos de tutores ao veterinário ortopedista Alonso, mostram que os pacientes acometidos por discopatia desenvolvem uma gama de sinais, até mesmo, comportamentais. “Podemos citar, gritos de dor quando se movimentam, param de subir e descer do sofá ou cama, param de comer, ficam apáticos, na maior parte do tempo, estão deitados em suas caminhas e alguns ficam agressivos devido às fortes dores na coluna. Já nos cães acometidos por discopatias severas (extrusão do disco intervertebral, que se rompe e o núcleo pulposo se desloca para o interior do canal intervertebral), podemos observar a paralisia dos membros de forma aguda”, destaca.
O profissional explica porque é importante procurar um especialista em ortopedia ao invés do veterinário clínico, nesses momentos: “Os ortopedistas e neurocirurgiões estão preparados para o atendimento de pacientes acometidos por discopatias, fraturas e politraumatismos, podendo identificar, localizar e indicar os melhores exames e tratamentos para esses pacientes”.
Evitando o agravamento
Para evitar que o quadro do animal se agrave e intensifique a dor que ele sente, o profissional recomenda buscar ajuda, o mais breve possível, de um médico-veterinário especialista em ortopedia e neurocirurgia, para localização, dimensionamento da gravidade da lesão e instituição do tratamento o quanto antes. “É preciso realizar os exames de imagem necessários, iniciando pelo raio-x com o paciente sedado ou anestesiado e, posteriormente, uma tomografia computadorizada ou ressonância magnética e, adicionalmente, se necessário, o tratamento cirúrgico”, declara.
De forma mais detalhada, Alonso compartilha que o diagnóstico das discopatias é possível ser comparado a uma escada: “Um degrau por vez, iniciando por um exame físico e neurológico minucioso, identificando o local da lesão, solicitar um raio-x sedado/anestesiado para mais conforto e melhor posicionamento do paciente e, posteriormente, uma mielotomografia computadorizada ou ressonância magnética, dependendo de cada paciente. Pode-se, ainda, fazer a impressão 3D em tamanho real para melhor planejamento cirúrgico. Destaco que, atualmente, pode ser considerado imperícia médica uma neurocirurgia sem que o paciente tenha sido submetido a uma mielotomografia ou ressonância magnética”, revela.
Após as investigações e diagnóstico elaborado por um profissional qualificado, o próximo passo é a escolha do tratamento: clínico ou cirúrgico. “Qualquer uma dessas opções deve estar de acordo com o tipo e a extensão das lesões. A cirurgia é indicada quando temos uma compressão severa por protusão (quando o disco intervertebral se deforma e se desloca em direção ao cordão medular causando compressão, também chamado de hérnia de disco) ou extrusão do disco intervertebral, ressaltando que as discopatias com indicação cirúrgica, principalmente a extrusão aguda, devem ser tratadas como emergência cirúrgica e o paciente deve ser operado o mais breve possível”, frisa.
O profissional acredita ser importante citar as terapias alternativas, como acupuntura e fisioterapia: “Ambas terapias se somam à cirurgia, tanto no pré quanto no pós-cirúrgico”, adiciona.
Quanto ao valor médio de um tratamento completo como o mencionado pelo especialista, Alonso declara que a neurocirurgia tem um valor mais alto quando comparada a cirurgias de tecidos moles ou ortopédicas. “Esse fato se dá pelos altos investimentos em cursos, equipamentos, instrumentais específicos, curva de aprendizado e a complexidade para execução desse tipo de intervenção. Ressaltamos que cada paciente requer um tipo de técnica cirúrgica ou a associação de técnicas somadas à instalação de implantes específicos para estabilização da coluna vertebral. Sendo assim, o valor varia de acordo com o tamanho, raça, técnica cirúrgica e implantes a serem aplicados para cada paciente”, responde.
Especialista é melhor que o Dr. Google!
Com o fácil acesso à internet e as mais diversas páginas que por aqui se encontram, muitos tutores buscam respostas e tratamento caseiros para os problemas de seus animais de estimação, assim como fazem consigo mesmos, acostumados com a polêmica automedicação.
Na visão de Alonso, o fato de as informações estarem ao alcance de todos, há desvantagens e vantagens. “A desvantagem de se buscar ‘ajuda’ em sites da internet são os efeitos deletérios que possam causar ao paciente ou, até mesmo, inviabilizar um tratamento feito a frente por um profissional especializado. Já as vantagens é que os tutores podem se informar na internet se as recomendações feitas pelo profissional procedem ou não. Eu, particularmente, sempre deixo os tutores muito à vontade para buscar uma segunda opinião ou ler na internet sobre a doença que acomete seu pet, orientando para que busquem trabalhos técnicos ou sites de confiança”, argumenta.
E após todos esses anos de ortopedia veterinária, Alonso destaca algumas das coisas consideradas, por ele, boas que aprendeu: “Minha profissão é maravilhosa. Com ela, aprendi a ouvir atentamente os tutores e saber me colocar no lugar e no mundo deles; examinar os pacientes com o máximo de atenção e carinho possível; indicar e planejar minuciosamente o tratamento para cada paciente; comemorar cada resultado positivo, independente do seu tamanho; sempre indicar os melhores exames e tratamentos para cada paciente em particular; ser humilde para ouvir os feedbacks de tutores e colegas (positivos e negativos), buscando, assim, a melhora constante dos serviços. Também me dei conta de que nem todo resultado esperado será alcançado e que é preciso refletir como melhorar em uma próxima oportunidade; estar sempre próximo a pessoas que sabem mais do que nós; ser transparente, verdadeiro e leal com os tutores”, finaliza.