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Clínica e Nutrição

ESTRESSE E INFLAMAÇÃO SÃO AS PRINCIPAIS CAUSAS DE DOENÇAS URINÁRIAS EM GATO

ESTRESSE E INFLAMAÇÃO SÃO AS PRINCIPAIS CAUSAS DE DOENÇAS URINÁRIAS EM GATO Interação com tutor e ambiente seguro melhoram a saúde do pet
Por Equipe Cães&Gatos
Por Equipe Cães&Gatos

Interação com tutor e ambiente seguro melhoram a saúde do pet

Cláudia Guimarães, de São Paulo (SP)

claudia@ciasullieditores.com.br

O problema é frequente na Medicina Felina, o termo mais adequado vem sendo debatido desde a década de 1970, levando em consideração as muitas manifestações clínicas que podem confundir o clínico no diagnóstico. A dona dessa descrição é a Cistite Intersticial Felina (CIF), explicada pelo médico-veterinário Carlos Alberto Geraldo Jr. O profissional transformou essa complicação em tema para a palestra na Semana Acadêmica Veterinária, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP, São Paulo/SP).

O profissional explicou, de forma didática, os principais problemas do trato urinário apresentados pelos gatos: estrangúria, dor para urinar, seguida de vocalização; polaciúria: urinar em pequenas quantidades e maior número de vezes; hematúria: a presença de sangue na urina; poliúria: urinar em local inadequado e também há a obstrução uretral, que deve ser tratada apenas como um sintoma.

Geraldo Jr mencionou que, em 1970, alguns autores chamaram esse conjunto de alterações de Síndrome Urológica Felina (SUF). Na década de 80, denominaram de Doença do Trato Urinário Inferior dos Felinos (Dtuif), uma síndrome de causas heterogêneas, ou seja, por infecção bacteriana, calculo, tumor. “Já nos anos 90 e 2000, a definição foi de Cistite Intersticial Felina ou Cistite Idiopática Felina (CIF). Caracterizaram como uma síndrome grave, crônica e sem causa definida, sendo uma doença semelhante ao que acontece com mulheres que possuem cistite”, conta.

arranhador gato

Enriquecimento ambiental, significa dar o que o gato precisa para ficar bem, como brinquedos e arranhadores (Foto: reprodução)

A CIF é responsável por cerca de 50 a 65% dos casos de cistite em gatos, de acordo com o profissional. “Porém, é importante lembrar que nem tudo que chamamos de idiopática significa que não existe uma causa, apenas a desconhecemos”, pontua e explica que toda vez que um médico-veterinário receber um gato com alterações é preciso avaliar todas as possíveis causas que podem gerar esses sintomas, porque o trato urinário não vai manifestar com diarreia todas as doenças, por exemplo.

O médico-veterinário afirma que gatos têm duas origens de doença: estresse e inflamação. “Doença renal crônica, diabetes e hipertireoidismo podem predispor infecções urinárias. O diagnóstico se dá por meio de exame de urina e cultura e tratamento com antibiótico específico”, expõe.

Ele revela que felinos com sinais graves, crônicos e recorrentes de cistite muitas vezes apresentam outros problemas. “É comum haver comorbidades, quando duas ou mais doenças estão etiologicamente relacionadas. São enfermidades como problemas no trato digestório, no sistema endócrino, cardiovascular, comportamentais, tegumentares e essas alterações podem preceder junto ou posteriormente aos sinais urinários”, explana e declara que muitos gatos que apresentam CIF e também estão com outros problemas são diagnosticados com Síndrome de Pandora. “Essa síndrome nada mais é que cistite adicionada a outros problemas”, completa.

Os critérios para afirmar que o gato tem Pandora, segundo o profissional, é a presença de sintoma não relacionado ao trato urinário, associado a manifestações crônicas, alguma experiência ruim ou adversa no início da vida do gato. “Por exemplo, se o animal foi abandonado, se era órfão, se foi chutado, se renegado pela mãe, alguma experiência ruim na infância, tudo pode ser motivo”, insere. Geraldo Jr. também cita que se o tutor notar melhoras ou pioras dos sintomas urinários após algum efeito estressante, o gato pode estar acometido pela síndrome. “Um cliente me disse ‘quando eu troquei o sofá por um novo, o gato piorou’. Trocar um móvel é uma situação que gera estresse para o gato e isso prejudica o sistema urinário”, declara. “Estresse para o gato é qualquer coisa. O que para nós não faz sentido e talvez o médico-veterinário nem pergunte na anamnese pode ser sintoma”, pontua e destaca que mudar de ambiente é um grande estresse para os felinos.

