Silenciosa e tardia em seu diagnóstico, a doença renal crônica (DRC) é um problema comum a alguns animais domésticos e, ainda que poucos suspeitem, chega a atingir 10% dos cães e 30% de gatos acima dos 15 anos de idade. Comumente associada à perda de peso, sede excessiva, quadros de diarreia e vômito, além de aumento do volume urinário, diminuição do apetite e queda do pelo, a doença é um fator preocupante quando se fala sobre o encurtamento da sobrevida do animal.
Como não há um tratamento específico, os recursos utilizados visam retardar ao máximo seus avanços: se o animal apresentar vômito, será instituído um tratamento específico para cessá-lo, assim como acontecerá no caso da manifestação de acidose metabólica e outras complicações associadas à doença. Esse tipo de intervenção é conhecido como tratamento de suporte.
Em busca de alternativas que permitam maior expectativa de vida e melhores opções de tratamento, a doutoranda Fernanda Chicharo Chacar identificou, dentre as demais proteínas estudadas, uma proteína ligada à vitamina D (VDBP), capaz de detectar, precocemente, a nefropatia em cães. O estudo é resultado de uma parceria entre a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP, São Paulo/SP) e o laboratório da disciplina de nefrologia da Faculdade de Medicina (FM).
Através de uma amostra simples de urina, Fernanda encontrou as proteínas VDBP, RBP e a proteína de tamm-horsfall (THP) em animais que apresentavam uma evolução mais importante da doença, ainda que em estágio inicial. “Os nossos resultados são bastante interessantes porque foram encontrados em animais do 1º estágio alteração da ureia ou nas concentrações sanguíneas de creatinina, que muitas vezes passam desapercebidos numa primeira abordagem”, explica.
Enquanto a VDBP urinária sinaliza a ocorrência de uma lesão no túbulo renal, um segmento do nefron (unidade funcional do rim), através da proteína ligada ao retinol, a RBP, é possível identificar a extensão dessa lesão. A especialista explica que há uma grande variação nos dados que se referem à expectativa de vida após a descoberta da nefropatia. “Há literatura que diz que a sobrevida é de seis meses ou um ano, mas na nossa experiência clínica temos animais com sobrevida para mais de dois anos, por exemplo”. A pesquisadora também aponta a atenção dada pelo proprietário como um fator essencial para que as intervenções clínicas aconteçam antecipadamente.
Vale lembrar que, quando se fala sobre doença renal crônica, algumas raças são predispostas a determinados tipos de nefropatia. “Shih tzu e lhasa, por exemplo, são predispostos à displasia renal; outras raças, como rottweiler e golden, tem predisposição a glomerulopatia. Mas devido à dificuldade em realizar o diagnóstico específico desta e das demais nefropatias, utilizamos o termo genérico doença renal crônica”, conta.
Para identificar as proteínas associadas à vitamina D, o estudo utilizou técnicas quantitativa e qualitativa, tendo como referência o guideline, uma espécie de guia constituído por diretrizes e recomendações voltadas a veterinários e clínicos atuantes na área. A segunda técnica utilizada para provar que a proteína, de fato, era ligada à vitamina D, foi a de western blotting.
Entre as dificuldades encontradas durante o estudo, Fernanda aponta a padronização da técnica e a seleção dos animais participantes do estudo, considerando a existência de critérios muito rigorosos de inclusão e exclusão. Em contrapartida, a pesquisadora, orientada ao longo de seu estudo pela professora Marcia Mery Kogika, mostra-se otimista em relação à implementação desses métodos no futuro. “O primeiro passo para nós pensarmos nestas proteínas como ferramentas de diagnóstico precoce é aprofundarmos o estudo sobre elas e sobre os métodos utilizados para a sua avaliação, assim podemos aprimorá-los, e no futuro inserí-los com maior segurança na rotina de avaliação do paciente canino ou felino com doença renal crônica”.
Fonte: USP, adaptado pela equipe Cães&Gatos VET FOOD.