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INSTITUTO PREMIERPET INOVA COM PROJETO DE VETERINÁRIA DO COLETIVO

Por Equipe Cães&Gatos
Por Equipe Cães&Gatos

Cláudia Guimarães, da redação

claudia@ciasullieditores.com.br

Você já ouviu falar sobre Medicina Veterinária do Coletivo (MVC)? Ela dá ênfase à saúde e ao bem-estar de cães e gatos que vivem em abrigos, com foco em um modelo de saúde preventivo, no controle populacional e de zoonoses. Trata-se de uma nova área multidisciplinar da Medicina Veterinária que utiliza conhecimentos da Saúde Coletiva, da Medicina de Abrigos e da Medicina Veterinária Legal.

A área reconhece que saúde é fruto de uma interação entre a saúde das pessoas, dos animais e do ambiente, o que em muito se assemelha ao conceito de Saúde Única, já disseminado pela Medicina Veterinária, exigindo uma abordagem multidisciplinar e de responsabilidade coletiva. De acordo com a médica-veterinária especialista em Medicina Veterinária do Coletivo e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Rita de Cássia Maria Garcia, a MVC é mais abrangente do que o Shelter Medicine, já reconhecido pela Associação Veterinária Americana, pois extrapola as políticas internas dos abrigos e as externas relacionadas ao manejo populacional de cães e gatos (MPCG) e suas demandas. “O MPCG é um dos grandes temas na área da MVC, pois é um problema de saúde pública e que também envolve as áreas de Medicina de Abrigos. Entretanto, a MVC vai além dessas práticas”, comenta.

Segundo Rita de Cássia, este trabalho envolve uma atuação da Medicina Veterinária com entendimento do complexo social e suas demandas políticas, econômicas, sociais e educacionais existentes em todas as comunidades e territórios, visto que essas demandas não são apenas problemas humanos, pois refletem sobre a vida dos indivíduos, famílias, comunidades e seus animais. Na visão da professora, a área preenche uma lacuna que existia entre a saúde pública, coletiva e o bem-estar dos animais. “Ela obtém o reconhecimento dos profissionais, da sociedade e da academia como fundamental para a aplicação da estratégia de Saúde Única”, insere.

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Madalena Spinazzola é presidente doInstituto PremieRpet (Foto: divulgação)

Auxílio. Este tipo de atendimento aos animais é o foco de um projeto inovador de Medicina Veterinária do Coletivo, realizado de forma pioneira desde 2018 pelo Instituto PremieRpet. Tudo começa com uma visita diagnóstica nas ONGs participantes, realizada pela equipe do Instituto PremieRpet, juntamente à equipe especializada em Medicina Veterinária do Coletivo da UFPR. Durante a visita, são elencados pontos críticos, que serão trabalhados ao longo da permanência da ONG no projeto, e também os pontos positivos dos locais, que podem ser utilizados como exemplos para outros abrigos.

No caso de abrigos, a Medicina Veterinária deve mudar sua abordagem e considerar o indivíduo inserido no contexto coletivo, no ambiente de grupo. Segundo a presidente do Instituto PremieRpet, Madalena Spinazzola, existem diversos fatores que devem ser observados: “Maior possibilidade de contaminação e propagação de doenças, dificuldades para promover bem-estar físico, comportamental, além de restrições para o manejo sanitário e nutricional adequados. Levando tudo isso em conta e as particularidades de cada local, é possível identificar pontos de melhoria no alojamento e nos cuidados com os animais”, comenta.

Rita de Cássia aponta que o ambiente de abrigo apresenta características desafiadoras para os gestores, funcionários, veterinários e para os animais: “Populações animais flutuantes e transitórias; animais de origem e histórico desconhecidos; animais não vacinados; e elevada densidade populacional. Os pets que vivem em abrigos enfrentam o estresse devido ao confinamento e à falta de provisões para suprir suas necessidades básicas comportamentais. Como consequência, há fragilização da imunidade e do seu bem-estar, favorecendo doenças físicas e psicológicas”, explica.

Dessa forma, em sua opinião, o projeto do Instituto PremieRpet contribui para a melhoria do bem-estar dos animais abrigados, auxiliando na diminuição da morbidade, mortalidade e do tempo de manutenção do animal no abrigo até a sua adoção. “O projeto é personalizado para cada abrigo parceiro onde, por meio de uma avaliação diagnóstica contínua, são trabalhados os principais pontos de fragilidade”, diz.

