Você sabia que as doenças cardíacas e renais se inter-relacionam e estão entre as principais enfermidades que levam cães e gatos a óbito? Pois é, isso acontece, especialmente, com os pets idosos. Identificar precocemente os sinais e garantir um acompanhamento médico adequado são medidas essenciais para preservar a saúde e a qualidade de vida dos animais de estimação.

A VetFamily, comunidade de médicos-veterinários, clínicas e hospitais, lança a campanha “Rins e coração, saúde em conexão”. O objetivo é conscientizar tutores de pets sobre a síndrome cardiorrenal (SCR) e apoiar os médicos-veterinários na orientação dos clientes, na identificação, no diagnóstico e no manejo adequado dessa condição complexa.
A condição é caracterizada pela interação entre o coração e os rins, em que a doença ou mesmo o tratamento de um desses órgãos agrava ou desencadeia problemas no outro. “Avaliando dados globais, podemos estimar que cerca de 10% dos cães e 15% dos gatos desenvolvem doenças do coração, e 10% dos cães e 30% dos gatos com mais de 15 anos possuem doença renal crônica (DRC), estimativas que comprovam a relevância de uma campanha que esclareça a população e apoie os médicos-veterinários. Como os sistemas cardíaco e renal estão interligados, ao diagnosticar um animal com doença cardíaca, automaticamente deve-se acender um alerta para monitorar, prevenir e diagnosticar precocemente potenciais disfunções nos rins e vice-versa”, explica o médico-veterinário, head Latam e Diretor-Geral da VetFamily no Brasil, Henry Berger.
O termo “síndrome cardiorrenal” é conhecido há décadas, mas ganhou destaque mais recentemente na Medicina Humana e a doença passou a ser classificada em cinco subtipos com base na sequência e na natureza da disfunção dos órgãos envolvidos. Já na Medicina Veterinária, a compreensão da SCR avançou nos últimos anos e a literatura veterinária também descreve cinco subtipos, semelhantes aos identificados em humanos, reconhecendo a complexidade das interações entre esses órgãos. São eles:
- Síndrome cardiorrenal aguda (tipo 1): ocorre quando uma disfunção cardíaca súbita, como choque cardiogênico, causa lesão renal aguda.
- Síndrome cardiorrenal crônica (tipo 2): caracteriza-se pela disfunção cardíaca crônica, como a doença degenerativa mitral, que afeta a pressão arterial e compromete a perfusão renal.
- Síndrome renocardíaca aguda (tipo 3): resulta de um evento agudo renal que leva à disfunção cardíaca.
- Síndrome renocardíaca crônica (tipo 4): ocorre quando uma doença renal crônica primária causa hipertrofia ventricular e eleva o risco de arritmias cardíacas. Pode causar alterações eletrolíticas no organismo do animal, hipertensão arterial e anemia, comprometendo o funcionamento do coração.
- Síndrome cardiorrenal secundária (tipo 5): relacionada a distúrbios sistêmicos que comprometem simultaneamente a função cardíaca e renal, como hiperadrenocorticismo, sepse e pancreatite.
Tutores, atenção!

A síndrome cardiorrenal pode apresentar alguns sinais clínicos que podem variar conforme o estágio e o órgão afetado. Em casos de doença cardíaca, é comum observar tosse seca persistente, cansaço fácil, dificuldade respiratória e desmaios. Entre os sinais de doença renal estão o aumento na ingestão de água, maior volume de urina, perda de peso, apatia, vômitos e, em estágios mais avançados, convulsões. O diagnóstico precoce é fundamental para um manejo eficaz. “Reforçamos a importância de consultas regulares com médicos-veterinários para avaliação integral do paciente”, destaca a médica-veterinária da VetFamily Brasil, Beatriz Alves de Almeida.
Exames essenciais
Para realizar o diagnóstico da síndrome cardiorrenal, é necessário um protocolo abrangente, com exames específicos para avaliar a saúde cardiovascular e renal. Entre os exames recomendados para a avaliação cardíaca estão a radiografia torácica, que avalia o tamanho do coração e possíveis alterações pulmonares; o eletrocardiograma (ECG), para análise da frequência e do ritmo cardíaco; e o ecocardiograma, que permite observar em detalhes as estruturas cardíacas e sua funcionalidade.
Além disso, para a avaliação da função renal, são indicados exames como ureia, creatinina, SDMA (dimetilarginina simétrica) – biomarcador que detecta precocemente a insuficiência renal – e ultrassonografia abdominal, que identifica alterações estruturais nos rins. “A combinação de exames laboratoriais e de imagem é essencial para um diagnóstico correto, permitindo a abordagem terapêutica adequada e personalizada para cada paciente”, acrescenta a médica-veterinária.
O tratamento do quadro é desafiador e exige um acompanhamento contínuo, com ajuste de doses e monitoramento rigoroso dos parâmetros clínicos. Entre os medicamentos mais utilizados estão o pimobendan, que melhora a contratilidade do coração sem aumentar a demanda de oxigênio; o telmisartan e o benazepril, indicados para o controle da hipertensão arterial; além de fluidoterapia para estabilização de pacientes com lesão renal aguda e reposição hormonal em casos de anemia decorrente de disfunção renal.

A prevenção e o controle eficaz da síndrome cardiorrenal exigem estratégias que vão além do uso de medicamentos. Uma dieta específica, prescrita pelo médico-veterinário, pode retardar a progressão da doença, enquanto a prática de exercícios moderados auxilia na manutenção do equilíbrio metabólico e cardiovascular. Exames periódicos são fundamentais para monitorar a evolução do quadro e ajustar a abordagem terapêutica conforme a necessidade do paciente.
Fonte: VetFamily, adaptado pela equipe Cães e Gatos.
FAQ
O que é a síndrome cardiorrenal (SCR) em cães e gatos?
É uma condição em que doenças cardíacas e renais se inter-relacionam, ou seja, a disfunção de um desses órgãos pode causar ou agravar problemas no outro.
Quais sinais podem indicar SCR em pets?
Tosse persistente, cansaço e desmaios sugerem problemas cardíacos; já sede excessiva, apatia e vômitos podem indicar doença renal.
Como a SCR é diagnosticada e tratada?
Com exames como ecocardiograma, radiografia, dosagens de ureia, creatinina e SDMA. O tratamento exige acompanhamento veterinário, medicação específica, dieta controlada e exames frequentes.
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