Animais acima de 7 anos, de qualquer raça, podem desenvolver a piometra
Cláudia Guimarães, da redação
O exame ginecológico em pets fêmeas se caracteriza como uma boa ferramenta para inúmeras avaliações sobre a condição do animal. Entre suas principais funções, estão: detectar o diagnóstico de infertilidade e patologias reprodutivas, como hiperplasia vaginal, prolapso vaginal, tumor venéreo transmissível, alterações de ciclo estral, neoplasias ovarianas, infecção uterina, além de anormalidades do trato reprodutivo.
Em prenhas, é importante realizar acompanhamento específicodesde o início (Foto: reprodução)
A médica-veterinária doutoranda em Reprodução Animal, na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP, São Paulo/SP), Renata Azevedo de Abreu, conta que o exame ginecológico em cadelas tem como objetivos: a seleção de matrizes, pois permite identificar alterações hereditárias e congênitas que excluiriam o animal da reprodução; a avaliação clínica para reprodução assistida, que irá identificar a fase do ciclo estral e, consequentemente, determinar os melhores dias para a monta natural ou inseminação artificial. “O procedimento permite, ainda, auxiliar a identificação de falhas reprodutivas, além de ser importante para viabilizar a gestação e durante a avaliação obstétrica”, elenca.
Além disso, a profissional explica que raças braquicefálicas apresentam maior incidência de cesarianas, devido a desproporção feto-pélvica. “Fêmeas acima de 7 anos, independente da raça, podem desenvolver o complexo hiperplasia endometrial cística (piometra). O ‘split heat’, que é caracterizado por um cio aparentemente normal, porém anovulatório, seguido por outro cio normal, pode acometer mais frequentemente raças como Pastor Alemão e Rottweiler”, aponta.
Para realizar este tipo de averiguação, Renata expõe que é preciso seguir algumas etapas: preenchimento da ficha ginecológica, com a identificação do animal e queixa principal, anamnese completa, anamnese reprodutiva, exame clínico geral, exame clínico específico externo e interno.
O exame clínico geral, como descreve a veterinária, serve para mensurar o estado do animal. “Deve-se avaliar todos os sistemas, pois algumas doenças podem atingir diretamente o sistema reprodutor. Já o exame clínico específico externo inclui a avaliação da vulva e períneo (conformação: abertura de lábios vulvares, tamanho e aumento de volume/consistência, reflexo ao toque perineal), glândula mamária (inspeção, palpação, avaliação citológica, se necessário) e, também, a observação do comportamento sexual”, discorre.
Veterinária conta que, em casos de falhas reprodutivas,o exame ginecológico é indicado para investigar aspossíveis causas (Foto: C&G VF)
Há, ainda, o exame clínico específico interno, como mencionado anteriormente, que é constituído de avaliação da vagina (inspeção direta: toque digital, vaginoscopia; inspeção indireta: citologia vaginal, bacteriologia), cérvix (inspeção visual por meio da endoscopia), útero (métodos diretos: palpação abdominal – simetria, tamanho e conteúdo, ultrassonografia e radiografia, avaliação do diâmetro uterino e conteúdo; métodos indiretos: bacteriologia e biópsia), tubas uterinas e ovários (método direto: ultrassonografia – presença/ausência, alterações de diâmetro/neoplasias, alterações morfológicas/cistos; métodos indiretos: citologia vaginal, vaginoscopia, dosagens hormonais)”, apresenta.
Quando questionada sobre se a fêmea deve ter uma idade mínima para ser exposta a esses tipos de exames, Renata afirma que depende da finalidade da análise. “Existem algumas patologias como, por exemplo, vaginite infantil, que podem aparecer antes do primeiro cio, ou seja, antes da puberdade. No entanto, a realização de um exame ginecológico para fins reprodutivos é recomendada após o início da adolescência, de preferência, depois de a fêmea ter alcançado seu completo desenvolvimento. Assim, a idade estará relacionada com fatores raciais e individuais”, explica. Renata também menciona que existem casos de animais que com 2 anos de idade nunca entraram no cio. “Nesse caso, precisa ser avaliada a causa, se é em decorrência de um anestro primário, se o animal apresenta um cio silencioso ou, ainda, se o proprietário não sabe identificar os sinais de cio”, adiciona.
A profissional também faz um alerta: fêmeas gestantes não podem ser submetidas a qualquer exame ginecológico. “Em prenhas, é importante realizar um acompanhamento específico desde o início. Recomenda-se a investigação do diagnóstico de gestação, que pode ser realizada com maior precisão por meio da ultrassonografia abdominal, 25 dias depois do acasalamento. Esse processo pode ser repetido outras vezes até o fim da gestação. Dessa forma, é possível realizar um manejo adequado da cadela, que inclui alteração da dieta alimentar e profilaxia sanitária, como vermifugação”, declara. O procedimento também informa sobre a viabilidade fetal, número provável de fetos e estima a data do parto. “O pré-natal em cadelas visa garantir a saúde da mãe e dos filhotes, evitando problemas durante a gestação e/ou parto”, insere.
O exame ginecológico realizado em pets com interesse reprodutivo, como narra Renata, serve para a efetivação de uma reprodução assistida. “À vista disso, quando a fêmea entra no cio, inicia-se o acompanhamento reprodutivo. Em casos de falhas reprodutivas, o exame ginecológico também é indicado para investigar as possíveis causas, sendo, muitas vezes, necessários exames complementares”, finaliza.