Plano de extinguir os gatos de uma ilha na Nova Zelândia embasou a discussão
Cláudia Guimarães, da redação
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“Acho difícil não prejudicar nenhuma das espécies. No caso dos gatos que foram introduzidos pelo homem, eu, sinceramente, acredito que o controle seja necessário”, afirma a médica-veterinária mestre em Vigilância Sanitária e docente da disciplina de Bem-Estar Animal, Adriana Falco de Brito. Ela se refere, especificamente, à notícia sobre a ilha da Nova Zelândia que apresentou uma nova proposta: banir os gatos da localidade para preservar a vida selvagem nativa.
A professora diz gostar desse projeto por conter o apelo de castração dos felinos a fim de controlar a propagação, pela proposta de deixar os que já existem irem até o fim, naturalmente, e não permitir a introdução de novos animais. “Me parece uma proposta lúcida e bem pensada. Muito melhor que a da Austrália que introduziu doenças para controle de coelhos e está caçando gatos a tiros”, menciona.
Mas as opiniões sobre a temática não param por aí: a aluna de Medicina Veterinária, da Universidade do Oeste Paulista (Presidente Prudente/SP), Laís Mayumi Oshiro, acredita que não se salva uma espécie banindo outras. “Deveriam fazer pesquisas sobre o ciclo dos pássaros e monitorá-los. Para os gatos, existem meios menos ‘nazistas’, como, apenas um programa de castração – temos um em prática em nossa universidade – e, para mim, fica evidente que nenhum especialista está monitorando esse projeto, porque todas as pessoas que já estudaram cadeias alimentares sabem que a extinção de uma espécie está mais relacionada com a escassez de alimento. Ademais, normalmente, os que ocupam o topo das cadeias alimentares são os mais atingidos (carnívoros, onças, aguais, lobos)”, aponta.
Além disso, Laís ainda cita que algumas espécies estão sumindo pela crença e vaidade do ser humano, como os rinocerontes. “Tem, também, os efeitos desse banimento, pois, assim que banirem um grupo de predadores, grupos de presas vão aumentar, o que engloba não somente esses pássaros, mas, também, como exemplo, os ratos (que eles também querem exterminar)”, analisa.
Bem-Estar Animal está cada vez mais evidente, pois os animais desempenhamum papel de destaque nas famílias do mundo todo (Foto: reprodução)
O estudante da mesma graduação da Unoeste, Patrik Junior de Lima Paz, também enxerga a medida da pequena cidade da Nova Zelândia extremista: “A proibição de gatos não seria a melhor opção, visto que, muitas vezes, esses animais são criados como verdadeiros membros das famílias”, frisa. Para ele, além de controle populacional, outras atitudes simples, como a utilização de coleiras com “sinos”, evitariam com que os gatos capturassem os animais da fauna nativa. “Assim, eles não iriam interferir no número de animais com risco de extinção, como os pássaros citados na reportagem”, insere.
Paz ainda destaca que o Bem-Estar Animal está cada vez mais evidente, visto que, os animais vêm desempenhando um papel de destaque nas famílias do mundo todo, onde, muitas vezes, um pet é a única companhia de uma pessoa, gerando inúmeros benefícios para a saúde de ambos os envolvidos. “Pensando desta maneira, eliminar a população de gatos não é a melhor saída. Outras formas eficientes podem ser utilizadas sem prejuízos aos tutores, como já citado”, finaliza.
No Brasil. Chegando um pouco mais para perto, a professora Adriana menciona que, em nosso País, há a discussão sobre o controle dos javalis. “Não acho que será viável controlar a espécie sem a utilização de caça controlada, realizada por pessoas cadastradas. Já desagradei muito protetor que não concorda com o uso de cães para essa caçada, mas pergunto: há cão mais feliz que um – com aptidão física para isso – que esteja correndo em matilha atrás de uma presa? Há comportamento e ambiente mais natural que esse?”, indaga.
Sendo assim, ela concorda que é preciso exercer controle, criar regras e cuidados específicos, até mesmo para diminuir o risco de acidentes, mas não acredita que sejam viáveis a proibição da utilização de cães e o controle sem caça. “Vi algumas propostas de captura com armadilha para providenciar uma morte mais humanitária, mas não sei se será viável devido à velocidade de reprodução”, observa.