Os animais não são brinquedos e tratá-los como tal é um dos erros mais graves que os seres humanos podem cometer, pois isso interfere na saúde e no bem-estar destes indivíduos. E não estou falando apenas de cães e gatos, os pets mais comuns encontrados nos lares brasileiros. Nesse período de Páscoa, os coelhos acabam sendo escolhidos como presentes para familiares, especialmente crianças, mas vale destacar que eles são seres sencientes, que precisam de cuidados específicos da espécie e que só devem ser adotados após muita reflexão.

A médica-veterinária mestre em Animais Selvagens, Stephany Rocha Ribeiro, comenta que há muito abandono de coelhos após a Páscoa. “Minha recomendação para os adultos que pensam em presentear crianças com coelhos nessa época do ano é que façam uma análise criteriosa sobre as responsabilidades envolvidas em se ter um animal de estimação, pois, nessa fase da vida, as crianças ainda não possuem discernimento sobre os cuidados necessários que um animal exige”, orienta.
Stephany afirma que o fato de o coelho ser tratado como brinquedo pode ocasionar alguns no animal, entre eles, estresse, acidentes (como quedas), fraturas e ingestão de corpos estranhos, doenças decorrentes do manejo ambiental e alimentar inadequados, ausência de bem-estar e impossibilidade de o animal expressar comportamentos próprios da espécie são exemplos dos impactos negativos que podem ser causados. “E, claro, tudo isso representa, também, uma falta de respeito e empatia com o indivíduo”, pontua.
Acontece com frequência!
Os principais equívocos cometidos por quem adota um coelho sem preparo, segundo Stephany são: não realizar um planejamento prévio à chegada de um novo animal à casa e à rotina da família, não se organizar financeiramente para isso e, principalmente, transferir toda a responsabilidade pelo cuidado do coelho a uma criança que não está preparada. “Essas são atitudes que comprometem o bem-estar e a saúde do animal”, adiciona.
Assim, o ideal é que, antes da aquisição do animal, o adulto responsável estude sobre a biologia e os cuidados básicos da espécie. “Se possível, também é recomendável agendar uma consulta com um médico-veterinário especializado, para avaliar se é viável incluir um coelho em sua rotina. Esses animais precisam passar por consultas de check-up a cada seis meses a um ano, e seu manejo ambiental e alimentar deve seguir as recomendações do veterinário para garantir seu bem-estar”, declara.

Cuidados com a alimentação
A profissional elucida que o sistema digestivo dos coelhos é especializado em processar material vegetal rico em fibras, logo, são considerados animais estritamente herbívoros. “O manejo alimentar e nutricional deve ser muito bem planejado, a fim de evitar problemas gastrointestinais. O feno de capim deve ser a base da alimentação — cerca de 80% da dieta — e estar disponível à vontade. Ele é responsável pelo desgaste dos dentes, que crescem continuamente ao longo da vida do animal, além de auxiliar no trânsito gastrointestinal”, disocrre.
Em seguida, folhas verde-escuras devem ser ofertadas diariamente, com cautela especial àquelas ricas em cálcio, para evitar problemas urinários. “Ração de boa qualidade, específica para a espécie, deve compor cerca de 1 a 2% do peso vivo do animal por dia. Frutas e legumes podem ser oferecidos, porém apenas como petiscos, em pequenas quantidades e com baixa frequência. Não se deve esquecer, também, de ofertar diariamente água filtrada à vontade”, salienta.
Responsabilidade a longo prazo

O tempo de vida de um coelho depende de diversos fatores, como manejo alimentar e ambiental adequados, além de consultas regulares com um médico-veterinário especializado. Mas, em teoria, Stephany compartilha que eles podem viver cerca de 10 anos quando suas necessidades são respeitadas e atendidas de forma adequada.
Assim, para não agir por impulso ou com irresponsabilidade no período da Páscoa, a veterinária orienta: “Sempre que possível, opte por bichinhos de pelúcia. No entanto, caso a pessoa decida adquirir um coelho de estimação como ‘presente’, que seja da forma mais responsável possível. Estude a fundo sobre a espécie antes de tomar essa decisão, agende uma consulta de orientação com um médico-veterinário especializado em coelhos e avalie se, neste momento da sua vida, você está preparado para assumir a responsabilidade de cuidar de um animal. Toda atitude humana irresponsável gera impactos negativos na vida do animal. Por isso, é fundamental que haja um planejamento cuidadoso antes de adquirir um animal de estimação, independentemente da espécie desejada”, finaliza.
FAQ
Por que é importante refletir antes de presentear crianças com coelhos na Páscoa?
Porque, apesar de serem pequenos e aparentemente dóceis, coelhos exigem cuidados específicos com alimentação, ambiente, saúde e socialização. Diferente do que muitos pensam, eles não são pets de baixa manutenção.
Quais são os principais cuidados que os tutores precisam ter com a alimentação dos coelhos?
A alimentação dos coelhos deve ser baseada principalmente em feno de capim, que representa cerca de 80% da dieta, essencial para o desgaste natural dos dentes e bom funcionamento do trato gastrointestinal. Além disso, folhas verdes devem ser oferecidas diariamente, com moderação em relação às que contêm muito cálcio.
O que um tutor deve considerar antes de decidir pela adoção de um coelho?
É fundamental avaliar se a rotina da casa comporta um novo pet que demanda atenção diária, espaço seguro e acompanhamento veterinário regular. O tutor precisa estudar sobre as necessidades da espécie, planejar os custos com alimentação, saúde e enriquecimento ambiental, além de entender que os coelhos vivem, em média, 10 anos.
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