Veterinário afirma que não há risco na administração, pois ambas têm a mesma composição
Cláudia Guimarães, em casa
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Se espalha pela internet, entre tantas notícias sobre a pandemia do Covid-19, uma notícia de que a França autorizou o uso de um anestésico veterinário para o tratamento de pacientes humanos infectados pelo novo coronavírus. O destaque para a notícia é de que o fármaco para cavalos à base de propofol será administrado em doentes graves, que se encontram nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).
No entanto, o médico-veterinário especialista em Oncologia, Rodrigo Ubukata, comenta que, em alguns países do mundo, medicações de uso veterinário e humano são preparadas exclusivamente para esses fins, portanto, separadas entre as segmentações. “Apesar disso, nem todas, mas a maioria das medicações são iguais. Algumas apresentam certas diferenças por questões de eficiência, maior absorção, diminuição de efeitos colaterais, entre outras, mas essas medicações específicas, que foram liberadas na França, não demonstram diferença em relação à utilizada para humanos. Elas seguem os mesmos padrões de produção, de eficiência e de esterilização, ou seja, não fará mal ao ser humano de jeito nenhum”, assegura.
Em sua visão, alguns veículos de comunicação estão repassando essas informações de forma sensacionalista: “Como se o intuito fosse indicar que a vida real em meio à pandemia global está virando uma série de televisão, onde o mundo está acabando, não tem mais medicações e estamos tendo que utilizar aquilo que existir, independente de para quem foi produzido. E não é isso”, destaca.
Laboratórios não têm a capacidade de produção que, hoje, está sendo exigida.Por isso, a utilização dos que são destinados a animais, com a mesma formulação (Foto: reprodução)
Ubukata explica que, por causa da doença e da necessidade de colocar pacientes graves em ventilação mecânica, para que a pessoa seja submetida a isso, essas drogas são necessárias. “Por isso, há um uso muito maior do que era esperado, do que era uma rotina para os laboratórios, porque eles também são utilizados para anestesiar pacientes que são encaminhados para diversas cirurgias”, menciona e adiciona que, como essa demanda aumentou muito, os laboratórios não têm a capacidade de produção que, hoje, está sendo exigida. “Por conta disso, estão indo para o recurso de utilizar aqueles que já são produzidos e destinados aos animais e não tem problema nenhum nisso, porque é exatamente a mesma medicação”, reforça.
Além disso, Ubukata observa que, nos textos de alguns veículos de comunicação, consta a informação de que a medicação é utilizada para reanimar pacientes e isso, segundo ele, está completamente errado. “Ainda colocaram de forma equivocada a explicação do uso da medicação. O propofol é um anestésico geral intravenoso, midazolam é um sedativo e curare é um bloqueador neuromuscular. As três medicações, agindo em conjunto, servem para colocar o paciente na ventilação mecânica, porque, se ele estiver acordado, vai ficar ‘brigando’ com o aparelho e aí a terapia não vai funcionar”, discorre.
Para o profissional, alguns jornalistas estão querendo causar pânico, assim como está ocorrendo com os trabalhos que estão surgindo e sendo mal interpretados sobre a relação do Covid-19 com os animais e, ainda, laboratórios falando para fazer testes em animais visando apenas o lucro: “Isso é um absurdo”, considera.