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Clínica e Nutrição

DOAÇÃO DE SANGUE: PACIENTES AINDA SÃO MAIORIA COMPARADO AOS DOADORES

DOAÇÃO DE SANGUE: PACIENTES AINDA SÃO MAIORIA COMPARADO AOS DOADORES Diversas são as causas que levam cães e gatos à transfusão sanguínea
Por Equipe Cães&Gatos
Por Equipe Cães&Gatos

Diversas são as causas que levam cães e gatos à transfusão sanguínea

Cláudia Guimarães, da redação

claudia@ciasullieditores.com.br

A medicina transfusional veterinária evoluiu muito nos últimos anos, no entanto, mesmo com os diversos avanços, ainda não foi inventado o “sangue sintético”. Logo, a vida de muitos animais de companhia depende, sobretudo, dos cães e gatos que possam ser doadores de sangue em um ato simples, sem riscos e muito nobre.

A veterinária hematologista e sócia fundadora do Hemovet – Laboratório e Centro de Hemoterapia Veterinário, Simone Gonçalves Rodrigues Gomes, relata que os cães necessitam de transfusão quando há anemia, trombocitopenia (diminuição do número de plaquetas) ou deficiência dos fatores de coagulação. Já nos felinos, a principal causa de transfusão é a anemia.

A profissional declara que, antes da transfusão sanguínea, realiza-se um teste de compatibilidade, no caso de cães. “Quando se trata de felinos, há a possibilidade de realizar o teste de compatibilidade e tipagem sanguínea. Os cães possuem mais que 13 grupos sanguíneos, logo não há kits para tipagem disponíveis comercialmente para todos eles. Os gatos possuem 3 tipos sanguíneos: A, B e AB, sendo possível determinar o grupo sanguíneo para uma transfusão com maior segurança”, esclarece.

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Os riscos transfusionais aumentam quando não são realizadosos exames prévios nos doadores (Foto: reprodução)

A veterinária intensivista e coordenadora da Vet Support – Unidades Moema e Vila Carrão, Telma Montano Palma, faz um alerta sobre o tema: toda transfusão somente deve ser realizada em casos de real necessidade, respeitando os fatores de indicação e os cuidados para evitar contaminação. “Por isso, deve-se avaliar e ponderar o risco do procedimento. Se o paciente se encontra em uma situação em que a transfusão pode ser um risco, mas a não realização da mesma torna-se mais grave ao paciente, esta deve ser realizada e monitorada”, avalia. Assim, sem sua opinião, o intensivista tem papel fundamental no monitoramento desse paciente, seja durante ou após a transfusão, dependendo da situação em que o paciente se encontra, se já foi submetido a outras transfusões, por exemplo, sendo indicada a internação.

Há algum risco? Constatada a indicação da transfusão, Telma afirma que é necessário realizar cálculos com o objetivo de: definir o valor de Ht a ser atingido (meta), quantidade do volume a ser infundido (pode ser menos de uma bolsa de sangue ou até mesmo mais de uma), velocidade a ser infundida na primeira e demais horas de transfusão (gotas por segundo) e tempo limite entre o início e fim da transfusão. “É essencial respeitar a velocidade de infusão, pois a reação mais grave pode ocorrer ainda na primeira meia hora de transfusão devido a incompatibilidade sanguínea. A gravidade da reação é diretamente proporcional ao número de hemácias infundidas”, salienta e informa que a velocidade ideal de infusão é de 0,25 a 0,5ml/kg/h na primeira meia hora. Nas horas seguintes, 10 a 20ml/kg/h. “Nos cardiopatas e os nefropatas, a velocidade das demais horas deve ser menor: máximo 5ml/kg/h. O tempo total da transfusão varia de 2 a 4 horas”, complementa.

