Cláudia Guimarães, da redação
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Somos tão ligados aos nossos animais de estimação, que, quando algo de anormal está acontecendo com eles, já notamos. Um indício de que a saúde não vai tão bem já é o suficiente para estarmos alertas e procurarmos um médico-veterinário de confiança, capaz de averiguar sua saúde e bem-estar e, neste mês que se inicia, te lembramos: o câncer de próstata pode acometer os animais e os sinais podem ser semelhantes a outras patologias.
Os primeiros sintomas podem ser observados com a diminuição da micção ou uma incontinência urinaria, avançando, rapidamente, para sinais mais graves como: prisão de ventre, sangue na urina, dores ao redor da localização da próstata, fezes em formato de fita, causada pela compressão e diminuição do lume do intestino grosso. Também pode haver postura e marcha anormal, perda de apetite e, consequentemente, perda de peso, febre, liquido sanguinolento e aquoso no pênis, claudicação e relutância para se movimentar e realizar exercícios.
Essas informações foram passadas pelo médico-veterinário que atua na área de oncologia, Eduardo Alexandre Brocoletti, que também menciona que não existe predisposição de raças para desenvolver esse tipo de câncer, porém é mais comum em cães com idade acima de 8 anos. “Esses podem ser castrados ou não, portanto, não evidenciando que os tumores prostáticos sejam hormônio-dependentes. O que podemos saber é que os adenocarcinomas são mais agressivos em animais não orquiectomizados, já os carcinomas indiferenciados não dependem dos hormônios andrógenos para se proliferar”, explica.
Investigação. O diagnóstico, por muitas vezes, é um pouco complicado e tardio, como narra Brocoletti, já que a sintomatologia pode ser confundida com outros tipos de câncer e, até mesmo, com quadros de infecção urinária. “O exame físico é o primeiro passo para o diagnóstico e deve ser realizado por meio do toque retal a fim de verificar irregularidades na glândula prostática. A palpação abdominal também pode ser feita e podem ser encontradas outras formações na região, porém, estas, podem não estar ligadas ao tumor de próstata”, indica.
Os primeiros sintomas desse tipo de câncer podem ser observados com adiminuição da micção ou uma incontinência urinária (Foto: reprodução)
Outros exames devem ser realizados para um diagnóstico definitivo. Entre eles, segundo o veterinário, está o ultrassom, que serve para verificar irregularidades da glândula prostática, além de nódulos cavidades císticas, inchaços, pólipos e metástases na cavidade abdominal. “Uretrografia retrograda também pode ser realizada para observarmos se há estenose da uretra prostática e defeitos em seu preenchimento e, assim, obtermos um diagnóstico diferencial a outras enfermidades”, cita.
Raio-x de tórax também auxilia os profissionais nessa investigação. “Ele serve para observarmos se há metástases na cavidade torácica e a citologia do ejaculado é útil, principalmente, em casos de adenocarcinoma. E, por fim, o exame de histopatológico incisional ou excisional (biopsia) que é extremamente importante para sabermos qual tipo de neoplasia estamos enfrentando e para instituirmos o melhor tratamento”, adiciona.
Diagnóstico tardio. Na visão de Brocoletti, neste Novembro Azul, vale apontar que a Medicina Veterinária vem se desenvolvendo bastante na área de oncologia ao longo do tempo, mas esbarra no diagnóstico tardio dos tumores de próstata quando os mesmos estão muito avançados e, por muitas vezes, sendo descobertos por metástases em outros órgãos. “As inovações no Brasil ficam a cargo dos tratamentos, como por exemplo a radioterapia, que, hoje, se encontra disponível nos grandes centros, mas, infelizmente, acabamos sendo freados pelos custos do procedimento. Outro avanço a âmbito de tratamento é o uso da biologia molecular para caracterização dos tumores prostáticos e para entender sua malignidade e seu comportamento, tentando, com isso, buscar terapias mais eficazes para nossos pacientes, para que possam melhorar seus prognósticos”, avalia.
O veterinário lembra que não há uma forma eficaz para prevenção da enfermidade, já que, com a castração, é possível evitar condições pré-cancerosas, como a hiperplasia prostática benigna. Porém, em animais castrados e de tamanho maior, a incidência dos carcinomas prostáticos é maior que nos animais inteiros, não podendo, então, atrelar o problema às disfunções hormonais, o que torna difícil a realização da prevenção”, expõe.
Hoje, existem diferentes opções de tratamentos disponíveispara a doença em cães e gatos (Foto: reprodução)
Recursos terapêuticos. As opções de tratamentos disponíveis, hoje, para cães e gatos são: primeiramente, a possível a remoção total da próstata, que só é sugerida se o animal não apresentar sinais de metástase em outros órgãos e é o método mais eficaz. “Mas é importante ressaltar que a maioria dos animais não é candidata a esse tratamento, pois o tumor de próstata se metastátiza muito facilmente em outros órgãos”, compartilha.
Outro tipo de tratamento é uma junção de anti-inflamatórios não esteroides COX 2 com medicamentos quimioterápicos e radioterapia, segundo o profissional. “Porém, essa última é de difícil acesso por conta do elevado valor financeiro. Uma terceira opção menos eficaz é a junção da quimioterapia com o COX 2: o valor do tratamento é menor, mas a garantia de que o animal melhore também”, frisa.
Uma nova vertente de tratamento está na imunoterapia, como lembra o veterinário, principalmente para adenocarcinomas prostáticos, já que o cão é o principal modelo experimental para humanos e o mesmo produto já se encontra à venda para as pessoas. Mas, apesar de haver esse leque de opções terapêuticas, elas podem causar efeitos colaterais nos pets. “Por exemplo, a cirurgia pode ocasionar uma incontinência urinária; a quimioterapia pode trazer os efeitos colaterais cabíveis para cada medicamento, apesar de que, na vivência da oncologia veterinária, observei que os cães são muito mais resistentes e apresentam efeitos colaterais bem menores do que o ser humano. Já na radioterapia observamos, também, alguns efeitos adversos entre nossos pacientes”, declara.
Lidando com o tutor. A reação do proprietário ao receber o diagnóstico, normalmente, é de muita tristeza e choro, como descreve Brocoletti. “Tento amenizar a situação mencionando a qualidade de vida e mostrando o tratamento o mais humanamente possível. Acho importante não mentir ao tutor e nem dar esperanças falsas, por isso, conscientizo de que a terapia é importante e que seu principal objetivo não é estipular um prazo de vida ao pet, mas, sim, garantir a melhor qualidade de vida possível enquanto ele viver, para que seja possível comer, brincar, passear, viajar etc.”, exibe.
Para ele, dessa maneira, o paciente tem estrutura para saber lidar com a doença. “Também vale reforçar que a chance de cura de um tumor de próstata descoberto logo no início é muito maior que se descoberto tardiamente. Com consultas e exames regulares, a cura pode vir como uma consequência”, conclui.
Para reforçar o movimento Novembro Azul, a equipe da Ciasulli Editores, responsável pela Revista Cães&Gatos VET FOOD, se vestiu inteira de azul:
Eduardo Alexandre Brocoletti (Foto: divulgação)