A professora acredita que a união entre diversos setores (primeiro, segundo e terceiro setores), alcança a resolução de problemas e atendimento das demandas sociais. “Para a UFPR é uma oportunidade de praticar o bem-estar animal, unindo pesquisa, teoria (ensino) e prática (extensão).  Para o terceiro setor (a ONG), é uma oportunidade de obter informações atuais da Medicina de Abrigos, recebendo consultoria para a melhoria do abrigo e, ao mesmo tempo, o suporte de recursos materiais para a implementação de estratégias para o aumento do nível do bem-estar animal (BEA)”, avalia.

Iniciativas. A partir dos principais pontos críticos encontrados nos abrigos visitados pela equipe do Instituto PremieRpet e da UFPR, são tomadas medidas práticas. “A equipe oferece orientações, treinamento para mudanças em procedimentos de rotina e até modificações físicas nas instalações. Com as melhorias, os abrigos passam a funcionar melhor, beneficiando os animais e os funcionários e aumentando efetivamente as chances de adoção dos cães e gatos”, constata Madalena.

Também são disponibilizados materiais de apoio produzidos pelo Instituto PremieRpet que servem de referência para os procedimentos nos canis e gatis das ONGs. “Há orientações didáticas sobre o passo a passo do manejo higiênico, que é um dos procedimentos mais importantes para prevenir a transmissão de doenças, além de protocolos de bem-estar que levam em consideração os comportamentos naturais de cada espécie e que podem ser aplicados à realidade dos abrigos. São ferramentas que, somadas aos cuidados já existentes, são capazes de promover mais saúde, gerar conforto e satisfação aos animais”, explica.

Para a professora Rita, todas as empresas que trabalham direta ou indiretamente com os animais ou produtos pet têm uma responsabilidade social com a área. “O Brasil precisa desse envolvimento e proatividade para que as diferenças sejam diminuídas e para que os animais abandonados tenham uma chance de recuperação e inclusão na sociedade”, defende.

Ao todo, seis ONGs fazem parte do Projeto atualmente, sendo três delas no Paraná e três em São Paulo, respectivamente: Amigo Animal, DNA Animal, Instituto Fica Comigo, Catland, Projeto Segunda Chance e APATA. Segundo Madalena, todas as ações, treinamentos, materiais e intervenções físicas do projeto são integralmente custeados pelo Instituto PremieRpet. “As atividades de todos os projetos do Instituto são financiadas com parte da renda da linha de produtos coadjuvantes PremieR Nutrição Clínica, por meio de doação da PremieRpet”, esclarece.

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Ao todo, seis ONGs fazem parte do Projeto atualmente,sendo três delas no Paraná e três em São Paulo(Foto: divulgação)

Upgrade. Importantes melhorias em bem-estar foram alcançadas dentro dos abrigos, segundo a professora Rita, como, por exemplo, o recebimento dos pallets para os animais da ONG DNA Animal, doados pelo Instituto PremieRpet. “Eles possuíam estruturas frágeis de descanso, muitas delas já danificadas pelos animais ou estruturas de madeira que não ficavam totalmente secas no inverno. Também diagnosticamos redução dos patógenos ao ensinar para os funcionários a forma correta de higienização dos ambientes e a aquisição das gaiolas de inox para a Catland, que auxiliou na higienização e, consequentemente, contribuiu na redução da transmissão de doenças”, elenca.

Ao visitar o abrigo da Catland e acompanhar sua rotina, a equipe do Instituto PremieRpet e da UFPR observou que a principal fragilidade era a quarentena, onde ficam os gatos resgatados até serem castrados, vacinados, vermifugados e estarem com a saúde em dia para conviver com os demais. “Era fundamental um local sem passagem e pontos de contato com os gatos saudáveis para não colocar a saúde de todos em risco. Havia muita proximidade entre os animais então, por exemplo, quando um pet doente espirrava os outros podiam se contaminar”, indica.

