Com o objetivo de preservar a fauna silvestre, a Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia (UFU, Uberlândia/MG) e o Hospital Veterinário da instituição estão estudando a possibilidade de aproveitamento do material genético dos animais atropelados na região. A partir do sêmen colhido dos animais que morrem nas estradas, o grupo espera construir um banco genético que pode ser usado na reprodução assistida das espécies ameaçadas.
O médico-veterinário e professor André Quagliatto conta que, além de auxiliar na reabilitação dos animais feridos nas estradas da região, o hospital veterinário da UFU também recebia carcaças de espécimes atropelados, que serviam como instrumento de aprendizado dos estudantes de Medicina Veterinária. “Aproveitamos esses animais para ensinar aos alunos sobre anatomia, aspectos ligados à dieta, enfim, sobre o modo de vida desses animais”, conta Guagliatto, coordenador técnico do Laboratório de Pesquisa em Animais Silvestres (Lapas).
Algumas espécies podem preservar o material genético por até 48 horas após a morte do animal (Foto: reprodução)
A partir da análise dos restos das espécies selvagens, foi considerada a hipótese do aproveitamento do sêmen preservado nas carcaças, um método que já é aplicado em animais domésticos. “Mesmo após a morte do animal, os espermatozoides se mantêm vivos por algumas horas. Usando esse conhecimento prévio, começamos a investigar o aparelho reprodutor desses machos”, descreve Quagliatto.
Desde o ano passado o grupo trabalha no desenvolvimento de técnicas para coletar o material das diferentes espécies que chegam à instituição. “Nós fizemos algumas adaptações do modo como fazíamos com animais domésticos, porque os animais silvestres têm o trato reprodutivo muito pequeno. Conseguimos resultados bastante interessantes”, explica a professora de Medicina Veterinária da UFU, Teresinha Assumpção. “Estamos numa fase bastante inicial, ainda é um desafio grande conhecer em detalhes as técnicas para cada espécie”, ressalta.
O procedimento pode durar cerca de duas horas e exige o trabalho de uma equipe de oito pessoas, entre residentes e alunos de Medicina Veterinária. Quanto mais rápida é a retirada, maior a chance de o sêmen ser aproveitado. “Trabalhamos em uma onça parda e, umas 10 horas após a morte dela, ainda tínhamos entre 15% e 20% de células viáveis”, conta Teresinha. Algumas espécies podem preservar o material genético por até 48 horas após a morte do animal.
O material é congelado em recipientes especiais, resfriados com nitrogênio líquido a 196 graus negativos. A técnica pode ser usada para a coleta de sêmen, de folículos das fêmeas ou de embriões. Se bem conservadas, as células podem ser usadas em um prazo indeterminado.
Fonte: AI, adaptado pela equipe Cães&Gatos VET FOOD.