Os gatos são personagens principais de diversos mitos, há muito tempo, dentre eles, que fazem mal à saúde dos bebês. Para acabar com as dúvidas – que, infelizmente, ainda existem na cabeça de muitos – conversamos com a médica-veterinária especializada em Medicina Felina no Hospital Veterinário Taquaral (Campinas/SP), Daniela Formaggio, que comenta sobre a relação gato-bebê.
Segundo a profissional, bebês que crescem com animais de estimação aprendem a ter responsabilidade e cuidado, desde que os pais sejam o exemplo e envolvam as crianças na rotina de cuidados e alimentação dos pets. “O primeiro ponto a ser verificado antes da chegada de um recém-nascido na casa é se o gato está saudável. Para isso, é necessário que o animal passe por uma avaliação com o veterinário e realize alguns exames”, destaca.
O gato deve estar com a vacinação e a vermifugação em dia, livre de pulgas, carrapatos e com a pele livre de doenças que possam ser transmitidas para a criança. “Outro fator importante é o temperamento do animal. Gatos podem ser grandes companheiros dos bebês, mas, se o gato tiver um temperamento mais agressivo, a convivência precisa ser sempre supervisionada pelos pais”, orienta.
Assim, desde que o gato tenha acompanhamento periódico com um veterinário, não há riscos para a saúde do bebê. “Caso o animal tenha alguma doença que possa ser transmitida para o bebê, o veterinário é o profissional que vai orientar quanto ao tratamento e manejo adequado do animal. Também há a possibilidade do bebê ser alérgico ao gato, isso geralmente acontece devido a uma proteína presente na saliva do gato. Então, quando o gato se lambe a saliva fica nos pelos e, em contato com a pele do bebê, pode desencadear uma alergia. Para isso, já existe uma ração para gatos que neutraliza essa proteína na saliva”, menciona.
Preparo do ambiente
Daniela sugere que, ainda durante a gravidez, gravidez, os tutores façam algumas mudanças no ambiente, de forma gradual, para que o gato vá se adaptando. “Gatos são animais que podem se estressar com mudanças na rotina e do ambiente”, ressalta.
Outra dica indispensável é deixar o felino inspecionar a barriga da tutora e cheirar a roupinha do bebê, para já relacionar o cheiro com a criança. “Falar o nome da criança para o gato também ajuda, assim, ele vai se familiarizando com o ‘irmãozinho ou irmãzinha’ que vai chegar, bem como colocar sons de bebês chorando, para que o animal vá se acostumando”, indica.
Como destacado pela veterinária, a chegada do bebê ao lar é um momento crucial, por isso, é importante relaxar para que o gato não sinta a tensão e deixar que o bebê seja cheirado e inspecionado pelo bichano, sempre falando o nome da criança. “Estudos mostram que gatos entendem as palavras e conseguem fazer associações dessas palavras com imagens”
Outro ponto importante é ensinar o gato sobre os limites na casa. “O berço do bebê pode ser um local extremamente aconchegante para o gato e essa espécie tem facilidade de acesso para praticamente todos os locais da casa. Então, o ideal é manter a porta do quarto do bebê fechada, mas isso deve ocorrer semanas antes da chegada do bebê. Caso o gato tenha um temperamento tranquilo e carinhoso e os pais não se importem com o gato dormindo junto com o bebê, é importante que isso aconteça com a supervisão constante da família, porque gatos são animais que se assustam facilmente e podem arranhar o bebê sem intenção”, orienta.
Segundo Daniela, momentos como banho e alimentação do bebê podem ser preciosos para a interação e aceitação do gato. “São momentos em que a relação de amor e intimidade são construídas. Quando o gato recebe muito carinho e petisco na presença do bebê, temos o reforço positivo, que serve para que ele faça uma associação prazerosa com a presença da criança. Muito importante é respeitar o espaço e as necessidades do gato. Não faça mudanças de horários e dos lugares preferidos do gato, caso seja necessário, que isso seja feito de maneira gradual e com muito amor e paciência com o bichano”, adiciona.
Um dos primeiros sintomas que indicam que o felino está incomodado com a chegada do bebê é a mudança de comportamento, como se isolar, fazer as necessidades fora da caixinha de areia, principalmente a urina. “Agressividade sem motivo, miado excessivo, não querer mais brincar ou interagir com a família e alteração no peso também são sinais de que o animal não está bem”, alerta.
Gatos e toxoplasmose
Dentro dos mitos que rondam os gatos, está o risco da transmissão de toxoplasmose. Sobre isso, Daniela explica que trata-se de uma doença causada por um protozoário, o Toxoplasma gondii, encontrado nas fezes dos gatos. “Por esse motivo ela está muito associada à espécie felina, mas o gato não é o principal responsável pela transmissão. O hospedeiro se multiplica no intestino do gato, que elimina os oocistos nas fezes, por isso, ele é considerado o hospedeiro definitivo. É raro contrair toxoplasmose diretamente do gato, porque, para os oocistos se tornarem infectantes, as fezes precisam ficar expostas ao ambiente por 24 a 36 horas e o gato elimina os oocistos nas fezes apenas uma única vez na vida”, elucida.
Assim, para o ser humano contrair a doença diretamente do gato, ele precisa ingerir os oocistos, isso acontece quando a pessoa entra em contato com as fezes e leva as mãos à boca. “Então, a falta de higiene é um fator determinante para que a pessoa contraia toxoplasmose diretamente do gato. Gatos domiciliados e que comem apenas ração ou alimentação caseira raramente vão contrair a doença. No entanto, para a família se sentir mais segura, é recomendado que a mulher esteja pensando em engravidar ou já que já esteja grávida leve o gato ao veterinário para fazer o teste de toxoplasmose, principalmente se o animal for recém-adotado”, destaca.
Finalizando, Daniela comenta que a ciência tem mostrado, por meio de pesquisas, que a presença de animais é extremamente benéfica ao ser humano. “Por exemplo o ronronar do gato, já foi comprovado que tem um efeito calmante no humano, reduzindo a ansiedade e o estresse. Crianças que crescem em lares onde há respeito e amor aos animais de estimação, como gatos, tendem a se tornar adultos mais amorosos, responsáveis e empáticos. Estudos indicam que os pets podem influenciar positivamente a saúde, as habilidades sociais e o desenvolvimento cognitivo das crianças. É fundamental que os pais se responsabilizem pelos cuidados com os animais de estimação e busquem orientação de profissionais qualificados, como veterinários clínicos e especialistas em comportamento animal, para garantir que a convivência entre o gato e o bebê seja harmoniosa e saudável. Em resumo, os animais de estimação nos ensinam o verdadeiro significado do amor e do companheirismo”, analisa.
FAQ
Os gatos fazem mal à saúde dos bebês?
Não, desde que o gato seja saudável, com vacinação, vermifugação em dia e seja acompanhado por um médico-veterinário, não há riscos para a saúde do bebê.
Como preparar o gato para a chegada do bebê?
É importante fazer mudanças graduais no ambiente durante a gravidez, permitir que o gato se familiarize com o cheiro e os filhos do bebê e associe a presença da criança a momentos positivos, como carinhos e petiscos. Ensinar limites, como manter o gato fora do berço, também é essencial.
O gato pode transmitir toxoplasmose ao bebê?
A transmissão direta é rara, pois os oocistos presentes nas fezes do gato precisam de 24 a 36 horas para se tornarem infectantes. Gatos domiciliados e alimentados com ração têm baixa probabilidade de contrair e transmitir a doença.
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