Cláudia Guimarães, da redação
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A leptospirose é uma doença infecciosa causada por bactérias do gênero Leptospira spp capaz de infectar animais e pessoas, sendo assim, reconhecida e denominada como zoonose.
A médica-veterinária doutoranda no Programa Sociedade, Tecnologia e Políticas Públicas em saúde SOTEPP-UNIT-AL, diretora Técnica da Secretaria Do Bem-Estar Animal-SEBEA-Maceió-AL, membro da Comissão de Saúde Pública do CRMV-AL e conselheira no Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Evelynne Hildegard Marques de Melo, elucida que as bactérias do gênero Leptospira spp estão distribuídas no ambiente em variedades chamadas cientificamente de “Sorovares”, que são adaptados às espécies de animais.
Há um relativo equilíbrio natural em que as espécies de animais adaptadas se tornam portadoras, segundo a profissional, porém sem manifestar doença grave. “O acometimento ocorre diante do somatório de fatores que são: animais portadores da bactéria em fase de eliminação via urina e aspectos relativos ao meio ambiente com situações que permite acúmulo de água, onde as bactérias ficam disponíveis aos contatos de animais e pessoas”, explica.
Como reitera a profissional, Leptospiras spp são bactérias eliminadas via sistema urinário, o que permite que alguns animais sejam infectados por meio do contato com as bactérias dispersas em água parada contendo urina de outros animais positivos. “Por exemplo, os ratos possuem o sorovar icterohaemorrhagiae adaptados à espécie e eliminados via urina, contudo este sorovar tem potencial grave e, muitas vezes, fatal para outras espécies, como o homem e os cães domésticos”, exemplifica.
Sobre este exemplo, Evelynne lembra que os momentos mais críticos para infecção são os períodos de chuva intensa, com alagamento de áreas urbanas, onde as águas contendo urina de rato emergem à superfície, proporcionando um contato das bactérias com animais e pessoas que tenham contato com essas águas.
Atenção aos sinais!
Em cães domésticos, principalmente os não vacinados, a médica-veterinária conta que a leptospirose pode se apresentar com sinais de febre, perda de apetite, vômito e, muitas vezes, presença de icterícia, aspecto amarelado das mucosas, pele e conjuntiva bulbar (olho), além de hemorragias na cavidade oral com possível faringite e necrose.
“Curiosamente, os equinos são considerados assintomáticos, ou seja, adquirem a infecção, porém, raramente se percebe sinais de doença e há relatos documentados de que uma uveíte pode ser característica simbólica de infecção por leptospira spp. É importante compreender as manifestações em diferentes espécies, justamente, pela interação possível entre elas. Nos centros urbanos, temos presença desordenada de equinos (utilizados para tração de carroças) e cães domésticos muito próximos de pessoas, além dos ratos que são comuns em ambientes insalubres”, salienta.
Evelynne informa que há estudos no Brasil destacando que 70% de pessoas acometidas por leptospiroses estão ligadas às atividades de coleta seletiva de material reciclável, onde podemos observar o grave cenário brasileiro em relação à manutenção da atividade de carroceiros. “Sempre observamos cães junto aos carroceiros e, por sua vez, a criação destes animais ocorre com deficiência de manejo ambiental e profilático”, menciona.
Já nos humanos, os sinais envolvem, frequentemente, dor de cabeça, dor muscular, principalmente nas panturrilhas, falta de apetite e enjoos com episódios de vômitos e há alto risco de óbito.
Devo me preocupar com meu gato?
Quando questionada sobre a susceptibilidade de gatos à doença, Evelynne comenta que não é comum encontrar felinos com leptospirose, mas pode ocorrer. “Anteriormente, os gatos eram tidos como refratários ou resistentes, contudo já há relatos de felinos positivos e com leptospiúria (eliminação da bactéria na urina). Devemos lembrar que há particularidades desta espécie que os permite não participar da epidemiologia para transmissão a outras espécies, uma vez que a bactéria é, normalmente, eliminada na urina e o gato é uma espécie que tem preocupação em enterrar suas fezes e urina. Isso colabora para a não exposição no ambiente”, declara.
Além disso, a veterinária diz que os felinos têm hábito predatório para ratos como natureza e, com isso, observa-se baixo índice de desenvolvimento da doença grave ou letal, por isso, se diz que os felinos são resistentes. “Os cães são bem sensíveis ao soroar icterohaemorrhagiae (adaptado aos ratos) e, com isso, a infecção acontece frequentemente devido ao contato com águas de esgotos e valetas”, indica.
Épocas de chuva
A veterinária revela que, na clínica de cães e gatos, os cães são os mais atendidos com leptospirose. “Os antibióticos como penicilinas estão entre os tratamentos recomendados, bem como estreptomicinas. Fluidoterapia também deve ser associada com terapêuticas de suporte. Além disso, há necessidade de exames laboratoriais para acompanhar os parâmetros marcadores de gravidade como ureia, creatinina, por exemplo”, frisa.
E a atenção deve ser redobrada em épocas de chuva, pois, segundo Evelynne, as leptospiras spp são bactérias que ficam dispersas em poças de água. “São bactérias espiraladas e giratórias, de modo que isso permite sua penetração na pele íntegra de pessoas ou animais em contato com a água”, adiciona.
Na visão da profissional, a melhor maneira de promover conscientização das pessoas quanto à leptospirose é falando sobre a prevenção da doença nos animais: “E isso se faz com a vacinação. Também é preciso promover educação ambiental permanente e sempre explicar os riscos de transmissão durante consultas”, aconselha.
Ainda sobre proteção, a veterinária afirma que a maneira mais adequada de prevenção para cães é a vacinação (polivalente). “Deve ser anual para cães que vivem em áreas de risco reduzido e a cada seis meses para cães que tenham mais contatos com áreas abertas, como chácaras, sítios e casas com jardim”, finaliza.