O Brasil sediou o I Encontro Nacional de Pesquisa Clínica Veterinária, promovido pela Sociedade Brasileira de Profissionais em Pesquisa Clínica (SBPPC), no dia 20 de março, em São Paulo. O evento reuniu especialistas, pesquisadores e representantes do setor para discutirem o futuro da saúde dos animais, com impactos também na área da saúde humana.
Como retratado nos últimos dados da Organização Mundial da Saúde Animal, corroborados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 75% das doenças infecciosas emergentes que afetam humanos tiveram origem animal. Alguns exemplos são o ebola, a febre amarela, a dengue, a raiva e a gripe aviária. Além disso, 80% dos agentes que apresentam potencial para serem usados como armas de bioterrorismo são patógenos zoonóticos.
A presidente executiva da Sociedade Brasileira de Profissionais de Pesquisa Clínica, médica-veterinária e uma das maiores referências em pesquisa clínica no País, Greyce Lousana, enfatiza que a próxima pandemia não será evitada apenas com vacinas, mas com vigilância constante dos habitats onde os vírus circulam. “Se não tivermos uma interação entre médicos veterinários e demais profissionais de saúde, o futuro da humanidade será cada vez mais caótico. É fundamental termos uma visão ampla nesse ecossistema”, reforça.

Um dos temas abordados no I Encontro Nacional de Pesquisa Clínica Veterinária da SBPPC foi a importância da pesquisa e inovação para garantir a saúde dos animais, bem como o crescimento do mercado pet e a necessidade de facilitar o acesso a produtos de qualidade para todos os tutores, independentemente de sua renda. O vice-presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (SINDAN), Emilio Salani, ressaltou que a pesquisa é essencial para o desenvolvimento de produtos, como medicamentos veterinários eficazes e seguros.
Para o executivo, a pior vacina é aquela que não existe. “O interesse é comum, não existe interesse díspar. Nós temos um usuário do produto e ele é um grande fiscal. Qualquer produto que tenha, qualquer desvio seja deficiência ou segurança, lá na ponta, ele vai ser colocado em segundo plano,” afirmou. Ele destacou que a pesquisa clínica garante que os produtos atendam aos mais altos padrões, beneficiando tanto os animais quanto seus tutores.
Já o coordenador da Fiscalização de Produtos Veterinários da DSA/MAPA – Ministério da Agricultura e Pecuária, Lucio Kikuchi, complementou essa visão, enfatizando que a pesquisa robusta é a base para a aprovação de medicamentos seguros e eficazes. “Ela garante que os produtos veterinários que chegam ao mercado são de alta qualidade e segurança,” afirmou Kikuchi, reiterando o compromisso do MAPA em assegurar a qualidade dos produtos disponíveis no mercado.
Oportunidades e desafios do mercado pet
Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) para a Comissão de Animais de Companhia (COMAC) divulgou que, até 2030, o Brasil terá, aproximadamente, 101 milhões de cães e gatos, o que representa um aumento de quase 26% em relação a 2019. Com esse crescimento, o mercado de produtos e serviços pet se vê desafiado a acompanhar a demanda e oferecer cada vez mais opções para os donos de pets.
Em 2024, o faturamento do mercado pet brasileiro foi de R$ 75,4 bilhões, de acordo com dados do Instituto Pet Brasil (IPB), o que representa um crescimento de 9,6% em relação a 2023. Cinthia Lenz Cesar, da gestão de projetos do IPB, comentou que os números demonstram o avanço consistente do setor de produtos veterinários e a relevância da pesquisa no aprimoramento contínuo da indústria.
A veterinária e idealizadora do evento com a SBPPC, Greyce, ressalta que a pesquisa clínica impulsiona a inovação e o desenvolvimento de produtos e serviços que atendem às crescentes necessidades dos animais de estimação e seus tutores, abrindo novas oportunidades para o setor e garantindo a longevidade dos animais, tudo com eficácia e segurança. “A população precisa estar muito atenta aos produtos que adquire para seus pets, nem tudo é confiável”, sublinha.
Lucio Kikuchi, coordenador da Fiscalização de Produtos Veterinários da DSA/MAPA, por sua vez, destacou o papel fundamental da pesquisa na aprovação de medicamentos veterinários, ressaltando que a base científica coloca o Brasil como líder no fornecimento de produtos de qualidade e seguros para o mercado. “A pesquisa robusta garante que os produtos veterinários que chegam ao mercado são de alta qualidade e segurança”, afirmou.

Por isso, a ética na pesquisa é outro ponto fundamental. Para a Dra. Mitika Kuribayashi Hagiwara, do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), é crucial seguir os mais altos padrões éticos nos estudos científicos, garantindo a integridade dos resultados e a confiança do público.
Já o Dr. Murilo Vieira da Silva, membro do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA) e presidente da Sociedade Brasileira de Ciência em Animais de Laboratório (SBCAL), falou sobre a importância da avaliação da CEUA (Comissão de Ética no Uso de Animais) para o cumprimento das normas éticas e legais para o bem-estar animal.
O papel do responsável técnico nas pesquisas também é de extrema relevância na visão da Dra. Ana Helena Pagotto Stuginski, secretária-geral do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo -CRMV-SP. “A fiscalização eficaz depende da capacitação contínua de todos os envolvidos”, explicou.
Durante o debate, também se discutiu a farmacovigilância como uma ferramenta essencial para a segurança e renovação de produtos veterinários. A Dra. Mayara Pinto, chefe do Serviço de Farmacovigilância do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), falou sobre a importância de uma vigilância eficiente para identificar reações adversas e monitorar a eficácia dos medicamentos. “Nosso objetivo é identificar precocemente reações adversas desconhecidas, monitorar desvios de eficácia e avaliar continuamente a relação benefício-risco dos medicamentos veterinários”, enfatizou.
Esses debates foram essenciais para reforçar a ideia de que o avanço da pesquisa clínica veterinária no Brasil requer colaboração contínua entre indústria, academia e órgãos reguladores para garantir a integridade e o sucesso das inovações no setor. “Temos um grande desafio pela frente, que é garantir o acesso da população de baixa renda a produtos de qualidade, para que possam cuidar de seus pets da melhor forma possível”, afirmou Dr. Paulo Frange, vereador da Câmara Municipal de São Paulo.
Fonte: SBPPC, adaptado pela equipe Cães e Gatos.
FAQ sobre o evento
Qual foi o principal tema do I Encontro Nacional de Pesquisa Clínica Veterinária promovido pela SBPPC?
O evento abordou a importância da pesquisa clínica veterinária para a saúde animal e humana, reforçando a necessidade de vigilância, inovação e ética, especialmente diante de zoonoses e futuras pandemias.
Por que a pesquisa clínica é essencial no mercado pet?
Ela garante que os medicamentos veterinários sejam seguros, eficazes e de alta qualidade, acompanhando o crescimento do setor e a demanda dos tutores por produtos confiáveis para seus pets.
Quais foram os principais desafios apontados pelos especialistas durante o evento?
Garantir acesso a produtos de qualidade para todas as classes sociais, fortalecer a ética na pesquisa, promover farmacovigilância ativa e fomentar a colaboração entre indústria, academia e órgãos reguladores.
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