Cláudia Guimarães, em casa
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A Medicina Veterinária tem uma forte correlação com a saúde pública. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que saúde tem a ver com bem-estar físico, mental e social e não apenas à ausência de doença ou enfermidade. Dentro disso, se enquadra o papel dos médicos-veterinários.
Na visão do veterinário, residente em Atenção Primária à Saúde, pelo Centro Universitário UNIFIP (Patos-PB), atuante no município de Santa Luzia (PB), Pedro da Silva, as desigualdades sociais presentes em diferentes países na promoção da saúde e no controle de doenças, especialmente doenças transmissíveis, são um perigo comum para o progresso da humanidade. “Portanto, informar à população sobre questões essenciais em saúde pública e obter cooperação ativa por parte das pessoas são itens essenciais para a melhoria da saúde coletiva global. É aí onde minha profissão demonstra seu valor”, garante.
Conforme explica o profissional, a partir de sua atuação na Atenção Primária à Saúde (APS), o médico-veterinário promove não só saúde animal, mas, também, saúde ambiental e, consequentemente, saúde humana. “Isso acontece porque, além de compromissado com a promoção e a proteção da saúde e do bem-estar de cada animal importante para nossa sociedade, a partir da clínica, diagnóstico e educação preventiva, por exemplo, os veterinários podem atuar em áreas como Vigilância e Educação/Conscientização Epidemiológica, Ambiental, e Sanitária; Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal (POAs)”, elucida.
Parcerias entre uma esfera educacional e uma governamental sãoessenciais para aprimorar os serviços de saúde (Foto: reprodução)
Para Da Silva, a atuação nessas esferas tem tudo a ver com saúde pública porque, entre outras coisas, fomenta qualidade e segurança de alimentos, sobretudo de POAs; prevenção/controle de doenças, principalmente zoonoses; promoção, manutenção e recuperação da saúde humana e animal; proteção de recursos naturais e da fauna/flora. “Portanto, como médico-veterinário residente em Atenção Primária à Saúde (APS), posso e devo promover iniciativas que contemplem as respectivas competências, como o desenvolvimento de ações educativas (palestras, mídias, mutirões) sobre prevenção de doenças, por vezes endêmicas (ex.: Leishmaniose Visceral Canina-LVC), doenças dos carrapatos, toxoplasmose e os reais riscos para gestantes, arboviroses), sobre guarda responsável, higienização e qualidade dos alimentos, etc.”, enumera.
Capacitação. A Residência Multiprofissional em Atenção Primária à Saúde (RMAPS) é uma pós-graduação que busca transformações para a capacitação em saúde e cuja base é a articulação entre meio acadêmico (universidades e faculdades, por exemplo) e o Sistema Único de Saúde (SUS). “Essa parceria entre uma esfera educacional e uma governamental também procura estabelecer relações contínuas com a população para ações que aprimorem os serviços de saúde e, deste modo, superem o modelo biomédico hegemônico; puramente assistencialista e curativo”, explica o trabalho realizado em Santa Luzia (PB).
A RMAPS da qual Da Silva faz parte iniciou em março de 2020 e o RMAPS tem como instituição formadora o Centro Universitário de Patos (UNIFIP) e como proponente a Prefeitura Municipal de Patos (PB) e prefeituras associadas, como é o caso da Prefeitura Municipal de Santa Luzia. Atualmente, a equipe atuante, segundo o profissional, conta com 22 residentes em seu primeiro ano (R1), sendo 4 enfermeiros, 3 profissionais de educação física, 3 fonoaudiólogos, 3 médicos-veterinários, 3 odontólogos, 3 psicólogos e 3 assistentes sociais, além da Coordenação, Docente, Tutores de Núcleos Profissionais e Preceptores.
Grupo se empenha na disseminação educativa com foco em prevençãoe redução dos danos causados pela atual pandemia (Foto: reprodução)
Trabalho durante a pandemia. Frente ao contexto pandêmico, a atuação na residência precisou ser adaptada para o contexto de distanciamento social. “Apesar disso, prosseguimos com a articulação de atividades e discussões focadas no enfrentamento da Covid-19, sempre nivelando para o âmbito da APS”, revela.
E, mesmo com os paradigmas impostos pela distância, por meio de tecnologia e com criatividade, como descrito pelo médico-veterinário, a equipe tem conseguido manter articulação, discussões e planejamentos entre os membros e com os serviços de saúde pública. “De modo colaborativo e, por vezes, remoto, nos atualizamos e ficamos a par das principais medidas sanitárias que vêm sendo tomadas contra as consequências da Covid-19 em nível municipal, estadual e federal”, compartilha.
O médico-veterinário ainda declara que o grupo redobrou atenção quanto à necessidade de disseminação educativa com foco em prevenção e redução dos danos causados pela pandemia do novo coronavírus. “Isso, pessoalmente, me levou a estar mais ativista pela importância de um SUS, desta vez pelo acaso da Covid-19, e pela medicina humana e animal preventivas. Face ao contexto, os trabalhos educativos estão sendo reconhecidos, devido à sua importância. Grande parte está sendo desenvolvida por métodos tecnológicos e obtendo divulgação por meio das redes sociais”, conta.
Um dos materiais elaborados pelo Núcleo de Medicina Veterinária Residente do programa, por exemplo, teve como foco o fornecimento de informações sobre o SARS-CoV-2 (novo coronavírus) em relação aos animais domésticos, bem como sobre as principais já conhecidas coronaviroses e sua relação com animais de interesse veterinário, sobretudo pets.
Atuação da Medicina Veterinária. Na visão do profissional, o trabalho de médicos-veterinários, assim como de todos os agentes de saúde, tem muito a contribuir tanto na parte de orientação à população e aos profissionais, quanto na parte de Vigilância em Saúde. “Em uma Unidade Básica de Saúde da Família, por exemplo, o médico-veterinário pode contribuir com informações sobre cuidados com animais, meio ambiente e pessoas, funcionalidade dos serviços, distanciamento social, entre outros inúmeros possíveis trabalhos a serem executados”, aponta.
Quanto à vigilância epidemiológica no contexto pandêmico, Da Silva expõe que o médico-veterinário pode contribuir com monitoramento do paciente humano suspeito ou confirmado, orientando, também, os profissionais envolvidos com relação aos cuidados preventivos que devem ter ao manejar situações de pandemia; intervenções em barreiras sanitárias, com ações articuladas a outros órgãos fiscalizadores, além da especial atenção aos locais em que possa ter havido a possibilidade de contaminação do ambiente com os agentes infecciosos.
Deste modo, para ele, os médicos-veterinários podem atuar na Saúde Única direta ou indiretamente em demandas da saúde animal, humana e ambiental em, praticamente, todas as frentes da pandemia. “Portanto, espera-se que, com a progressiva valorização da Saúde Única diante do enfrentamento da Covid-19 e contextos semelhantes, o profissional médico-veterinário também tenha seu papel reconhecido na sociedade a partir das consequências benéficas de sua atuação”, pondera.
Palestra à comunidade de Santa Luzia sobre coronavírus e animais domésticos
Exemplo de intervenção contra Covid-19 realizada em uma UBS de Patos-PB