Na Medicina Humana o colesterol alto é uma alteração frequente. No entanto, na Medicina Veterinária a hiperlipidemia, conhecida como dislipidemia, também têm sido diagnostica com frequência pelos médicos-veterinários.
A médica-veterinária pós-graduada em Clínica Médica de Pequenos Animais e Endocrinologia e Metabologia de cães e gatos, Anna Maria Schnabel, comenta que essa é uma condição caracterizada pelo aumento anormal da concentração de lipídios, principalmente, colesterol e/ou triglicérides, na corrente sanguínea.
De acordo com ela, a doença é mais comum em cães do que em gatos e a principal raça predisposta ao seu desenvolvimento é a schnauzer miniatura. “Nesses cães a hiperlipidemia frequentemente tem origem genética (idiopática), não estando necessariamente ligada a uma doença endócrina ou metabólica subjacente. Contudo, pode evoluir para outras doenças endócrinas, como a diabetes”, cita.
Já com relação à idade, cães jovens que apresentam má alimentação tendem a apresentar algum grau de hiperlipidemia. Porém, a dislipidemia secundária associada a doenças endócrinas, costuma surgir em animais mais velhos.
Entendendo a doença
Segundo Schnabel, quando se fala em hiperlipidemia na Medicina Veterinária é importante entender que essa alteração pode ser primária ou secundária a distúrbios metabólicos e doenças endócrinas, tal como, diabetes mellitus, hipotireoidismo, síndrome de Cushing, pancreatite e obesidade.
“A obesidade é um fator predisponente importante para a hiperlipidemia secundária em cães e gatos. Embora nem todos os animais obesos desenvolvam a condição, o excesso de tecido adiposo afeta o metabolismo lipídico e endócrino de forma significativa”, comenta a profissional.
Os sinais clínicos nem sempre estão presentes quando há aumento dos lipídeos, pois a dislipidemia pode ser assintomática, especialmente nos casos leves ou em animais com hiperlipidemia idiopática.
“No entanto, quando os níveis lipídicos estão significativamente elevados ou quando há complicações associadas, diversos sinais clínicos podem se manifestar. Exemplos disso são dor abdominal por pancreatite aguda, lipemia retinal (retina esbranquiçada por acúmulo de lipídios) e convulsões”, pontua.

Diagnóstico e tratamento da hiperlipidemia
Para chegar a um diagnóstico conclusivo, Anna Maria explica que deve ser feita a avaliação laboratorial dos níveis de triglicérides e colesterol, preferencialmente, em amostras colhidas após jejum adequado.
Já o tratamento depende, principalmente, da causa subjacente, da gravidade dos níveis lipídicos e da presença ou não de sinais clínicos ou complicações.
“O objetivo do tratamento é reduzir os níveis séricos de triglicérides e colesterol, prevenir complicações, como a pancreatite, e tratar eventuais doenças de base”, explica a médica-veterinária.
Baseado nisso, a profissional esclarece que, quando a hiperlipidemia é secundária, o manejo eficaz da doença subjacente geralmente resulta na normalização dos níveis lipídicos.
Além disso, complementa dizendo que para casos leves a moderados ou idiopáticos, a alteração nutricional pode ser suficiente, especialmente, se não houver sinais clínicos.
“A terapia medicamentosa é reservada para casos mais severos ou refratários à dieta. Os fibratos reduzem os triglicerídeos, mas devem ser usados com cautela e sob monitoramento. Já a ezetimiba é um fármaco que inibe seletivamente a absorção de colesterol no intestino delgado”, afirma.
Prevenção é fundamental
Se não tratada a hiperlipidemia pode causar algumas complicações nos cães e gatos. Dentre elas, a médica-veterinária cita:
- Pancreatite aguda: o excesso de lipídios promove a ativação de enzimas pancreáticas e inflamação, quadro este que pode evoluir para óbito;
- Lipidose hepática: ocorre principalmente em gatos obesos, mas também é vista em cães. Nesse caso o fígado acumula lipídios em excesso, levando à disfunção hepática;
- Síndrome de hiperviscosidade: se desenvolve em situações de hiperlipidemia grave. Nela o sangue torna-se mais espesso, comprometendo a perfusão tecidual, e pode evoluir para trombose;
- Alterações endócrinas secundárias: a dislipidemia pode coexistir ou exacerbar condições como diabetes mellitus, hipotireoidismo e síndrome de cushing;
- Interferência laboratorial: essa condição pode afetar a acurácia de diversos exames laboratoriais, exigindo preparo e manuseio adequados da amostra.
Para evitar esses fatores agravantes é fundamental prevenir o surgimento da hiperlipidemia em cães e gatos. “A prevenção da hiperlipidemia é essencial para evitar as complicações clínicas e promover a saúde metabólica dos pets”, aconselha a profissional.
Diversas são as formas de conseguir isso, a começar pelo controle de peso corporal. Anna Maria comenta que manter o animal com um peso ideal é a medida mais eficaz para prevenir a hiperlipidemia secundária. Para isso pode-se fornecer dieta balanceada e promover a prática regular de exercícios físicos.
Por falar em dieta, ela recomenda a oferta de ração com perfil nutricional adequado e evitar alimentos ricos em gordura e petiscos calóricos.
“Também indico realizar exames laboratoriais regulares, especialmente em raças predispostas e animais adultos/idosos, e monitorar uso de medicamentos que podem induzir hiperlipidemia, como corticoides e anticonvulsivantes. Já os médicos-veterinários devem orientar os tutores sobre a importância do manejo nutricional e estilo de vida ativo”, finaliza.
FAQ sobre hiperlipidemia em cães e gatos
Quais são os sinais clínicos mais comuns da hiperlipidemia nos pets?
Por mais que a hiperlipidemia possa ser assintomática, quando há um aumento significativ dos níveis lipídicos os animais podem apresentar dor abdominal por pancreatite aguda, lipemia retinal e até convulsões.
Quais são os animais mais acometidos pela doença?
A hiperlipidemia é mais cães do que em gatos, principalmente os da raça schnauzer miniatura.
Como tratar a hiperlipidemia em cães e gatos?
O tratamento da hiperlipidemia depende de fatores como a causa subjacente, a gravidade dos níveis lipídicos e a presença ou não de sinais clínicos e complicações. Em casos leves a moderados ou idiopáticos apenas o manejo nutricional pode ser suficiente.
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