O especialista explica que o estresse causam alterações neurológicas, comportamentais, imunológicas e endócrinas. “Além disso, também apresentam alterações de pele, na alimentação e, principalmente, na saúde urinária”, salienta. Com relação ao tratamento, a primeira coisa que deve ser melhorada, como comenta Geraldo Jr., é a quantidade de água ingerida pelos gatos. “Deve-se aumentar o fluxo urinário deles. Gatos são animais adaptados a viverem em privação de água. Os rins desenvolveram, então, grande capacidade de concentrar urina. O gato é um dos únicos mamíferos com capacidade de concentração urinária até 1,080”, sinaliza.

geraldo jr

Médico-veterinário garante que a história de que o gato gosta da casa e não do dono é bobagem (Foto: C&G VF)

Mas como fazer com que os felinos ingiram mais água? O profissional explica que eles não são adaptados a beber água em potes de 7cm de diâmetro, porque eles batem os bigodes e isso os incomoda. “Ter mais potes de superfície ampla, com água fresca – por isso que, logo que trocamos a água do gato, ele vai beber e se a água for gelada ele gosta mais ainda. Manter vários potes pela casa, em pontos diferentes, também é uma boa opção. “Às vezes ele não gosta de onde está aquele pote”, revela. Dietas úmidas também são uma forma indireta de oferecer água para o gato, diz o profissional. “Isso porque de 70 a 80% da composição de alimentos úmidos é água”.

Anti-inflamatórios não são capazes de controlar a inflamação que ocorre na bexiga desses animais, porque não é uma simples inflamação, a situação é ampla, de acordo com as explicações do médico-veterinário. “A amitriptilina, um antidepressivo tricíclico, oferece efeitos anticolinérgicos, anti-histamínicos, anti alfa-adrenérgico, analgésico e tem algumas propriedades anti-inflamatórias. Parece que ela foi feita para síndrome de Pandora”, destaca, mas comenta que nem todo gato melhora com esse medicamento. “Apesar disso, de tudo que temos em termos medicamentosos, a amitriptilina é o que traz resultados melhores”.

Mesmo proporcionando melhor qualidade de vida durante uma inflamação ao pet, o medicamento possui alguns efeitos colaterais como sedação, sonolência, retenção urinária, ganho ou perda de peso. “Usamos esse medicamento apenas quando o gato começa a ter muitos episódios de estresse”, orienta.

Mas Geraldo Jr. garante que deve haver mudanças, também, na relação do proprietário com o gato, para alcançar bons resultados no tratamento. “O médico-veterinário deve perguntar quanto tempo o tutor passa com o animal. A história de que o gato gosta da casa e não do dono é bobagem, gato gosta sim do dono, mas manifesta de forma diferente. Então, é preciso separar um tempo do dia para uma interação com o gato”, frisa e ainda diz que o fator mais importante é o enriquecimento ambiental, que significa dar o que o gato precisa para ficar bem. “Um local de descanso seguro, onde ele sabe que pode dormir sem ser atacado, inclusive locais elevados, esconderijos, rotas de fugas, atividades (tubo, escada, arranhador), lugar para escalar são exemplos de locais recomendados para o animal”.

Além de melhorar o relacionamento com o pet, o profissional aconselha os tutores a evitarem mudanças no território ou de ambiente e expõe que a ideia de introduzir um novo filhote na casa pode não ser tão boa. “Às vezes, coloca-se um novo felino e o que já morava fala ‘muito obrigado’. Em compensação, existem outros que falam ‘minha vida acabou aqui’”, brinca e frisa a importância de evitar a superpopulação de gatos. As caixas sanitárias devem ser disponibilizadas em locais diferentes e silenciosos da casa e a quantidade recomendada é sempre o número de gatos mais um. “Então, se eu tenho três gatos no ambiente, eu preciso de quatro caixas de areia”, exemplifica. A caixa deve estar sempre limpa, o tutor deve trocar toda a areia, pelo menos uma vez na semana, e fazer uma camada de 7cm, segundo o profissional. “É importante destacar que os gatos não gostam de todos os tipos de areia. Para descobrir qual a preferência é questão de tentativa e erro. Se ele não gostar da areia, ele não entra na caixa. Vai fazer suas necessidades em volta, na cama, em qualquer lugar”, salienta.

caixa de areia

A quantidade de caixas de areia recomendada é sempre o número de gatos mais um (Foto: reprodução)

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