Gabriela Salazar, da redação
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É comum encontrar a utilização da palavra “saudável” para descrever o ponto ideal de algo: relacionamentos, convívios, empregos. Isso porque vemos no estado de saúde pleno um equilíbrio perfeito – entre o corpo e a mente. Os recursos para tentarmos nos manter desta forma são diversos. Os avanços tecnológicos tornam possível, inclusive, a identificação das predisposições biológicas ao desenvolvimento de enfermidades.
O uso dos medicamentos de forma preventiva tornou possível a redução da incidência de diversas doenças. Nessa busca incessante pela cura, a Medicina – Humana e Veterinária – tem travado uma guerra contra o tempo onde seu principal alvo é a vida. Mas o que ocorreria se o foco fosse alterado e a causa se tornasse o mote dessa batalha?
A homeopatia, método terapêutico que trabalha na diluição dos compostos químicos naturais, trabalha sob essa perspectiva. “A doença reflete mediante os sintomas o esforço da força vital de tentar voltar ao equilíbrio. A homeopatia se propõe a tratar o doente e não a doença”, explica a especialista no assunto e pós doutorando em patologia experimental, Cidéle Coelho, sobre a forma de ação do tratamento homeopático.
Iniciada em 1796 pelo alemão Samuel Hanneman, a prática ainda gera muitas dúvidas. Na Medicina Humana, o principal argumento de quem se opõe à atividade é o chamado efeito placebo, que diz-se da cura pela crença em seus efeitos por parte do paciente. No entanto, a usualidade dos fármacos na Medicina Veterinária colocam em cheque a teoria.
Como funciona? O estudo sobre a prática trabalha em cima de pilares que fundamentam o seu desenvolvimento a partir dos ensinamentos de Hanneman. O primeiro ponto destacado é a Lei da Semelhança, o que a também especialista em homeopatia, Mônica Souza, denomina de “fogo contra fogo”. Dentro desse aspecto, o desenvolvedor da técnica observa que o uso de substâncias que provocam certas reações podem curar as doenças que apresentam os mesmos sintomas.
Outro princípio refere-se ao experimento no homem são. Curado da malária, Hanneman, ao fazer uso da quinina, teve todos os sintomas reproduzidos novamente. Ainda hoje, profissionais do segmento relatam realizar experimentações para identificar novas reações. Esses estudos geraram diversos documentos que são utilizados, atualmente, para a reprodução da técnica.
Tratamento homeopático também podeser realizado de forma preventiva (Foto: reprodução)
Entretanto, a experimentação pode ter efeitos indesejados, já que algumas plantas podem ser nocivas. Com isso, Hanneman iniciou o processo de diluição adicionando água às substâncias e, assim, criando as soluções homeopáticas, como são conhecidas na atualidade.
“Quando você dilui, está indo cada vez mais de forma sutil e é aí que está a homeopatia. Ela trata a causa e o estresse que causou aquela doença. A homeopatia é a ciência que resgata o equilíbrio de um organismo cansado. Quando você dilui, não vai mais existir substâncias naquelas diluições, porém quando você não tem mais matéria o que nós temos? Energia”, pondera Mônica.
Uso na Veterinária. Mas, qual a diferença da homeopatia humana para a homeopatia veterinária? Segundo Cidéle, nenhuma. “Os cursos, normalmente, são mistos. A homeopatia foi a primeira especialidade da área veterinária”, reforça.
A especialista também ressalta a vantagem desse tipo de tratamento nos animais. “Nós temos a facilidade de administração, ou seja, eu consigo medicar com homeopatia de qualquer forma, porque, a partir do momento em que eu tenho contato com a mucosa, eu tenho o efeito. É palatável, os animais gostam e é muito fácil de administrar”, salienta.
De acordo com Cidéle, o mito de que o tratamento é mais lento que os medicamentos convencionais também dificulta a aceitação por parte dos tutores. Um exemplo citado por ela envolve, também, as questões mais aprofundadas que são trabalhadas dentro da homeopatia. “Realizamos uma terapêutica dermatológica de uma cachorra que já havia passado em quatro médicos-veterinários especializados em dermatologia e nenhum desvendava o problema. Ela tomou remédio homeopático e se curou após 30 dias. Sem o uso de corticoides e antibióticos”, comenta Cidéle, que ressalta que, neste caso específico, o animal passava muito tempo sozinho, fator que poderia estar ocasionando o sintoma.
Os problemas psicossomáticos são investigados dentro da prática, que também trabalha com questões comportamentais dos animais, como o medo, por exemplo, tentando sempre, segundo a especialista, buscar a causa dessas ações.
Fortalecimento da prática. Para que a homeopatia possa ser amplamente difundida dentro da Medicina Veterinária, as especialistas pontuam que é necessário que as universidades também abram espaço para essas disciplinas. No Estado de São Paulo, 56 universidades oferecem aulas sobre a especialidade, porém, apenas três possuem a disciplina de homeopatia. Segundo Mônica, a prática já é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV, Brasília/DF) desde 2013 e, atualmente, a Associação de Médicos-Veterinários Homeopatas (Amvhb) luta pela expansão da disciplina nas universidades.
“Na experimentação, é necessária a utilização do homem para que o sintoma não seja subjetivo”, ressalta Mônica Souza (Foto: C&G VF)
“É a força vital que mantém o equilíbrio do corpo e, se isso é perdido, ele avisa por meio dos sintomas “, explica Cidéle Coelho (Foto: C&G VF)