A osteoartrite é uma das doenças mais comuns em cães e uma das principais causas de eutanásia em animais idosos. No entanto, um estudo recente trouxe uma descoberta importante: 86% dos cães com osteoartrite também sofrem de dores musculares, conhecidas como dor miofascial. Mas, o tratamento da dor muscular é diferente do tratamento da dor da osteoartrite. Nesses casos, como o médico-veterinário deve proceder?
A médica-veterinária Maira Formenton, referência na área de Fisiatria Veterinária, é a autora do estudo e explica que, assim como em humanos, cães com osteoartrite podem desenvolver pontos gatilhos e contraturas musculares, que geram dor musculoesquelética significativa. “O estudo demonstrou que a dor muscular pode estar presente independentemente do número de articulações afetadas. Ou seja, mesmo que o cão tenha apenas uma articulação comprometida, ele pode estar sofrendo com dores musculares associadas”, revela.

Além disso, Maira conta que ainda encontrou uma correlação positiva com a idade, ou seja, quanto mais idoso, mais chance do animal ter mais dor muscular, sofrer mais com dor muscular.
Sinais de dor
Maira compartilha que a dor crônica em cães nem sempre se manifesta de forma clara, como o fato de mancar. “Os primeiros sinais podem ser comportamentais, incluindo:
- Relutância em se movimentar ou brincar;
- Dificuldade para subir escadas, pular no sofá ou na cama;
- Mudança nos hábitos de higiene, especialmente em gatos;
- Sensibilidade ao toque em determinadas áreas do corpo”.
Outro sinal de alerta aos tutores é o animal começar a urinar e defecar em lugares diferentes, porque ele não consegue mais alcançar os locais habituais para isso ou ele tem dor quando sobe na caixa de areia.
Só acomete cães idosos?
A médica-veterinária informa que oito a cada dez pacientes com osteoartrite também têm dor muscular. Além disso, ela declara que o problema surge não apenas em animais com a idade avançada, mas, sim, desde os cães jovens. “Isso porque existem casos de alterações congênitas, ou seja, o cachorro já nasce com a articulação mal formada, como as displasias coxofemorais, displasia de cotovelo, alterações de joelho, como rupturas de ligamento cruzado cranial e luxações patelares. E, da mesma forma, esses animais mais jovens podem sofrer da dor muscular”, menciona.
Maira comenta que os principais fatores que contribuem para o desenvolvimento tanto da osteoartrite quanto da dor miofascial, além de alterações biomecânicas e conformacionais, são:
- Raças condrodistróficas, como Dachshund e Bulldog, que possuem conformação corporal predisponente;
- Obesidade e sedentarismo, que sobrecarregam as articulações e a musculatura.
“Os tutores podem agir preventivamente, mantendo os pets ativos e com peso adequado, reduzindo as chances de desenvolver ou agravar essas condições”, recomenda.
Impacto na qualidade de vida

A profissional destaca que as dores crônicas podem impactar bastante a qualidade de vida dos pacientes e, também, dos tutores. “Muitas vezes, os tutores percebem que seu cão está com a atividade diminuída, está com dificuldade de movimentação, ou não faz mais atividades que vinha fazendo antes, mas, como diferenciar isso de outras síndromes clínicas, como, por exemplo, o problema abdominal? Só é possível por meio de exames diagnósticos feitos pelo veterinário. Então, o profissional vai examinar esse animal e, conhecendo os diagnósticos diferenciais, vai distinguir entre uma síndrome clínica ou, por exemplo, ele não está comendo direito porque o rim dele está com algum problema, ou porque ele está passando mal do intestino e por aí vai”, expõe.
Daí a importância do correto diagnóstico para o tratamento do animal, que, neste quadro, deve ser multimodal, ou seja, requer uma combinação de estratégias para ser eficaz. Entre as principais recomendações de Maira estão:
- Controle da dor articular e muscular: O uso de medicamentos específicos para aliviar a dor associada à osteoartrite e à dor miofascial é essencial. Como a dor muscular tem características diferentes da dor articular, os tratamentos devem ser ajustados conforme a necessidade do paciente.
- Terapias complementares para a dor miofascial: A acupuntura ajuda a inativar os pontos gatilhos, reduzindo a dor muscular; massagem terapêutica e alongamento são técnicas para aliviar tensões musculares e melhorar a circulação; a fisioterapia e a reabilitação possuem exercícios específicos para fortalecer a musculatura e restaurar a mobilidade do animal.
- Controle do peso e incentivo à atividade física: Obesidade e sedentarismo agravam tanto a osteoartrite quanto a dor miofascial. Por isso, manter o pet fisicamente ativo e com um peso adequado reduz a sobrecarga nas articulações e músculos.
- Identificação e manejo dos pontos gatilhos: Maira destaca que a pesquisa estabeleceu critérios de palpação para identificar os pontos dolorosos na musculatura dos cães. O tratamento desses pontos inclui técnicas de liberação muscular, como acupuntura e fisioterapia.
- Interrupção do ciclo de dor: A osteoartrite causa sobrecarga nos músculos, que se inflamam e criam novos focos de dor. O tratamento adequado desativa os pontos gatilhos, fortalece a musculatura e melhora a função articular, interrompendo esse ciclo.
- Abordagem personalizada para cada paciente: Cada cão pode ter uma combinação diferente de dores e dificuldades de locomoção. Assim, o veterinário deve avaliar cada caso individualmente e adaptar o plano terapêutico.
Pontos fortes da pesquisa

Maira defende que, antes desse estudo, muitos cães com osteoartrite recebiam apenas tratamento para a dor articular e continuavam sofrendo, pois a dor muscular passava despercebida. “Com esse novo conhecimento, tutores e veterinários podem buscar diagnósticos mais precisos e tratamentos mais eficazes”, argumenta e adiciona que o estudo estabeleceu critérios de palpação e diagnóstico para a dor miofascial, permitindo que veterinários reconheçam os sinais desta condição com mais precisão.
Na Medicina Humana, segundo Maira, a dor miofascial já é amplamente estudada e reconhecida, sendo uma das principais causas de dor crônica. “No entanto, na Medicina Veterinária, essa relação ainda era pouco compreendida. O estudo prova que os cães sofrem com dores musculares da mesma forma que os humanos e que essas dores podem ser incapacitantes se não forem tratadas”, observa.
A profissional ainda faz um alerta: “Se um pet apresenta sinais de dor ou mudanças comportamentais, é essencial levá-lo ao veterinário para uma avaliação detalhada. A dor miofascial nos cães é real, tem tratamento e não deve ser ignorada”.
FAQ
Osteoartrite e dor miofascial em cães: qual a relação?
Estudo revela que 86% dos cães com osteoartrite também apresentam dores musculares (miofasciais), exigindo tratamentos distintos para alívio completo da dor.
Quais os sinais de dor miofascial em cães?
Relutância para se mover, dificuldade para subir escadas ou pular, sensibilidade ao toque e mudanças no local de urinar/defecar são indícios comuns.
Apenas cães idosos sofrem com essa dor?
Não. Cães jovens com alterações congênitas, como displasia coxofemoral e rupturas de ligamento, também podem desenvolver osteoartrite e dor miofascial.
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