Cláudia Guimarães, da redação
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Situações que ferem a saúde e o bem-estar de animais costumam gerar impacto em toda a sociedade. Recentemente, acompanhamos as ocorrências de óbitos de girafas trazidas da África do Sul para o BioParque do Rio de Janeiro. Apesar das perdas dessas vidas, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) emitiu uma nota confirmando que os procedimentos de importação dos animais cumpriram a legislação. O parecer foi uma resposta à solicitação do Ministério Público Federal por esclarecimentos sobre possíveis irregularidades no caso.
Então, de que forma é possível transportar animais vivos e minimizar os riscos de interferências na saúde dos mesmos? Conversamos com o biólogo Anderson Mendes Augusto, que nos explica: “É preciso seguir as regras existentes para os países importador e exportador. O Brasil é signatário da Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora (CITES), essa convenção objetiva maior controle no trânsito de animais e plantas selvagens, além de produtos derivados deles, para que não se ponha em risco a sobrevivência das espécies”, compartilha.
Além disso, ele lembra que, no Brasil, o Ibama, é o responsável pela emissão dessa licença para importação e exportação e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) também tem sua importância no trânsito de animais. “Por meio desse órgão autorizações são expedidas relativas ao controle sanitário no intuito de impedir a entrada de doenças ao País. O MAPA atua de forma mais abrangente, incluindo em sua atuação animais selvagens, de criação e domesticados”, explica.
Para que os animais sejam transportados com segurança, Augusto menciona que existem regras da International Air Transport Association (IATA) para transporte de animais vivos por via aérea que devem ser seguidas. “Mas cada espécie ou, até mesmo, indivíduo pode ter suas particularidades no tocante a condições de transporte. Com relação ao transporte terrestre, os tipos de caixas de transporte também podem seguir as condições apresentadas pela IATA. De maneira geral, se procura dar conforto com a colocação de substrato confortável, coletores/escoadores de urina, recipiente para oferta de água, estrutura para oferta de alimento, caixas arejadas para melhor ventilação”, cita.
Em relação ao estresse que a locomoção pode causar aos animais, o biólogo afirma que algumas situações geram ou não essa tensão, tanto para os bichos, quanto para os humanos. “A atenção à biologia da espécie a ser transportada pode ajudar a minimizar condições geradoras de possível estresse. O ideal é proporcionar conforto térmico, diminuir estímulos visuais e sonoros externos, dependendo da situação, ter presença de pessoa conhecida, oferta de água e alimento. Tudo isso depende muito do tipo de transporte e tempo previsto para durar”, declara.
Mas, sim, existem situações que são caracterizadas como maus-tratos aos animais e é em relação a esse ponto que os órgãos competentes devem estar atentos. “Durante todo o transporte, o indivíduo deve, sempre que possível, ser atendido em suas necessidades. A privação de espaço adequado, água, alimento, diminuição de fatores externos, conforto térmico, podem levar a condições ruins durante o transporte, no entanto, depende muito do tempo do percurso. Alimento e água, em algumas situações, podem trazer problemas de enjôo ao animal transportado, espaço em demasia também, pois podem ficar se virando dentro da caixa e se machucarem. Sendo assim, todos os cuidados devem ser tomados para se realizar um transporte seguro e confortável dentro das possibilidades apresentadas”, recomenda.
Nos casos que há comprovações de maus-tratos, Augusto diz que existem medidas legais que as autoridades irão verificar serem cabíveis e aplicáveis.
Preservação das espécies
Apesar do ocorrido com as girafas, o biólogo afirma que a importação de animais é uma maneira de contribuir para a preservação das espécies. “O transporte de animais vinculados, principalmente, a projetos de conservação é uma ferramenta importantíssima para a manutenção de populações viáveis geneticamente a longo prazo. Quando zoológicos ou criadouros devidamente legais passam a participar desses grupos torna-se uma das necessidades a importação e exportação de indivíduos para o manejo populacional”, discorre.
Como exemplo, Augusto aponta o mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) que, após anos de estudos sobre comportamento, reprodução, alimentação, biologia da espécie de forma geral em alguns zoológicos nos EUA, tiveram seus descendentes retornando ao município de Silva Jardim, no Estado do Rio de Janeiro, para serem reintroduzidos na Reserva de Poço das Antas. “Após anos de declínio da população na natureza, a chegada desses indivíduos iniciou uma nova etapa na luta pela preservação dessa espécie de pequeno primata. Ainda hoje, apesar do aumento de indivíduos na natureza, esforços são empreendidos em zoos e criadouros espalhados no mundo para se manter populações de segurança. Apesar do termo importação ser o legalmente utilizado para tudo, no trânsito desses animais o envolvido é a necessidade de manter ou melhorar as condições genéticas da população sob cuidados humanos visando sua segurança”, esclarece.
É imprescindível que todos os transportes animais sejam realizados dentro das legislações existentes, como destacado pelo biólogo: “Que não sejam oriundos de tráfico e que todos os cuidados possíveis sejam tomados para sua segurança e conforto. As pessoas também devem procurar entender que o trânsito de animais, respeitando o supracitado, é essencial para a preservação das espécies quando ligados a grupos de reconhecido trabalho neste sentido”, finaliza.