A transfusão sanguínea, como explicado por Simone, é realizada por via intravenosa e existem riscos de reações transfusionais. “Assim, os pacientes devem ser monitorados durante todo o procedimento por profissionais preparados para identificar essas possíveis reações o mais precoce possível e, caso ocorram, realizar o tratamento mais apropriado”, destaca. Existe a possibilidade de óbito quando o sangue do doador é incompatível com o receptor, segundo a veterinária, ocorrendo uma reação hemolítica aguda. “As reações transfusionais podem ser classificadas em imunológicas e não imunológicas e, ainda, em agudas e tardias”, insere.

Telma aponta que podem ocorrer efeitos colaterais em diversas intensidades, desde as mais simples, como prurido, edemas de face, febre discreta, até as mais graves, como aumento da febre, vômitos, taquicardia, hipotensão, lesão pulmonar aguda – edema pulmonar agudo não cardiogênico (TRALI), choque e óbito. “Pensando nisso, o intensivista também deve ter conhecimento das possíveis reações decorrentes de uma transfusão e o que deve ser feito em cada situação. Dessa maneira, consegue agir o mais rapidamente possível e minimizar suas consequências”, opina.

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A principal dificuldade é a conscientização dostutores sobre a importância de seus petsserem doadores (Foto: reprodução)

Após a transfusão, como conta Simone, o paciente deverá ser monitorado em torno de 24 horas para identificação de reações transfusionais tardias, como edema de face, hemólise, urticária e distrição respiratória.  “A doação de sangue é um procedimento seguro, mas, após o procedimento, o cão deverá ser monitorado em torno de 15 minutos, já que, nesta espécie, a sedação é dispensável. Os felinos, caso haja sedação ou anestesia, devem ser observados até a completa recuperação anestésica. Esta monitoração deve englobar a avaliação dos seguintes parâmetros: frequência cardíaca, frequência respiratória, mensuração da pressão arterial, avaliação de mucosas e nível de consciência”, elenca.

Para Telma, o monitoramento realizado pelo intensivista deve ser criterioso. “Ter conhecimento técnico é de fundamental importância para que o procedimento de transfusão sanguínea tenha seu objetivo alcançado. Desde a escolha do componente sanguíneo a ser utilizado, o monitoramento, o conhecimento das reações possíveis e a correta intervenção nesses casos. A transfusão possibilita que o animal possa sair do risco iminente de morte, tenha condições para ser submetido a uma cirurgia importante e pode aumentar a sobrevida e a qualidade de vida do paciente enquanto se determina o diagnóstico e/ou o tratamento se torna efetivo”, comenta.

Pet doador. A doação de sangue, assim como no ser humano, é um procedimento seguro, desde que sejam obedecidos alguns critérios. Simone aponta que os cães devem apresentar peso mínimo de 27 kg, idade entre 1 e 8 anos, temperamento dócil, vacinação e vermifugação atualizadas, controle de carrapatos e pulgas. “Além disso, não apresentar enfermidade pré-existente e não ter recebido transfusão prévia. São realizados exames para detecção de doenças que podem estar presentes de forma assintomática. Dentre os exames, realiza-se: hemograma, função renal, testes para detecção de erliquiose, dirfilariose, Lyme, leishmaniose e brucelose”, explana. Os felinos devem ter peso mínimo de 4kg, idade entre 1 e 6 anos, também ser dócil e com a saúde em dia. “Da mesma forma que o cão, devem ser realizados exames prévios, dentre eles: hemograma, função renal, imunodeficiência felina e leucemia felina (FIV e FeLV) e micoplasmose”, adiciona.

De acordo com ela, infelizmente, existe um número maior de cães e gatos que necessitam de transfusão do que doadores de sangue.  “E a transfusão pode ser definida como ‘vida’, já que, em pacientes críticos, ela restabelece a vida do paciente para que consiga responder ao tratamento da doença concomitante. É a única chance que ele tem para restabelecimento dos parâmetros vitais”, analisa.

(Por: C&G VF)

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