Por isso, foi criada uma nova quarentena, com todos os detalhes necessários para o bem-estar dos animais conforme a Medicina Veterinária do Coletivo (dimensões, materiais, acabamentos, equipamentos etc.). “Além disso, houve um treinamento intensivo para a equipe de voluntários da ONG, orientando as atividades na nova área. Dessa forma, o grupo foi capacitado para utilizar a quarentena seguindo os procedimentos veterinários, melhorando o atendimento e beneficiando a saúde dos animais”, destaca Madalena.

Case. A mudança da quarentena foi fundamental para melhorar a atuação da instituição, segundo a fundadora da ONG, Perla Poltronieri. “O novo ambiente oferece o isolamento necessário, com segurança e mais conforto para os gatos resgatados. Muitas vezes, eles chegam em estado crítico, necessitando de atendimento veterinário, alimentação adequada e cuidados intensivos”, relata.

Perla também destaca a importância da consultoria. “Recebemos o treinamento de Medicina Veterinária do Coletivo e já modificamos nosso protocolo, colocando em prática novos procedimentos e fluxos de circulação para beneficiar o cuidado dos animais. É uma mudança que realmente transforma a nossa realidade, com uma estrutura permanente, que impacta diretamente no sucesso da nossa missão. É emocionante ver o quanto esse projeto beneficia a vida dos gatos”, comemora. Com a saúde favorecida, o tempo de permanência dos felinos no abrigo tende a ser reduzido, aumentando suas chances de adoção e abrindo espaço para acolher outros animais em situação de abandono.

Problemática. O médico-veterinário Lucas Galdioli, que está se especializando em Medicina Veterinária do Coletivo (Medicina de Abrigos, Medicina Veterinária Legal e Saúde Coletiva) na Universidade Federal do Paraná (UFPR), é voluntário na prestação de consultoria técnica para os abrigos no Projeto do Instituto PremieRpet. Para ele, a iniciativa de apoiar ONGs que se dedicam a cuidar de cães e gatos abandonados é de extrema importância.

“O abandono e a posse irresponsável de animais domésticos ou domesticados representam, hoje, no mundo inteiro, um grave problema para todas as administrações e órgãos de saúde pública. Animais abandonados sofrem com a falta de água, alimento, abrigo, higiene, e estão sujeitos a maus-tratos e atropelamentos”, aponta. Ele ainda cita que estes animais também podem agredir as pessoas, transmitir doenças e provocar acidentes. “Para diminuir o número de animais de rua, é necessário realizar um adequado e complexo manejo populacional de cães e gatos e investir em uma parceria entre o poder público, as associações protetoras dos animais e a população”, avalia.

Galdioli reforça que um abrigo de cães e de gatos é um local de passagem que reúne e cuida de um número considerável desses animais, em sua maioria recolhidos das ruas. “Estes pets foram previamente vítimas do abandono e possivelmente de outras formas de maus-tratos. Já estiveram sujeitos a acidentes e traumas, como agressões e envenenamentos, além de doenças, fome, sede e medo”, lamenta.

Satisfação. Para o médico-veterinário, a vivência e a experiência proporcionadas pela parceria entre o Instituto PremieRpet e a UFPR trazem muitos benefícios, considerando que são poucos os profissionais que se dedicam a compreender a realidade e as dificuldades dos abrigos.

“É possível compreender a discrepância expressiva dos padrões internacionais, que são embasados em uma literatura consistente, com a nossa realidade. A falta de conhecimento, literatura brasileira e experiência em Medicina de Abrigos impacta nas atividades nas ONGs brasileiras. Estes locais de proteção no Brasil possuem diversas particularidades, tornando complexo o estabelecimento de protocolos padrão”, acredita Galdioli.

Em sua visão, porém, o cenário dos abrigos felizmente vem se modificando nas últimas décadas. “A preocupação em proporcionar cuidados básicos, como abrigo, água e alimento, vai, aos poucos, incluindo também os aspectos comportamentais e psicológicos para a promoção de uma boa qualidade de vida aos animais abrigados”, assegura o profissional, que define essa atuação como forma de ter compaixão. “Esta é uma área que está em ascensão no Brasil e que tem grande relevância sanitária, epidemiológica e ambiental, e que salva muitas vidas diárias. A MVC respeita o indivíduo como um ser integral e tem olhar holístico para o todo, um olhar para a medicina preventiva, para a saúde pública e, acima de tudo, para o bem-estar animal”, conclui.

Rita de Cássia Maria Garcia